"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Não digo o patriotismo que podiam interpretar como uma indirecta para a máxima de Samuel Johnson e corria o risco de levar com um processo em cima, mas o sentido de Estado do ex-primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e da ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, palpita-me que ainda vamos ficar a saber que também o ex-vice-primeiro-ministro Paulo Portas afinou pelo mesmo diapasão, preocupados com a execução orçamental do Governo 'Geringonço', com os sacrifícios dos portugueses e com a imagem de Portugal nos mercados [a ordem é arbitrária]. "Se descontarmos uma medida que não foi tomada por nós [o Banif] tivemos um défice de 3%". Se descontarmos que 10 dos 12 meses do ano foram da sua [deles] responsabilidade; se descontarmos quem é que escondeu o Banif debaixo do tapete do Banco de Portugal para maquilhar as contas e não estragar a narrativa da saída limpa e do relógio de Aljubarrota em marcha à ré no Largo do Caldas; se descontarmos quem é que depois se escondeu atrás do biombo do Governador do Banco de Portugal, como já se tinha escondido com o BES; se descontarmos isto tudo e ainda se descontarmos a comunicação social câmara de eco que vai repetir, subserviente, a lengalenga ad nauseam; se descontarmos os paineleiros-comentadeiros do pensamento único dominante, nas televisões a tecerem loas e a cantarem hossanas à atitude responsável e desprovida de calculismos eleitorais; se descontarmos até merece um elogio o voluntarismo e uma medalha no 10 de Junho e o nome numa praça ou numa avenida quando a história os julgar.
E é assim que, por via da austeridade muito bem explicadinha, tim-tim por tim-tim aos portugueses, como defendia Marcelo, O Comentador, nas conversas em família nas noites de domingo, e Marques Mendes em menor escala [não é piada à estatura física do senhor mas às audiências que o respectivo programa tinha], que é como quem dizia massivas doses de agit-prop do pensamento único dominante, e o que ainda continua com a televisão do militante n.º 1 à cabeça que, com mais Banif menos Banif, mais dias feriados repostos menos dias feriados repostos, mais salário mínimo aumentado menos salário mínimo aumentado, mais reposição da sobretaxa de IRS menos reposição da sobretaxa de IRS, os senhores continuam, ainda continuam com 35% das intenções de voto.
«a solução permitiria "recuperar totalmente a ajuda concedida pelo Estado ou pelo menos remunerá-la adequadamente", numa referência aos 825 milhões de euros que o Tesouro tinha injectado no Banif»
Pedro Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque escondidos atrás de Carlos Costa do Banco de Portugal no caso BES, Pedro Passos Coelho escondido atrás de Maria Luís Albuquerque escondida atrás de Carlos Costa do Banco de Portugal no caso BANIF, Paulo Portas o profissional da invisibilidade quando há gaivotas em terra. É o padrão mentira e cobardia.
Adenda: tem razão Maria Luís Albuquerque quando diz que "há um problema de supervisão" pelos sucessivos problemas que têm surgido na banca portuguesa. Só que não é desde a nacionalização do BPN em 2008, é desde a privatização do BES em 1991.
Não só esconderam dos contribuintes a verdadeira dimensão do problema, com a cumplicidade da Comissão Europeia e por mútuo interesse, adiando uma solução para ontem de modo a apresentarem uma saída limpa do programa de assistência, como depois, surfando a onda da tal da saída limpa, mentiram aos eleitores em campanha eleitoral com quantos dentes tinham na boca ao mesmo tempo que, por fanatismo ideológico do "privatizar até a puta que os pariu", atiravam lama para cima do banco do Estado, para cuja administração e zelo do regular bom-funcionamento tinham sido eleitos pelo voto popular.
Metade de 12 mil milhões de euros da troika para a reestruturação do sistema bancário e financeiro, um dos pontos do memorando de entendimento, mandados de volta para a casa de partida por falta de uso pelo Governo da saída "êxito-limpo" e bancos escondidos debaixo do tapete, para não atrapalhar a limpeza da propaganda em campanha eleitoral, que o eleitor é cego por natureza e o bolso do contribuinte um poço sem fundo, por natureza também. E se já nem nas ditaduras sanguinárias africanas amigas para negócios amigos se pode confiar para salvar bancos – o BANIF, salvou-se António Costa vírgula primeiro-ministro vírgula corajoso vírgula a dar a cara por um problema que herdou e a não se esconder atrás do delegado do ministério das Finanças que o Governo PSD/ CDS tinha como Governador no Banco de Portugal [que teima em não colocar o lugar à disposição do novo Governo democraticamente suportado por uma maioria de deputados eleitos em eleições livres e democráticas], como fez o seu antecessor Pedro Passos Coelho vírgula primeiro-pantomineiro vírgula cobarde vírgula, agora confortavelmente refastelado na cadeira de deputado como se não fosse nada com ele. Ele, o seu ex-vice vírgula pantomineiro e a sua ex-ministra das Finanças vírgula expert em contratos swap, todos na sombra da garantia da estabilidade do sistema, exigida com cara de pau pelo pai do povo de direita - Cavaco, O Avisador, a António Costa.
Obviamente que a sapiência de Cavaco Silva, O Avisador, não tem nada a ver com isto, com eleições legislativas desde o início do Verão até quase ao Natal:
Portugal não é a Grécia, país onde o partido Nova Democracia, no poder, maquilhou as contas do Estado para esconder o prejuízo do BPN, o banco da Nova Democracia, e fazer malabarices com o défice.