"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O fabuloso governo de Pedro Passos Coelho, do não há dinheiro para nada, nem para a saúde, pública, nem para a educação, pública; do "fazer mais com menos", do "aliviar o peso do Estado na economia"; da "liberdade de escolha" das famílias, traduzida na liberdade de escolha das escolas; da excelência do privado, traduzida na retirada de competências ao Estado para as entregar ao sector privado, subsidiadas pelo Estado; da duplicação de serviços pelos privados, subsidiados pelo Estado em áreas onde o Estado já existia; da "gordura do Estado" traduzida no emagrecimento do rendimento mensal das famílias para ainda assim "baixar os custos do trabalho foi a reforma que ficou por fazer".
"Ex-ministro da Educação vai depor a favor dos colégios contra os cortes nos contratos de associação na batalha judicial que se avizinha. Aos tribunais podem chegar “dezenas de acções” nos próximos dias."
"Foi uma derrota em toda a linha a sofrida pelos colégios com contratos de associação na guerra jurídica que, em 2016, desencadearam contra o Ministério da Educação (ME): 55 processos judiciais concluídos, 55 decisões favoráveis às posições do ME que levaram a restrições no financiamento do Estado àqueles estabelecimentos de ensino particular."
"A falta de professores nas escolas públicas está a ser uma oportunidade aproveitada por docentes dos colégios, especialmente da zona da Grande Lisboa, que optam por continuar a carreira no sistema público."
Os minions do Ventas do Chaga, mais alguns desiludidos do CDS à espera do descalabro eleitoral do Chicão para se assumirem de vez, que enxameiam o Facebook com teorias da conspiração, a maçonaria e o esquerdismo que querem dominar o mundo, o "marxismo cultural", upgrade do "bolchevismo mundial" e do "judaísmo internacional" na Alemanha dos anos 30 do séc. XX, e que agora começam a mudar-se de armas e bagagens para a coisa mais parecida que há com o hospício de Twelve Monkeys, o Parler, também conhecido por Fachobook, a pretexto da censura e da liberdade de expressão, saudosos do 24 de Abril, da lei e da ordem, cada macaco no seu galho, manda quem pode e obedece quem deve, o respeitinho é muito bonito, hordas de imbecis com "no tempo do Salazar é que era bom" mas que quando lhes tentam cortar o discurso do ódio, do racismo e xenofobia, desatam aos berros que "não senhor, não pode ser", que "querem que voltemos aos tempos do Salazar", que o Facebook é o Foiceburka, constantemente a linkarem artigos de opinião escritos no hospital de Voando Sobre um Ninho de Cucos ou na roda dos alucinados na prisão do Expresso da Meia Noite, onde Brad Davis foi andar em contra-mão e por isso expulso e apodado de comunista, publicados no Observador, o online da direita dita culta e inteligente, que não ousa pensar em privado o que a eles lhes é permitido dizerem em público e em voz alta, a tropa de choque que propicia na rua o ambiente para o Estado securitário e para o terrorismo de Estado quando a direita dita democrática chega ao poder, argumentam, uns e outros, com a liberdade de escolha e a objecção de consciência para as faltas dadas, e consequente chumbo de ano, na disciplina de Cidadania e Desenvolvimento - o quadro de honra vem à colação só para desviar atenções. Voltando ao início, os minions do Ventas do Chaga mais os Chicões desiludidos e órfãos, saudosos do Salazar e da Joaninha no Livro da 3.ª Classe contra a doutrinação pelo Estado e pelo "bolchevismo mundial" e o "judaísmo internacional" marxismo-cultural. E isto não é para rir, é que estes alucinados começam a sair da abstenção e a votar.
Começa amanhã mais um ano lectivo e mais um ano em que nenhum Governo, ne-nhum Go-ver-no, se deu ao trabalho de arranjar uma solução para as mochilas Sífiso que todos os dias milhares de crianças e adolescentes carregam a caminho da escola.
