"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Carlos Silva, o depois de autorizado por Ricardo Salgado, secretário-geral da UGT, propôs a António Costa, secretário-geral do Partido Socialista, o nome de João Proença, ex-secretário-geral da UGT e ex-assinante de coisas e ex-terminator do sindicalismo e da contratação colectiva em Portugal, para presidir ao Conselho Económico e Social. Diz que António Costa, secretário-geral do Partido Socialista, achou a ideia interessante.
E, no dia a seguir à assinatura do aumento do salário mínimo nacional, temporário, só até haver eleições legislativas e os partidos da maioria poderem usar a bandeira na campanha eleitoral, já que a imagem de um secretário-geral da UGT capaz de consensos e de ganhos de poder de compra para os mais miseráveis da sociedade, apoiante de António José Seguro, parece não ter passado em favor do dito cujo candidato nas primárias do PS, não houve paineleiro-comentadeiro do pensamento único nem cão nem gato que não fizesse primeira página nem abertura de telejornal com a última hora de que a «CGTP só assinou quatro acordos em 30 anos de concertação social» sem perceberem que, e olhando para trás e para o deve e haver, isto são medalhas e comendas para a CGTP. O PCP agradece.
Negociado e assinado à socapa pela UGT, na pessoa do secretário-geral Carlos Silva, o homenzinho, crescidinho, do sindicalismo responsável e com "sentido de Estado", o aumento miserável do salário mínimo nacional em €20 mensais é temporário, só vale até 31 de Dezembro de 2015, acaba depois das eleições legislativas e das fotografias de Carlos Silva, secretário-geral da UGT, ao lado de Pedro Passos Coelho, Paulo Portas e Pedro Mota Soares. Pior que ser correia de transmissão é ser idiota útil e carregar toda a vida na consciência, se a tiver, o peso da destruição do sindicalismo, da contratação colectiva e da descapitalização da Segurança Social.
Meter o dinheiro do contribuinte a pagar o aumento do salário mínimo nacional às empresas enquanto continua a descapitalização da Segurança Social, que é preciso reformar e o coise e tal, com a bênção de uma associação de sabujos e sem representatividade no mundo laboral e a que se deu o nome de central sindical.
João Proença, ex-secretário-geral da UGT, da UGT da assinatura do Código do Trabalho, no Secretariado Nacional de António José Seguro, de António José Seguro do apoio do PS à "reforma do IRC", de António José Seguro apoiado por Carlos Silva, secretário-geral da UGT, da UGT em negociação com o Governo para o fim da contratação colectiva.
João Proença que ainda antes de sair se mostrou muuuuuito indignado por o Governo não cumprir o assinado com a UGT e até ameaçou denunciar o acordo. Aguardemos.
Carlos Silva que está muuuuuito preocupado com a criação de emprego mas, como é homenzinho responsável e prenhe de "sentido de Estado", vai dar o aval da UGT à liquidação da contratação colectiva, esse entrave que impede os patrões de criar emprego e de contratar ao desbarato. Ao desbarato e a preços justos e regalias sociais inimagináveis para o comum dos portugueses, habituados que estão a viver em regime de exploração socialista desde 1974.
Só [ainda] não sabemos se Carlos Silva depois de pedir autorização a Ricardo Salgado para avançar para a liderança da UGT repetiu a façanha antes de apoiar António José Seguro nas primárias do Partido Socialista.
Numa coisa o líder da UGT, Carlos Silva, tem razão: cedências atrás de cedências traduzidas em diminuições do salário real e do tempo de descanso, aumentos das mais-valias para os patrões e accionistas sem retorno para a economia real, perdas de direitos e garantias dos trabalhadores sempre em favor da rigidez patronal, é um sucesso… para os patrões.
Até à data o papel da UGT tem sido o de passar uma imagem de credibilidade e seriedade a decisões tomadas em sede de concertação social e de onde saem como se de negociações se tratassem, evitando com isso às organizações patronais a 'maçadoria' de negociarem entre si e entre si e o Governo.
Da UGT de Torres Couto, cálice de Porto na mão, ombro com ombro com Cavaco Silva, brinde à concertação social, para a UGT de João Proença, das revisões dos códigos do trabalho, em nome dos amanhãs que cantam e do sol brilhará para todos os trabalhadores, traduzidos em cada vez mais rigidez patronal, abandonando o cargo, com uma vaga ameaça de denuncia do acordo caso a maioria Passos-Portas não cumprisse o assinado, para o Secretariado Nacional de António José Seguro, até à UGT de Carlos Silva que, antes de ocupar o lugar, pede autorização ao patrão Ricardo Espírito Santo Salgado e, até ver, muto elogiado por Paulo Portas e tudo o que é ministro do CDS. Nascemos todos ontem e precisamos de explicações sobre o que é a CGTP, nascemos todos ontem e não sabemos o que é a UGT. Um canibal a falar:
Uma demonstração muito bem demonstrada e uma prova muito bem provada, com o impacto muito bem impactado e a dinamização muito bem dinamizada, como aquando do novo Código do Trabalho e da concertação social assinada pelo então secretário-geral João Proença:
«reafirmou a disponibilidade da central sindical em negociar um acordo onde se preveja o aumento imediato do salário mínimo para os 500 euros e outras matérias laborais»
Mas só depois das eleições, que a UGT não se deixa instrumentalizar, e na silly season, que o pessoal já está espairecido a banhos. Ora vamos lá brincar com as palavras me com o que resta dos direitos dos trabalhadores.
Com ou sem consenso entre patrões e sindicatos, para o caso com; com ou sem consenso na competitividade das empresas e do país assente nos baixos salários; com ou sem eleições à vista, o que é certo é que Passos Coelho já disse "estar disponível para negociar o salário mínimo nacional", leram e ouviram bem, negociar. Assim como é certo o secretário-geral da UGT, Carlos Silva, ter ameaçado, tenham medo, muito medo dito que "não haverá nada assinado pela UGT sem mexer no salário mínimo nacional". E aqui é que a porca torce o rabo, e aqui é que reside um dos dramas dos trabalhadores portugueses. Passos Coelho está disponível para negociar e Carlos Silva está disponível para assinar… desde que o salário mínimo nacional seja mexido. E a história, since 28 de Outubro de 1978, não ajuda nada nem dá esperança alguma, sempre a favor da rigidez patronal. Mas parece que "os outros" são correias de transmissão e isso. Deve ser por serem mais velhos, agora usa-se tracção directa.
E a saga continua, com a UGT a fazer-se de início muito esquisita e a rejeitar, para a seguir se fazer de responsável e de sentido de Estado e assinar, sem ganhos substantivos, para depois vir protestar que as outras partes faltam à palavra dada e não cumprem a sua parte no acordo assinado. Dizem que é uma negociação. Negociação, aquilo que o vice-trampolineiro Paulo define como um acordo em que ambas as partes ficam a ganhar. E andamos há mais de 30 anos nisto.
Ver o secretário-geral da UGT, Carlos Silva, a fazer de porteiro, perdão, a esperar e cumprimentar o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, na porta da concertação social, só comparável ao presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, Carlos Magno, também de porteiro, a oferecer cartões de consumo mínimo por conta da casa, perdão, a elogiar a gravata de Miguel Relvas antes da audição que o ilibou de pressões ilícitas sobre o jornal Público e de devassa da vida privada da jornalista Maria José Oliveira. Sim, patrão. Sim, sô tôr. Sim, senhor primeiro-ministro. Com certeza.