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DER TERRORIST

"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.

A pescadinha de rabo-na-boca d' "o Costa"

por josé simões, em 16.07.07

 No apogeu do PREC, manifestações convocadas pelo PC e/ ou pela CGTP para Lisboa, desfilavam compactamente e durante horas entre a Fontes Pereira de Melo e a Praça do Comércio. Um grande amigo desde esses anos, apesar das diferenças ideológicas, militante da JS à época, com carreira feita no PS onde já vai em presidente de Junta, dizia-me em tom de gozo que eram sempre os mesmos. Chegados ao Terreiro do Paço, e segundo ele, enrolavam as bandeiras e as faixas, vinham pela Almirante Reis acima para entrar outra vez na cauda da manifestação. Eram na óptica do meu amigo, as manifs “pescadinha de rabo-na-boca”. Ainda assim não deixavam de ser grandes manifs.

 

Ontem lembrei-me desse meu amigo. Estavam José Sócrates e António Costa aos saltos a festejar a vitória para uma plateia dispersa no meio de umas árvores fronteiras ao Altis, quando o repórter se lembrou de perguntar às pessoas se tinham votado no Costa. Surpresa: Não! Eram do Alandroal, Cabeceiras de Basto, Famalicão e outros sítios que tais do Portugal dofim-do-mundo”. Tinham vindo passear a Lisboa em excursão paga pelo PS. A maioria nem sabia quem era “o Costa”!

 

Estava eu a fumar um cigarrito à janela, durante um dos intervalos na SIC Notícias, enquanto o Pacheco Pereira e o Jorge Coelho não voltavam, e passam na minha rua – em Setúbal – meia-dúzia de carros em buzinão, carregados de Jotas e de bandeiras, a festejar a vitória de António Costa. Em Setúbal. Capital do deserto. 50 kms a sul de Lisboa. Pensei para com os meus botões: “Talvez seja pessoal do Alandroal ou de Cabeceiras de Basto que se enganou no caminho para Lisboa…”

A festa da democracia (II)

por josé simões, em 05.07.07

Há muitos, mas mesmo muitos anos, que não participo em acções de protesto, manifestações, comícios, ou outras intervenções similares; a última de que me recordo foi a propósito de Timor. Agora que por eufemismo se denominam “Festas da Democracia” estou a ponderar participar numas quantas. É só uma questão de oportunidade até José Sócrates passar por Setúbal. Não que pense que isso leve a algum lado ou vá resolver alguma coisa. Não. Mas com a secreta esperança que o Comissário Político do PS em Setúbal, perdão, o Governador Civil de Setúbal siga o exemplo do seu congénere de Braga e mande instaurar processos aos manifestantes, perdão, aos foliões da “Festa”.

Carregar no curriculum, via cadastro, detenções e possíveis condenações por acções de protesto contra a deriva autoritária de um Governo, suportado por um partido que se reclama do socialismo, é honroso; quase como que uma medalha de mérito. De fazer inveja a muito bom militante da União dos Resistentes Antifascistas Portugueses, (URAP).

 

Adenda: 25 de Abril sempre, fascismo nunca mais! (a plenos pulmões).

 

A festa da democracia

por josé simões, em 04.07.07

No primeiro dia da presidência portuguesa da União Europeia, manifestantes em protesto acamparam à porta da festa. José Sócrates que se ia a escapulir por uma lateral, foi caçado pelos jornalistas que lhe perguntaram como encarava os protestos e os apupos. Com um enorme sorriso respondeu que sim, que está tudo bem, que vivemos numa sociedade aberta, e o coiso e tal; "É a festa da democracia". E lá foi à vidinha.

Depois de mais uma das muitas festas da democracia que se vão tornando regulares por esse país dentro, calhou a vez aos foliões de Braga de começarem a apanhar (com) as canas dos foguetes.

Um tiro no pé

por josé simões, em 02.11.06
Sabe-se de escolas em que as aulas de substituição funcionam. Também se sabe da resistência que alguns professores fizeram e fazem à aplicação da medida. Também é do conhecimento comum a revolta e o stress em que os professores vivem actualmente devido à revisão do seu estatuto.
Mas num País em que o insucesso escolar atinge os níveis conhecidos, pôr em causa uma das boas medidas adoptadas por esta Ministra, ao invés de tentar aproveitá-la ao máximo
Ultimamente tem-se assistido, onde quer que o primeiro-ministro ou algum membro do governo vá, logo se forma uma manifestação “espontânea” de protesto contra alguma medida tomada ou em vias de, pelo executivo.
 
Esta semana no entanto houve uma ligeira nuance.
Na deslocação da Ministra da Educação a Barcelos, a manifestação, ao contrário do que tinha acontecido até à data, não era dos sindicatos mas dos alunos. Protestavam contra as chamadas aulas de substituição. Centenas de alunos, nem um só professor.
 
Compreendo e até aceito que seja uma “seca” para um aluno que já não pode gozar o delicioso “feriado”, (por mim falo, não me esqueci dos meus tempos de estudante), mas a generalidade dos pais até está de acordo com as aulas de substituição. Sempre é preferível saber dos filhos dentro dos muros da escola, com o tempo utilmente ocupado.
 
E aqui é que a suspeita se levanta, sabendo-se como depois se soube que a manifestação havia sido convocada por telemóvel, via sms, com mensagens anónimas.
 
Comunicação social em peso, e na inocência do primeiro directo das suas vidas para os telejornais de todo o País, a ideia subjacente a todos os alunos entrevistados era que as aulas de substituição eram uma seca, não se fazia nada, ou então passava-se o tempo a jogar, e que era melhor ir para casa porque sempre se estudava alguma coisa, e etc. e tal.
 
