"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O ministro Miguel Macedo, habituado que está a ver Clint Eastwood, com 80 anos, a perseguir e dar caça à bandidagem, pensou para com os seus botões, "se ele aguenta eles também aguentam. Ai aguentam, aguentam" e, vai daí, decide aumentar a idade com que os profissionais da PSP e GNR podem passar à reserva ou pré-aposentação dos 55 para 57 ou 58 anos.
Paulo Portas, que já não anda a passear Correios da Manha [não, não há engano, é mesmo sem til] debaixo do braço pelas feiras e mercados, fica-se perante o descalabro que se adivinha na manutenção da ordem pública e no combate à criminalidade.
"Lamento que não tenha sido possível da parte do senhor ministro da Administração Interna uma declaração mais esclarecedora quanto à intervenção do Governo", disse.
O ministro Miguel Macedo que, mais rápido que a própria sombra, apareceu nas televisões a comentar as imagens, devidamente encomendadas e trabalhadas, da carga policial, recebeu ontem o relatório do processo de averiguações aos incidentes e, estoicamente, conteve-se a aparecer triunfante nas aberturas dos telejornais, para estar amanhã no Parlamento e a pedido.
Se pedirmos, educadamente, talvez comente o relatório à actuação provocatória dos infiltrados da polícia na escadaria da Assembleia da República, e as agressões, da parte de polícias à paisana, a cidadãos na Calçada da Estrela durante a greve geral de Novembro.
Diz que a China Three Gorges vai montar uma câmara de vídeo vigilância em cada candeeiro de rua e assim poupar trabalho, e dinheiro, ao ministro Miguel Macedo.
Nos idos de François 'Papa Doc' Duvalier no Haiti, e depois com o filho e herdeiro, Jean-Claude 'Baby Doc' Duvalier, a polícia [só] recebia uma farda, uma pistola e um cassetete. O resto era lá com eles.
Já não vou pelo sururu que esta gentinha fez por causa da deputada que tinha residência oficial em Paris. Era legal, mas não era moral, diziam. Se calhar a legalidade e a moralidade é contabilizada até ao limite máximo €1400, em low cost. Limito-me a recordar a campanha que esta gentinha [e a gentinha do cê dê esse camarada-de-coligação] fizeram durante a campanha eleitoral, por haver quem prefira continuar a receber o subsídio de desemprego em vez de aceitar um trabalho, muitos quilómetros fora da área de residência, “só” porque o patrão não paga subsídio de transporte e subsídio de residência.
Esta gentinha argumenta com a legalidade num caso de moral. E religião.
O ministro determina que o director nacional peça ao super-sindicato à Ordem que investigue o que os super-sindicatos sindicatos já investigaram. No meio disto tudo só nós é que pagamos bilhete quando queremos ir à bola... Life goes on, que é como quem diz, tratar da vidinha.
Aquele senhor, Rui Pereira de sua graça, sempre lesto a marcar presença em frente dos microfones e das câmaras das televisões, seja por causa de meia dúzia de badamecos apanhados a assaltar uma estação de serviço, seja por causa de um C 130 com ajuda humanitária para o Haiti, ultimamente anda muito arredado, diria mesmo desaparecido.
Se há coisa que nunca percebi, foi a razão para que em todos os cafés e restaurantes haja sempre um Correio da Manhã em cima do balcão, gentilmente dispensado pela gerência, para usufruto e consulta pelos clientes.
“Oh sôr fulano, tem aí o Correio da Manhã?” perguntava ao balcão a meu lado, um cliente do café onde costumo ir de manhã. “Levou uma senhora lá para fora pá esplanada…” respondeu o empregado. “Oh que chatice!” pensava eu para com os meus botões. Como é que há alguém que consegue ler um jornal que, há excepção de algumas poucas colunas de opinião, tem no mínimo 20 páginas com crimes, assaltos e assassinatos? As outras são com futebol e mais um suplemento com anúncios de “convívio”; leia-se prostitutas.
Chego agora à conclusão que eu é que andava ao contrário do resto da maralha.
De repente vejo o país transformado num enorme Correio da Manhã. A página um fica ali na A2; a página 2 fica em Loures. E por aí fora.
O papel de director está entregue a um senhor de nome Rui Pereira. Compila as notícias e manda publicar.