|| Paz e amor, brother
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«[…] foi o Tribunal Constitucional que desgraçou o país.»
[Imagem "New Religion Series" by Neil Krug]
João César das Neves sabe perfeitamente que, a quem passa privações, a quem tem a barriga vazia, sobra pouco, ou nenhum tempo, para pensar em coisas do etéreo, ter pensamento abstracto – o objectivo primeiro e único é tapar o buraco na barriga. Foi por isso que, entre outras, a Filosofia nasceu na Grécia – a população atingiu um determinado nível de bem-estar social que proporcionou uma liberdade política e de pensamento até aí inédita.
O que João César das Neves nos propõe é o mui cristão sofrimento na vida terrena para ganhar o Paraíso do leite e do mel, ao lado do Pai, numa vida depois da morte que ninguém conhece, adaptado aos tempos que correm, do sofrer para expiar a nossa culpa, por uma vida de luxúria e preguiça, para alcançar a recompensa dos mercados num futuro que ninguém sabe quando chega – a resignação e a obediência, nem que para isso tenha de manipular a realidade, trocando a ordem dos substantivos "caridade" [com maiúscula] e "solidariedade" na frase: «Reduzindo a Caridade a mera solidariedade e sem saber onde radicar a Esperança».
«Vivemos numa época que pensa poder viver sem colocar as perguntas fundamentais da existência» que são como vou arranjar dinheiro para pôr comida na mesa todos os dias, pagar as contas, educar os filhos, «embriagado num utilitarismo míope», que os liberais de João César das Neves nos fazem no [des]Governo da Nação. N'est-ce pas?
[Imagem "Road Kill", Sebastian E, 2009 ]
Circulava há tempos pelo tubo um vídeo que dava conta de um fulano a receber sucessivas visitas da vizinhança que lhe tocava à campainha em protesto por estar à noite em casa a ouvir música em altos berros mas, quando resolveu colocar, também em altos berros, uma gravação de uma discussão entre um casal, com a mulher a ser agredida pelo marido, as reclamações da vizinhança pararam. Entre marido e mulher ninguém mete a colher, são casados é lá com eles, e assim.
Da mesma forma que o comandante do exército norte-americano obrigou a população da cidade vizinha ao campo de concentração libertado durante a II Guerra Mundial a visitá-lo para ver com os próprios olhos a barbárie e a selvajaria de que haviam sido cúmplices.
Ou mais recentemente o impulso que a causa da independência de Timor ganhou depois das imagens do massacre do cemitério de Santa Cruz começarem a circular pelas televisões de todo o mundo.
E ainda mais atrás, o Tomé que veio depois a ser santo, teve de ver para crer, e não consta que tenha sido «lateralmente, [e] com a cara coberta».
Assim de repente lembrei-me disto tudo ao ler mais uma crónica onde um senhor, que na outra encarnação foi o burro do presépio, se mostra muito incomodado pela harmonia das coisas ter sido quebrada.
[Imagem de autor desconhecido]
Foi o João César das Neves quem, e sob pseudónimo, escreveu isto ou o João César das Neves estudou por aqui?
[*]
Nos idos de 1650 John Selden escreveu em “De synedriis et prefecturis juridicis veterum Ebraeorum” qualquer coisa como “os Turcos falam ao seu povo de um Paraíso onde existe Prazer sensível, mas de um Inferno cujas penas desconhecem. Os Cristãos invertem totalmente esta ordem; falam-nos de um Inferno onde sentiremos Dor sensível, mas de um Paraíso onde desfrutaremos algo que não conhecemos». Lembrei-me disto ao ler hoje uma descabelada estória de burros e cavalariças.
[*] E é provável que acabe a leccionar numa Universidade e a escrever crónicas num jornal nacional “de referência”.
[Imagem]
Conseguir falar em liderança durante o Renascimento e em reaccionarismo na maioria dos países europeus, sem referir uma única vez o obstáculo epistemológico religião/ igreja católica/ Inquisição e a perseguição aos grandes vultos da ciência e da cultura, mais a decapitação do poder económico e do investimento com a perseguição e expulsão dos judeus, que viriam a ter papel activo e determinante no desenvolvimento e crescimento dos países do norte da Europa, concorrentes directos de Portugal na expansão e exploração colonial. É obra!
(…)
(…)
(Imagem de Paolo Ventura)
Transformar um obstáculo epistemológico num motor de progresso e modernidade.
(Imagem)
Não explica tudo mas ajuda a perceber a(s) razão(ões) para que a Igreja católica tenha, até aos limites do possível, abafado todos os casos de pedofilia a envolver sacerdotes. Assim como assim vão ser julgados por Deus e vão direitinhos para o Inferno, e as vítimas que se aguentem porque «insondáveis são os Seus juízos e impenetráveis os Seus caminhos!»; não é?
«Se a morte terminasse na inconsciência, seria uma boa sorte para todos os malvados»
(Na imagem Mullah Nasrudin)
A teoria de que o casamento tem como objectivo a procriação...
Todos nós gostamos de ter uma família. Agora, como cada um constrói essa família e em que termos, isso é com cada um. (...).
É a favor da adopção por casais homossexuais?
A questão não pode ser colocada assim, estamos a enviesar tudo. Sou a favor da adopção por quem tiver as condições estabelecidas na lei para adoptar, e isso não tem nada a ver com a orientação sexual de cada um. A adopção tem a ver com ter condições ou não ter, do ponto de vista económico, de estabilidade, para proporcionar um desenvolvimento harmonioso às crianças.
(*) Título roubado ao Vasco Campilho
Adenda: Comparar com a visão matarruano-troglodita.
No meio de toda esta alucinação – terá o autor ido ao Lidl fazer o avio mensal? – a ideia de que hoje, «se um homem abandonar a família para fugir com a mulher de outro» deixa-me a matutar se a “mulher do outro” foi obrigada a fugir com o homem que deixou a família, se teria ela própria família, e no outro que ficou sem mulher…
É que quando “um homem” abandona «a família para fugir com a mulher de outro», a “mulher do outro” também abandona o “outro” e a família para fugir com “um homem” e é tudo feito de comum acordo, e então isto não é mais do que uma visão Bíblica e Vaticano-fundamentalista da Mulher como encarnação do Diabo e de todos os males do mundo.