"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Quando era teen, aí por alturas do PREC, ia pela calada da noite, mais a restante maralha, fanar bandeiras às sedes dos partidos. Os alvos preferidos eram as do PSD e as do MRPP e, quando não eram fanadas, eram trocadas – hastear as “laranjas” nos “vermelhos” e os “vermelhos” nas “laranjas”, sem sequer sonharmos que pouco tempo depois seriam “dois em um na unidade do Espírito Santo”.
Disse-me uma vez o meu pai ao ver a minha invulgar colecção, e desconfiando da minha dedicação à causa vexilológica: “Havias de ser apanhado e levar umas valentes sarrafadas no lombo que era para ver se aprendias a ser homenzinho”. Era disso que se tratava: criancice.
Insuspeito, eu que nunca nos dias da minha vida de cidadão eleitor votei em Cavaco Silva; insuspeito, eu que a maior parte das vezes depois de ler o 31 da Armada só me apetece sei lá o quê; faço minhas as palavras de Nuno Miguel Guedes.
(Sinceramente que começo a ficar farto; vai-me faltando a paciência para os Talibans, agora a Ocidente)
E agora com licença, que vou até à praia comemorar o dia, e o mais certo é ficar estendido na toalha ao lado de algum descendente de imigrantes dos PALOP, que nem por isso deixa de ser "da raça".
Conversa de quem nunca teve de trabalhar 12 e 14 horas por dia e em troca só receber o pagamento de 8. Conversa de quem sempre teve fim-de-semana de dois dias, e nunca de um dia só, que podia ou não ser ao domingo. Conversa de quem nunca teve só 8 dias de férias por ano, e não pagas. Conversa de quem nunca esteve dependente da boa-vontade do patrão para receber umas broas no Natal, e não o 13.º mês. Conversa de quem nunca ganhou 700 escudos por mês com uma renda de casa de 450 escudos para pagar, mais água, luz, alimentação e dois filhos para criar. Conversa de quem os filhos, para ir à escola, nunca tiveram de fazer 9 quilómetros a pé, ida e volta, todos os dias, todos os meses, todos os anos, fizesse sol ou chuva, porque o bilhete de autocaro custava 12 tostões, o que era o preço de um pão. Conversa de quem ficou muito admirado com a selvajaria que foi o comportamento do povo assim que viu a luz da liberdade (se nós até os tratávamos bem!?). Conversa de ressabiado com o 25 de Abril, 33 anos passados sobre a data. Conversa de merda.
na defesa dos direitos de quase todos os trabalhadores
Um professor é suspenso no âmbito de um processo "político" e o que fazem os sindicatos? Uma vigília? Uma greve? Um protesto à porta da direcção regional de educação? Uma bombástica conferência de imprensa? Um comunicadozinho? Alguma coisa? Nada!
Ele há bons professores e ele há outros que não são do partido.