"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Pessoas defensoras de políticas económicas e sociais que ao ínfimo sopro geram uma legião de desempregados e sem-abrigo, partilham nas redes vídeo onde sem-abrigo fica sem os poucos pertences que tinha, apanhado que foi no meio de um protesto contra as políticas que as pessoas que partilham o vídeo defendem. Se calhar são todos de câmaras governadas por comunistas.
[Imagem "A person cleans off a wall after protestors spray-painted it a night earlier, during nationwide unrest following the death of George Floyd, near the White House, in Washington", Reuters/ Tom Brenner]
Os motins de Salisbury Place em 1391, de Bawdy House em 1668, de Spitalfield em 1769, os Old Price em 1809 e, mais recentemente, os motins de de Cable Street em 1936, de Notting Hill em 1958 ou de Red Lion Square em 1974, todos eles convocados com recurso ao BlackBerry, Twitter e Facebook.
Toca a apagar postas na bloga, apdeites no tuita e no feiçe buque no gugle mais, e a rasgar páginas de artigos de opinião nos jornais: também há brancos e loiros e ruivos nas pilhagens de Londres.
Só para os mais distraídos: at least desde os anos 50 do século passado que, volta e meia e pelas mais variadas razões, acontecem motins nos bairros de Londres e de outras cidades inglesas [façam-se jeitosos e pesquisem que para lições de História está aí o Abrupto na coluna dos links]. Faz parte da dinâmica. Do crescimento. Do choque. Cultural. Civilizacional. Da luta de classes. Do “elevador social” que nunca sai da subcave [à atenção de Paulo Portas]. E dessas coisas todas que é bonito dizer-se nestas alturas e que amanhã já ninguém se lembra.