"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Agora que a campanha eleitoral já lá vai e que o pagode já pôs a cruzinha no quadradinho, notícias do "milagre económico" [*]:
«Um país a crescer pouco, onde o número de pessoas tende a encolher, mas com demasiados desempregados. O novo Governo vai herdar uma economia mais pequena do quem 2011, mas com mais dívida pública.»
Excluindo a acentuada baixa de salários e consequente perda do poder de compra, a precariedade e a perda de direitos e garantias, com a cumplicidade dos homenzinhos responsáveis da UGT, e uma vez que a teoria do "fizemos uma alteração estrutural da economia portuguesa" teima em ser desmentida pela realidade, Pedro Passos Coelho ensaiou, perante o aplauso da assistência, nas jornadas parlamentares PSD/ CDS-PP de Alcochete, um novo mito urbano, o de se a economia portuguesa é por natureza propensa ao consumo [que é como quem diz "o que é que querem que faça? só se os puser a todos a pão e água"] como é que ainda há quem defenda um incentivo ao consumo como estímulo para o crescimento? Aqui está o novo mito urbano, o do diz que disse da reforma estrutural da economia.
E acham que a economia cresce se retirarmos dinheiro às pessoas e o dermos ao patrão e/ ou accionistas por via da desvalorização do trabalho e consequente aumento da mais-valia sem que haja retorno para a economia, investimento reprodutivo?
O affair Artur Baptista da Silva, primeiro, e a obsessão-repescagem, depois, dizem mais, muito mais, sobre a economia, os economistas, e a direita do economês-sem-mestre [pode ser mesmo por esta ordem] do que sobre o Artur Baptista da Silva ele próprio.
Ou a arte de dizer uma coisa, fazer o seu contrário e ainda ser aplaudido de pé no final:
«Passos Coelho afirmou que hoje é bem visível que a economia "estava aprisionada por grupos económicos que eram incentivados pelo Estado a aplicar os seus recursos em obras públicas que não eram sustentáveis", lamentando que muitos recursos, nacionais e europeus, tenham sido colocados ao serviço "dessa economia protegida" e não das pequenas empresas que tinham emprego e riqueza para criar.