Rui Rio, o dos timings que ele próprio marca, aquele que só reage quando acha que deve reagir, que não fala quando as televisões acham que deve falar e que que quando as televisões acham que deve falar fala em alemão, o que fica no Porto para responder dias depois a Lisboa; Rui Rio aparece na hora, qual Procissão Cristas de antes das eleições europeias, a surfar a onda histérica do trogloditismo cavernoso da direita radical que lhe tomou o partido por dentro nos idos de Passos Coelho e Miguel Relvas, agora chefiada por Miguel Morgado no "cinco para as sete"; Rui Rio a fingir que não leu o excelente trabalho de João Francisco Gomes no órgão oficial da direita radical, "Polémica sobre a identidade de género nas escolas. Afinal, o que diz a lei e o que pensam pais e directores?", subitamente remetido para os cus de Judas no online; o estranho caso de Rui Rio, o das posições "progressistas" no caso da interrupção voluntária da gravidez e do casamento entre pessoas do mesmo sexo; Rui Rio o desamarrado do poder e que não responde perante clientela nenhuma...
Nas declarações do novo ministro da Educação do Brasil à revista Valor Econômico os mesmo princípios e a mesma argumentação usada pela direita radical com Nuno Crato na Educação: os chumbos a eito e a urgência em desviar alunos, ainda que precocemente, para o ensino profissional e para o mercado de trabalho, deixando a universidade à elite como nos idos de Salazar e Caetano. Nunca tiveram foi a coragem para o dizer com todas as letras.
Diz o constitucionalista que, por serem três regimes diferentes consoante as regiões do país: um na Madeira, outro nos Açores e um terceiro no continente, não haver dúvidas sobre a inconstitucionalidade do regime de reposição salarial dos professores ou, como resumiu Marques Mendes na avença semanal, não pode haver professores de primeira e professores de segunda. E portugueses de primeira e de segunda, pode? Portugueses que nunca verão reposta a sua vida suspensa ou desfeita desde os anos de José Sócrates primeiro-ministro até aos anos do fim do Governo da troika, pode? Portugueses de todos os sectores da economia vs. portugueses da administração pública, pode? Portugueses que vão continuar a pagar do esforço do seu trabalho, via impostos, até ao próximo descalabro onde invariavelmente verão a vida outra vez suspensa e desfeita, pode? E recomeçar tudo outra vez, as reclamações e os protestos dos injustiçados da sociedade, todos lhes devem, incluindo as badges no peito com o número de anos, meses e dias em dívida, pode?
Se a remodelação abafou o Orçamento do Estado e o Orçamento do Estado já tinha abafado a demissão do ministro e a se amanhã há mais e a generalidade dos analistas e comentadores é unânime na avaliação a Marta Temido como a tentativa de acalmar a contestação e encontrar soluções, a manutenção de Tiago Brandão Rodrigues na Educação significa que a confrontação com a Fenprof é para levar até ao dia das eleições quando, pela primeira vez, começa a ser visível a hostilidade dos transeuntes no passeio, manifestada verbalmente às manifs dos profs que passam na avenida e que começam a perder a opinião pública?
[Imagem "Joseph Beuys, Portrait of the artist" by Robert Lebeck 1978]
"Quase 97% dos docentes não abdicam do tempo total de serviço, segundo o referendo da Fenprof". E vamos repetir com os bancários, com os empregados de mesa, com os estivadores, com os motoristas, com os canalizadores, com os desempregados, com os empurrados para fora do país, com os ______________ [preencher a gosto e consoante a necessidade], com todos os que viram a vida congelada durante o período da troika e que já não a recuperam nunca mais.
Com as calças do meu pai também sou um homem, que é como quem diz, com o dinheiro do Estado, para fazer o que o Estado já faz com o dinheiro dos impostos, mais barato, com mais qualidade, sem a trafulhice das notas marteladas para as médias e para os rankings, também sou um empresário, de sucesso, criador de emprego e riqueza e o coise.
Andámos anos a ouvir a direita no poder, e às vezes também o PS, a acusar a Fenprof, os sindicatos, os professores, o comissário Mário Nogueira, a mando da CGTP, a mando do PCP, de irresponsabilidade pela marcação de greves por alturas das provas de avaliação e exames. Hoje ouvimos todos a direita na oposição, pela boca de Assunção Cristas do CDS, no debate quinzenal no Parlamento acusar o ministro da Educação de irresponsabilidade por, com a sua intransigência em não ceder às reivindicações dos sindicatos, pôr em causa a avaliação dos alunos no final do ano lectivo. E isto é a chamada espinha dorsal de plasticina.