"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
No fundo, bem lá no fundo, é apenas um pobre diabo, de fachada produzida mas oco e ignorante das regras da Democracia e do funcionamento do sistema político e constitucional, que responde às asneiras que faz com um Calimero "i don't do nothing…" até tornar a fazer uma e outra vez.
Depois de dois anos a governar com base num programa de Governo que não foi sufragado pelos eleitores e numa revisão constitucional, metida na gaveta por temer perder as eleições, e que não passou pelo crivo dos 2/3 no Parlamento; depois de um primeiro Orçamento do Estado chumbado pelo Tribunal Constitucional, reincide com um segundo Orçamento, e não se inibe de apontar o dedo à [ir]responsabilidade do Tribunal Constitucional.
Não, senhor primeiro-ministro, a irresponsabilidade aqui tem nome: o primeiro-ministro, o ministro das Finanças, o ministro dos Negócios Estrangeiro, o Governo, as bancadas parlamentares que o suportam. Em Democracia não vale tudo nem nada nem ninguém está acima da legalidade constitucional. E, se fosse, um homenzinho responsável, ao invés de andar por aí a passar culpas, calava-se, demitia-se, e ia a votos com o verdadeiro programa e com a revisão da Constituição na agenda.
€8 800 a dividir pelos 12 meses do ano, igual a €733 mais uns trocos por mês, por sua vez a dividir por 4 – casal mais 2 filhos, é uma das preocupações do Governo PSD/ CDS legitimada pelo relatório do almighty FMI, elaborado com as dicas do Governo PSD/ CDS. Como dizia Paulo Portas em campanha eleitoral, é "o elevador social".
Elogiar o sistema de freios e contrapesos da democracia norte-americana [é procurar os panegíricos na cache dos blogues de onde saíram os assessores e "especialistas" que infestam os ministérios da dupla Coelho-Portas] e criticar o Tribunal Constitucional e exigir a revisão da Constituição de modo a legitimar a governação fora da lei.
Montesquieu, John Locke, Benjamin Constant, rebolam-se a gargalhar na tumba.
Desfeito o mistério, os misteriosos "pareceres jurídicos aprofundados" revelaram que o Presidente que nos calhou em sorte tem dúvidas sobre se fez bem em optar pelas pensões que mal dão para sustentar uma esposa, professora universitária reformada ou se, antes pelo contrário, deveria ter optado pelo ordenado inerente ao cargo que desempenha e à instituição que representa.
O "superior interesse nacional" vai decidir se o Presidente que nos calhou em sorte opta pelo ordenado inerente ao cargo que desempenha e à instituição que representa ou, se pelo contrário, mantém as pensões que mal dão para sustentar uma esposa, professora universitária reformada.
Um país inteiro a caminho do 6.º ano do faz de conta que faz que é Presidente.