"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Para os mais esquecidos, uma busca rápida no Google, ainda sem os links deletados, dá conta de que o desafio foi lançado por Cavaco Silva, apadrinhado por Paulo Portas, o que fazia primeiras páginas com Cavaco Silva n’ O Independente, e promovido por Filippe de Botton, ex-Compromisso Portugal a meias com António Carrapatoso e Rui Ramos [o fascismo não existiu, a PIDE era um agrupamento de escuteiros], antes de ser Mais Sociedade, por Joaquim Goes, um dos mentores do programa eleitoral da dupla Passos Coelho/ Miguel Relvas, ter falado mais do que o que devia e ter defendido o despedimento de 200 mil funcionários públicos, antes de ter recebido o Prémio Carreira 2014 da Universidade Católica, atribuído por um juri presidido por Manuela Ferreira Leite, como distinção pela sua carreira no Banco Espírito Santo [onde chegou a ser dado como sucessor de Ricardo Salgado] de Ricardo Salgado e de José Maria Ricciardi, os tais que, em conjunto com os restantes "braços da família", entraram com o carcanhol para a candidatura de Cavaco Silva à Presidência da República para suportar o Governo que manda os portugueses para a diáspora. Isto está tudo armadilhado.
E quando lá chegares mansa saudades que é coisa que cá não deixas: «[...] o Presidente da República desejou ao Conselho da Diáspora que "tudo corra bem na viagem de regresso"»
E um milhão de euros dos submarinos para cada ramo da família Espírito Santo e mais 15 milhões para os "outros tipos" e uma parte que teve de ser entregue a "alguém". Tudo contas de somar e "boas notícias para Paulo Portas", diziam os jornais há dias. "Estamos rodeados de aldrabões", anos e anos a viver acima das suas possibilidades.
É só uma questão de tempo até a tirada de Himmler "A luta anti-semita é só uma luta contra parasitas. Livrar-se dos piolhos não é uma questão ideológica. É simplesmente uma questão de limpeza" ser recuperada, devidamente actualizada para incluir os "pretos" ou os "árabes" [o alvo de eleição da Frente] ou tudo o que der jeito e couber dentro da ideologia do mal. Para já começa assim: "no escolarizar a sus hijos, no pagarles el médico, ni darles ayudas sociales", lanzando "una señal que diga que no tenemos nada que ofrecerles".
O soldado disciplinado diz que espera que a «economia crie oportunidades para regresso de emigrantes» e, como a coligação, não se cansam nunca de o repetir, está forte e coesa, que regressem mais-valia para Portugal, «mais qualificados e experientes», nas palavras do seu camarada de caserna, o secretário de Estado da Inovação, Investimento e Competitividade.
Assim como o Moscatel de Setúbal, o Torna Viagem, que foi de nau para o Brasil bom e regressou a Portugal bombeiro, que é para lá de bom em setubalense falado, e inacessível para a maioria das bolsas, se é que me faço compreender, agora em linguagem de mercado laboral e pagamento de salários a quadros mais-valia e bombeiros.
Aqui para nós, que ninguém nos ouve, regressar regressam, já velhos e cansados, sem forças, nem vontade, nem Vinho dos Mortos para desenterrar, tal a intensidade do blitzkrieg de 3 anos de invasão "napoleónica" com "soldados disciplinados" nas suas fileiras, e a pensar nos filhos e nos netos que deixaram em "terras de França".
O "milagre económico" da propaganda governamental, argumentum ad nauseam na comunicação social do pensamento único pelos avençados de serviço, desmonta-se com os números.
Desde os idos da Dona Lúcia na Cova de Iria que não se assistia a um "milagre" destas dimensões, com as empresas a regressar em força ao mercado e ao investimento e a optarem por contratar os mais velhos e os de mais baixas qualificações.
Por outro lado o número de desempregados aumentou 6,7% em relação ao mês homólogo de 2012 mas baixou em relação a Novembro de 2013 mas, como o "número total de desempregados em stock diminuiu", estamos perante outros "milagres" não menos importantes, o "milagre" da emigração, o "milagre" da desistência de procurar emprego, e o "milagre" dos cursos de formação e requalificação remunerados.
Feliz a utilização do termo "stock" porque é disso mesmo que se trata, um stock em carteira, aliado à alteração da legislação laboral em favor da rigidez patronal, como forma de pressão sobre os que ainda têm trabalho.
Não explicou como é que as causas que potenciam a saída da geração de elevado potencial ou de grande valor acrescentado de Portugal para o estrangeiro vão ser ignoradas pelos imigrantes, "de elevado potencial ou de grande valor acrescentado", que se pretende captar ou, na mesma linha de raciocínio, vão esses potenciais imigrantes optar por Portugal e não por outro qualquer país, da opção dos portugueses de elevado potencial ou de grande valor acrescentado. Se calhar recorrendo à "fórmula fisico-química", na moda, da "mobilidade social", explicada a anjinhos...
E muitos são nossos, formados com o dinheiro do contribuinte, naquele que foi o maior investimento de que há memória, feito pelo Estado, na educação e formação dos cidadãos.
Vão ser embaixadores da boa imagem de Portugal, diz o vazio que ocupa a cadeira na Presidência da República. Vão ganhar experiência e know-how fora da zona de conforto, diz o primeiro-administrador-delegado da Alemanha para Portugal. E enviar remessas para os bancos, contam ambos com isso. E há o pormenor de uma moeda única mal desenhada e mal construída, mas isso agora também não interessa nada.
Trabalhar vinte e quatro dias consecutivos, sem folgar, até cerca de dez horas por dia, pagando menos de metade do acordado e menos do que o salário mínimo em vigor, em Espanha, França, Alemanha, Holanda, e Inglaterra não, que é trabalho escravo. Diz o Governo da criação de emprego a 300 euros por mês, 8 dias por semana, feriados incluídos, sem subsídio de alimentação e de transporte, apalavrado e sem contrato de trabalho, com muita muita muita sorte a cargo de empresas de trabalho temporário, e que aconselhou os cidadãos a emigrar. Sobre quantas famílias dividem uma mesma casa para economizar na renda e de quantos em quantos dias tomam banho, não há registos.