"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Ontem foi Rui Rio num espectáculo lastimável a fazer o papel de idiota útil do ex-camarada, agora líder de um albergue de fascistas e neo-nazis com o nome de partido; hoje é António Costa, feito chico-esperto, a querer tirar dividendos da triste figura feita pelo líder do PSD na véspera, sem perceber, e sem que ninguém no Partido Socialista o chame à razão, que está a alinhar e a cumprir a agenda marcada por Ventura que, por estas horas, deve estar morto de riso com a dupla de parolos que lhe saiu em rifa.
Até há bem pouco tempo um bate-boca Rui Rio vs André Ventura era só mais uma discussão à porta fechada no Conselho Nacional do partido sobre o RSI, a castração química ou o peso das penas a aplicar, perpétua incluída, e que na melhor das hipóteses teria honra de rodapé num telejornal nas televisões do militante n.º 1 - SIC e SIC Notícias, agora é um debate que extravasou os muros da Rua de São Caetano à Lapa para os ecrãs do prime time televisivo como cortina de fumo para a falta de ideias subjacente ao assalto ao que ainda resta do pote e à forma como cada actor se propõe a lá chegar.
Rui Rio, no palanque de Santa Maria da Feira, longos minutos a perorar sobre educação e professores, todas as desgraças e todos os males do mundo, mais parecia estar a desancar o ministro do Governo da troika, Nuno Crato, inchado de paixão pela educação, como dizem os 'amaricanos', since 2019:
Na abertura do picnicão do PSD na Vila da Feira, Rui Rio chama ao PS "partido do sistema", como se o PSD fosse underground ou indie alternativo. Assim vai o nível de alucinação na Rua de S. Caetano à Lapa.
Escreveu num dia e no outro sublinhou de viva voz. Como não apresentou proposta, uma ideia que seja, e oportunidades não lhe têm faltado, por forma a esclarecer como vai alterar/ acabar com as nomeações políticas para cargos de direcção, como por exemplo o de director da Polícia Judiciária, e com isso evitar eventuais suspeições na opinião pública, como a que ele próprio levanta, ficamos todos a subentender que, caso um dia chegue a primeiro-ministro, todas os por si nomeados o serão com o intuito de, em caso de necessidade, fazerem o jeitinho ao líder do governo, ao governo, ao partido a que pertence. Em política não há nada como a transparência.
Damos com Rui Rio nas televisões a descartar alianças com o Ilusão Liberal, não por motivos de posicionamento ideológico, na busca do "centro", como diz, mas porque "só vale meia dúzia de votos". Logo a seguir, e sem parágrafo, Ruyi Rio equaciona coligação com o CDS e com o... PPM. Como estes valem milhares de votos ou está a gozar com o pagode ou está a gozar com o pagode, das duas uma.
Quando o líder do maior partido da oposição se encarrega de amplificar a "propaganda" do Governo dando ele próprio a conhecer urbi et orbi a acção governativa. No PSD silly season é o ano todo
Rui Rio, alegado líder do PSD, num evento que contou com a participação de Paulo Portas, ex-líder do CDS, das escutas que metiam um banqueiro a pagar o salário ao líder, ex-ministro que meteu o BES à força no consórcio dos submarinos, e de Cavaco Silva, o tal, aquele que para serem mais honestos que ele têm de nascer duas vezes, e que antes tinhas inventado a clique do BPN e do BPP, quer saber como foi possível um caso como o do Joe Berardo. Estas merdas não se inventam.
Um partido pejado de fascistas assumidos, nazis e cabeças rapadas? Líder condenado por racismo? Insultos a uma deputada eleita da Nação? Mandar portugueses para a terra deles? Defender campos de concentração para minorias? Chamar bêbado a um deputado eleito e líder de um partido político com 100 anos de história? Condenação em tribunal por insultos a família pobre de um bairro semi-lata? Aliança com fascistas e xenófobos assumidos - Salvini e Le Pen? Castração química de pedófilos e mutilação de criminosos? Vice-presidente investigado pelas secretas e pela Judiciária por ameaça à democracia, divulgação de fake news e de teorias da conspiração?
O líder do PSD, Rui Rio, que não conhecia a cloaca aberta Suzana Garcia, na televisão do Goucha, quando pedia a castração química de pedófilos, para depois o PSD, de Rui Rio, na novilíngua, vir esclarecer que mais não era que" terapia medicamentosa de controle da libido", é o mesmo Rui Rio, líder do PSD, que na TVI viu "um bandalho" a agredir um cidadão e, horas depois, na mesma TVI, não ouvir o cano de esgoto Suzana Garcia pedir o extermínio do Bloco de Esquerda, para logo o partido vir esclarecer que o que a "senhora" queria dizer era uma "pesada derrota eleitoral".
Primeiro foi o Chicão, alegado líder do partido de Jacinto Leite Capelo Rego, do caso Portucale arquivado, das escutas que davam um banqueiro a pagar o salário do líder, dos submarinos sem corrompidos em Portugal pelos corruptores julgados e condenados na Alemanha, vir a terreiro que "o sistema judicial está doente".
Dias depois aparece o doutor Rui 'banho de ética' Rio, eleito chefe de facção pelo sindicato dos votos dirigido por Salvador Malheiro, do PSD desde o PPD a acumular casos até ao apogeu no cavaquismo, tantos que para referir tudo era preciso um blogue só dedicado à causa, clamar que "o regime está muito doente".
A lata. Quarenta e tal anos de construção de um monstro emaranhado jurídico, a meias entre PS e PSD com a prestimosa colaboração do CDS, com mais buracos de fuga que um queijo suíço e escapatórias para pesados que uma auto-estrada, chegando ao ponto da contagem de uma data ser passível de duas interpretações. "o sistema judicial está doente". "o regime está muito doente". Adoeceu sozinho. Ou então é tudo culpa do 'gonçalvismo', há muito tempo que ninguém fala nisso.
O partido que inventou André Ventura para um ensaio em Loures e se aliou ao Chaga para se alçar ao poder nos Açores, inventa agora Suzana Garcia para a Amadora e recupera Isaltino para o partido, no lugar de onde nunca saiu. A ter em conta a sabedoria popular quando lembra que "quem brinca com o fogo acaba queimado", "quem se deita com crianças acorda mijado", "que quem brinca com braseiras faz xixi na cama", o "processo de radicalização em curso", aconselhado pelo Ventas ao PSD, tem tudo para correr bem a Rui Rio: queimar-se e acordar mijado, não fosse de caminho queimar o partido e mijar o país.