"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O que estes senhores estão a dizer aos pais e encarregados de educação que, durante os anos desgraçados do "ajustamento", desde os idos do 2.o Governo de José Sócrates até aos últimos dias do Governo PSD/ CDS/ Troika, viram as vidas e as carreiras suspensas, conheceram o desemprego, os salários em atraso, a emigração, que perderam apoios sociais na exacta proporção em que eram taxados, impostados e sofriam reduções salariais substantivas, enquanto mantinham os filhos na escola e pagavam explicações, por fora e sem recibo, aos mesmos professores que na escola não lhes chega o tempo nem têm jeito para ensinar e se lastimam em posts no Facebook, em directo da praia e no horário de trabalho, do martírio que é a vida e a carreira docente, e que passados estes 4A 9M 2D que sofreram na pele, como na badge na lapela do Comissário Nogueira e não são exclusivo dos stôres mas uma realidade de todo o sector privado, se calhar com um 6, um 7 ou um 8 antes do A, e que começam agora a ver a sua vida recomeçar onde tinha ficado, o que nos estão a dizer é que afinal a desgraça ainda não acabou porque há uns senhores que, do alto do Olímpio onde se colocam, se acham acima dos sacrifícios passados por todos os portugueses e se sentem no direito de continuar a vidinha que tinham como se nada se tivesse passado, nem troika, nem ajustamento, nem princípio de banca rota, nem nada, o que para os outros foi vida perdida para eles foi apenas um stanby, e prometer e ameaçar um ano desgraçado aos filhos dos contribuintes que lhes pagam o salário.
Diz o constitucionalista que, por serem três regimes diferentes consoante as regiões do país: um na Madeira, outro nos Açores e um terceiro no continente, não haver dúvidas sobre a inconstitucionalidade do regime de reposição salarial dos professores ou, como resumiu Marques Mendes na avença semanal, não pode haver professores de primeira e professores de segunda. E portugueses de primeira e de segunda, pode? Portugueses que nunca verão reposta a sua vida suspensa ou desfeita desde os anos de José Sócrates primeiro-ministro até aos anos do fim do Governo da troika, pode? Portugueses de todos os sectores da economia vs. portugueses da administração pública, pode? Portugueses que vão continuar a pagar do esforço do seu trabalho, via impostos, até ao próximo descalabro onde invariavelmente verão a vida outra vez suspensa e desfeita, pode? E recomeçar tudo outra vez, as reclamações e os protestos dos injustiçados da sociedade, todos lhes devem, incluindo as badges no peito com o número de anos, meses e dias em dívida, pode?
Enquanto esperamos todos o Presidente, comentador e explicador, explicar e comentar por que cargas de água é que os portugueses, todos, que desde os idos de Sócras até ao fim dos anos da troika e do Governo da direita radical viram as carreiras congeladas e que depois disso não progridem só porque sim, que conheceram o desemprego e a emigração, que tiveram salários em atraso, apoios sociais cortados e sobretaxas em cima do pouco que recebiam, enquanto aguentavam os filhos na escola e na universidade e pagavam por fora explicações, sem recibo para o IRS, aos professores, tadinhos, que trabalham 25 horas por dia que ser professor não é ir só uma mão de horas à escola nem estar ao dia útil e em horário de trabalho na praia a postar fotos no Facebook do quão bom está o mar, vão ter eles de pagar os 9A 4M e 2D na badge ao peito do comissário Nogueira enquanto a vida deles retoma agora como se nada se tivesse passado, como se o hiato não tivesse existido, Rui Rio e Mário Nogueira, a mesma luta, vão explicar como é que a solução boa é a das ilhas, uma vez o dinheiro vai daqui, de "Cuba", para as ilhas, com os resultados que se conhecem que não é por Alberto soba Jardim se ter ido embora que a coisa mudou de figura, de onde é que vem o dinheiro para aqui para aguentar a solução ilhéu.
A direita radical, de Cavaco Silva que não lia jornais, indignada porque a ministra da Cultura não lê jornais de visita ao México.
A direita radical, de Passos Coelho e da falta de professores, mão-de-obra qualificada, no Brasil e em Angola; a direita radical, de Passos Coelho e dos corte de 600 milhões de euros de Maria Luís Albuquerque, efectivos em Bruxelas, temporários em Portugal, vota no Parlamento o regresso do Governo à mesa de negociações com os sindicatos para a recuperação do tempo perdido na carreira dos professores.
Ainda não há muito tempo isto era a "reversão das reformas estruturais".