Contra todas as expectativas dos organizadores da manif., (digo eu), a Ministra da Educação resolve receber uma delegação dos alunos para ouvir in loco as suas queixas. Coincidência ou não, no dia seguinte o Conselho Executivo da escola recebe os mesmos alunos, donde saem com a promessa que a situação iria ser alterada e corrigida.
 
, não me parece ser boa política, nem tão pouco me parece que os professores tenham ficado muito bem na fotografia.
 
Os alunos protestavam não contra as aulas em si, mas porque não se passava nada nas aulas, e não é com boicotes desta índole que os professores contribuem para o combate ao insucesso escolar de que são parte integrante, nem para o prestigio do seu estatuto e imagem na opinião publica.
 
Era capaz de arriscar que não vamos assistir a muitas mais manifs deste tipo.
Para quem convocou a manifestação é o que se chama ter dado um tiro no pé
 

Manifestações (parte II)

por josé simões, em 19.10.06

"Olho as manifestações com muita atenção.

Protesto contra um consenso que acha que as manifestações e as greves não têm de ser discutidas. Existe na sociedade portuguesa um consenso da direita para a esquerda, muito sólido, desde os liberais que se proclamam de direita ao PS, todos reunidos na ideia de que manifestações e greves, por mais gente que desfile na rua, não têm qualquer relevância. Este consenso é amplificado pelos comentários, mas é artificial, conjuntural, tem muito a ver com quem está ou não na moda.

É ridículo o tempo que a TV perde com 48 pessoas à porta do Rivoli no Porto, comparado com o dedicado a uma manifestação que, nas estimativas mais conservadoras, teve 70 mil pessoas.

(...) é pouco sadio, numa sociedade democrática, o desprezo por movimentos que estão a crescer, sem dar relevo à explicação do que os faz crescer. Não se pode ser indiferente aos protestos. (...)".

 

Quem assim fala é Pacheco Pereira.

No post de dia 13/ 10, se bem me recordo, escrevi:

Também interessante foi verificar a mudança de opinião de alguns analistas / comentadores da praça pública, quando nos anos 80 se verificavam manifestações de dimensão equivalente.

Que o governo tinha sido eleito democraticamente e devia ser imune às pressões de rua.

Mas nos anos 80 estava quem estava no governo, e o que era válido nos anos oitenta, não o é agora, enfim... (comentário meu).

Será o mesmo Pacheco Pereira que todos conhecemos? Aquele que foi deputado pelo PSD, na então maior maioria absoluta de sempre, aquele que foi líder do grupo parlamentar que sustentou os governos de Cavaco Silva?

Se tudo se resume a uma questão de moda como diz, Pacheco Pereira, já tem idade e experiencia de vida suficiente para saber que todas as modas são efémeras.

Mas, e nestas coisas há sempre um mas, não é tudo uma questão de modas. É muito mais do que isso; uma questão de quem faz a moda.

 

A memória do povo é curta, já o ouço dizer desde pequenino, mas na nossa memória acho que ainda vivem as imagens das cargas policiais a manifestações e a greves por dá cá aquela palha, useiras e vezeiras durante os governos de Cavaco Silva. Onde estava a relevância dos protestos e das greves na altura?

 

Cavaco Silva primeiro-ministro, ficou célebre pela forma como desprezava a oposição e os protestos de rua, nem se dignando a participar nos debates eleitorais com os outros líderes partidários.

 

A memória colectiva é curta. E a memória individual?

 

 

 

Manifestações

por josé simões, em 13.10.06

 Quinta-feira, 12 de Outubro, hora do telejornal.

Abertura do noticiário na RTP 1, manifestação convocada pela CGTP. Zapping rápido por todos os outros canais e a mesma abertura. Até no Jornal das 21 h , SIC Noticias, com o profissionalíssimo Mário Crespo.

Setenta a oitenta mil manifestantes segundo a polícia. Cem mil segundo a organização. Não é isso que importa.

Importa, isso sim, o que se lhe seguiu: Entrevistados de rua, o que inclui desde os próprios manifestantes até ao policia de transito de serviço, passando por quem ficou preso no caos rodoviário, ou quem aguardava o transporte público que nunca mais chegava, até aos comentadores do costume, com comissão de serviço nas estações.

Opinião unânime: O Governo, e mais especificamente José Sócrates, deviam ter em conta o aviso. O descontentamento cresce, e devia dar ouvidos ao povo, e tal e tal.

Até o insuspeito Diário de Noticias, alinhava hoje, pelo mesmo diapasão.

Também interessante foi verificar a mudança de opinião de alguns analistas / comentadores da praça pública, quando nos anos 80 se verificavam manifestações de dimensão equivalente.

Que o governo tinha sido eleito democraticamente e devia ser imune às pressões de rua.

Mas nos anos 80 estava quem estava no governo, e o que era válido nos anos oitenta, não o é agora, enfim... (comentário meu).

Sejamos realistas, desde que Margaret Tatcher colocou na "linha" o poderoso Sindicato dos Metalúrgicos ingleses, abriu um precedente, e nunca mais governo algum na Europa, deixou de tomar medidas, por mais impopulares que fossem, ou de governar devido às pressões de rua.

Vide o caso recente da Hungria.

Numas legislativas em que o conjunto de votos CDU / BE vale 13. 95%, (ao PSD e ao PP, por motivos óbvios não os incluo na manif . de ontem), em que os votos PS valem 45. 05% (e continua a subir nas sondagens e intenções de voto), em que existem 750 mil presumíveis descontentes da Função Pública; até que a manif . foi fraquita.

José Sócrates deve estar neste momento a dizer para com os seus botões: "E se não fosse para ganhar... Eu não me atirava assim!".