"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
E que define o carácter e a formação moral e intelectual do personagem: "[Dominique Strauss-Kahn] deixou-se apanhar". Não vinha daí grande mal ao mundo não se desse o caso de ser o excelentíssimo senhor, e usando um termo agora em voga e muito caro à elite laranja, um "não-ministro" responsável pela pasta das privatizações. Parei de ler aqui.
E serviço público de televisão era, de cada vez que nos debates televisivos interviesse um paineleiro, passasse em rodapé o curriculum vitae do ilustre. Por exemplo, no Prós e Contras desta segunda-feira, falava António Borges e apareciam ali as letrinhas a correr devagarinho da direita para a esquerda:
Vice-Governador do Banco de Portugal, ex-Vice-Presidente do Conselho de Administração da Goldman Sachs, ex-Administração do Citibank, ex-BNP Paribas, ex-Petrogal, ex-Sonae, ex-Cimpor e ex-Vista Alegre, ex-qualquer coisa no FMI, actual conselho de administração da Jerónimo Martins e ministro do Governo PSD-CDS/PP para as privatizações.
Falava depois Vítor Bento e novamente o rodapé deslizante:
Conselheiro de Estado, director do Departamento de Estrangeiro do Banco de Portugal, ex-presidente do Conselho de Administração da SIBS, administrador da Galp.
E assim sucessivamente.
E desta forma o cidadão mais distraído destas coisas do debate da Economia ficava a perceber melhor o que é que querem dizer quando lhe falam em baixar salários e em cortar reformas e pensões.
O professor, que foi nado, criado, e educado no tempo da "situação" e por "situacionistas", cresceu a ouvir a máxima salazarenta "o calado vai longe". O problema, o único problema, é o falar, é o que se diz, tudo o resto, tudo o que António Borges representa, tudo o que está por detrás da nomeação de António Borges, não interessa nada, não vale a pena estar a apoquentar os telespectadores com minudências.
Nota: no original são as vírgulas para ganhar fôlego, não constam os "e", que dão ênfase e sublinham, e que são da minha autoria. [Obrigado Cormac McCarthy].
Já de Cavaco Silva, ex-primeiro-ministro e actual Presidente da República de-todos-os-portugueses, que não se coíbe de, directamente ou por interposto assessor, tomar descaradamente o partido do maior Partido da posição, que por acaso é o de António Borges, nem uma só palavrinha, mesmo que numa frase sem verbo. Talvez uma situação que nos enriquece a todos...
Como dizia Vasco Santana naquele célebre diálogo com o candeeiro no Patio das Cantigas: Compreendi-te!
Uma menina laranjinha brincava ao “enviar sms” com o telemóvel . Em cima da secretária, o portátil estava na página dos The Hives. António Borges discursava “pró boneco”. Provavelmente a banda sonora era Walk Idiot Walk.