Ver o senhor Silva da UGT, que assinou de cruz concertações sociais, sempre em prol da rigidez patronal, a mando do senhor Saraiva da CIP com o beneplácito e o amém da direita radical PSD/ CDS, invocar a "esquerda" e um "Governo de esquerda" e "um Governo PS" para surfar a onda reivindicativa dos professores.
"Quase 97% dos docentes não abdicam do tempo total de serviço, segundo o referendo da Fenprof". E vamos repetir com os bancários, com os empregados de mesa, com os estivadores, com os motoristas, com os canalizadores, com os desempregados, com os empurrados para fora do país, com os ______________ [preencher a gosto e consoante a necessidade], com todos os que viram a vida congelada durante o período da troika e que já não a recuperam nunca mais.
Não disse que a incompetência do ministro, aliada ao fanatismo ideológico, custaram ao erário público, que é como quem diz aos bolsos dos contribuintes, 50 mil euros, sem contabilizar os prejuízos causados aos alunos, com reflexos no rendimento e aproveitamento escolar, às famílias e aos professores, a juntar à instabilidade familiar e aos desarranjos vários. Recolheu a língua de palmo e meio da "meritocracia" e da "competência" que tinha sempre de fora e bem esticada nos programas de televisão onde era paineleiro-comentadeiro. Diz que «o Governo pagou um "preço político" elevado pelas falhas na chamada Bolsa de Contratação de Escola», não sabemos, só o saberemos lá para finais de Setembro princípios de Outubro, joga com a cumplicidade do Presidente de facção e com a fraca memória na política e nos políticos. Ele, responsável máximo, não pagou. Continua em funções como se nada de especial tivesse acontecido, fez auto-crítica como nos idos do maoísmo e não se fala mais nisso.
E nunca mais ninguém se lembra da "incorrecta transcrição de um algoritmo matemático" na não colocação dos profs, nos transtornos nas suas vidas, nas vidas das suas famílias, no rendimento e aproveitamento escolar dos alunos, nos transtornos na vida dos alunos e na vida das famílias deles.
"20 erros ortográficos numa frase" só se for numa daquelas frases, tipo José Saramago, sem vírgulas e do tamanho de duas páginas e meia dum livro.
É dado por todos aceite que, como acontece com outras profissões – médicos, pedreiros, engenheiros, motoristas, arquitectos, mecânicos, etc. , etc. , não cabe ao Estado assegurar o pleno emprego aos professores ou, dito de outra maneira, ser professor não pode, nem deve, ser sinónimo de emprego no Estado até ao dia da reforma. Daí até à falta de escrúpulos e à cobardia política dos fundamentalistas ideológicos do Estado mínimo e subconcessionado a entidades e empresas privadas, da deslealdade para com milhares de professores com anos de carreira docente por parte de quem administra temporariamente o Estado, escondido atrás de uma “prova de avaliação docente”... vai um bocado assim, tamanho de um país que não votou neste programa político.
Fosse numa empresa, privada, e era despedido sem apelo nem agravo nem indemnização ou, em última instância, ficava a trabalhar, com uma parte do salário cativada mensalmente pela entidade empregadora, até que todos os lesados fossem ressarcidos dos prejuízos e depois era despedido sem apelo nem agravo nem indemnização. Como é no Estado, que os liberais de pacotilha querem gerir e administrar com se de uma empresa, privada, se tratasse, não só não é despedido como o Governo que integra ainda nomeia uma comissão para estudar como é que o dinheiro dos contribuintes vai ser usado para pagar aos contribuintes a incompetência, a falta de rigor e de profissionalismo e a cegueira ideológica de um ministro. Como se já não bastasse o prejuízo causado aos alunos e às famílias. É prejuízo vezes dois
O puto, Escola Secundária de Bocage, tinha prof de Geografia. Depois o camarada Crato enfrentou o problema, pegou o touro de caras e não de cernelha, não «sacudiu a àgua do pacote» [a partir do minuo 00:50] e o prof foi para a Bela Vista e o puto agora tem feriado. Parabéns pois aos da Secundária da Bela Vista, e a Pedro Passos Coelho por não se enganar nas escolhas que faz para ministros.
A maior rebaldaria na educação de que há memória desde os idos do PREC é «"grande sentido de responsabilidade" demonstrado pelo ministro da Educação, "ao querer assumir e corrigir" o problema, em vez de "sacudir a água do capote"».
Regista-se a hombridade de um incompetente em querer resolver um problema que inventou para um sítio onde ele não existia.