"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A manif devia ter tido início na Assembleia da República e final no Espírito Santo omnipresente e omnipotente em todos os sectores da sociedade portuguesa edifício do Banco Espírito Santo na Avenida da Liberdade, e aí permanecido até hoje ou até ao dia da apresentação do Orçamento do Estado no Parlamento, como parece ser a intenção dos organizadores.
Duas horas antes de apontar o caminho da Grécia a todos os portugueses o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, recebe na residência oficial o presidente do BES, Ricardo Salgado, e toda a gente acha uma coisa absolutamente normal e natural.
«Dois terços da ajuda anticrise foram parar ao sector bancário», que por sua vez empresta a juros que todos sabemos, saídos fresquinhos da silva da crise que provocaram, com a cumplicidade das agências de rating que não a quiseram souberam prever, e que agora baixam a notação dos países por risco de incumprimento e por ausência de crescimento.
Lembram-se daquele comercial a uma marca de gelados nos anos 70 do século passado? “Olá, Olá. E a vida sorri”
O crime compensa e o erário público é um poço sem fundo, excepto para as prestações sociais e para o subsídio de desemprego e para a educação e para a saúde e para a cultura e para... Assim de repente lembrei-me de Artur Virgílio Alves Reis, um aprendiz.
Parece que a República faz este ano 100 anos.
(Na imagem fotograma do filme Jungle Street, Charles Saunders, 1961)
Vejamos a coisa pelo lado positivo. As defesas oficiosas que antes eram feitas pelos advogados estagiários sem um mínimo de experiência – daí a celeridade dos julgamentos e a grande percentagem de condenações –, e que foram abolidas pelo actual bastonário Marinho Pinto, continuam a sê-lo na prática, uma vez não ser de todo plausível um advogado de renome intervir num processo de milhões para receber honorários que podem não chegar a € 500.
Portanto, é dar ao “pobrezinho” cidadão a sua defesa oficiosa. Pode ser que por uma vez na história de Portugal se assista a um julgamento que não se arraste ad eternum nos tribunais, enredado em teias processuais e recursos por dá cá aquela palha, e todos previstos em códigos de processo penal, para no final toda a gente ir à sua vidinha muito satisfeita e condenações nem vê-las.