"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
"Eu não tenho nada a ver com política, o meu discurso foi virado para Portugal" e já está mais que na hora de "adaptar a nossa Constituição aos tempos de hoje, que são completamente diferentes dos tempos de 1976 ou lá quando é que isso foi feito", a Constituição que me permitiu ser um dos mais ricos da Europa a pagar salários mínimos para cargas horárias máximas, e um dos mais poderosos de Portugal e ganhar Grã-Cruzes e Comendas e Ordens de Mérito, desde 1976 ou lá quando é que isso foi feito.
Portugal seria um lugar muito mais… errr… habitável e a Europa teria uma identidade muito mais forte se fosse construída à imagem da China. Não fosse essa coisa dos sindicatos e dos cidadãos reivindicarem e de se recusarem a aceitar o seu destino de sofrimento nesta vida, como vem na Bíblia, e tudo seria perfeito. O trabalhador trabalhava, que é como quem diz o colaborador colaborava e o patrão mandava, que é como quem diz, o empresário pensava, e assim, de mãos dadas, all together now e alegria no trabalho, criávamos riqueza e se nos portássemos bem sempre caíam umas migalhas.
[*] E fazem tanto barulho que nem deixam a outra pessoa concentrar-se e escrever um livro para quem lhe paga.
E depois há aquilo que parece ser um programa à parte mas que no fundo é o script original que serve de base a todas estas remakes. Ser o verdadeiro herdeiro, ou o detentor da herança, e enganar milhões a negociar coisas verdadeiras. Ser o verdadeiro herdeiro, ou o detentor da herança, e enganar milhares pelos baixos salários pagos para as funções desempenhadas, duplamente baixos em função dos horários de trabalho praticados, triplamente baixos se incluirmos na equação o factor família.
A parte activa que responde pelo genérico de "empresários e futebolistas" é dado como certo que não chegue a aquecer o banco dos réus. E o stock de medalhas a ver a luz do dia no Dia da Raça é grande.
[Imagem "Royal Ascot in 1914, the Honourable Mrs Dillon (right) and her companions attend the races", PA Archive]
«uma das áreas fundamentais de apoio será a formação em gestão do orçamento familiar, para garantir que os funcionários aprendem a gerir os seus rendimentos». Como é que se gere um ordenado a rondar os €600 mensais?
«violência doméstica, risco de abandono escolar dos menores a seu cargo». Como é que se gere uma família quando os pais têm horários de trabalho efectivos de 10 ou mais horas diárias [e não recebem mais por isso]?
É um comercial da treta, grande como uma telenovela TVI, e com uma música de fazer perder a paciência a um santo. Agora como golpe publicitário é excelente: colocar a partir de agora um país inteirinho a falar na cadeia de supermercados e a olhar voluntariamente para a televisão à procura do “tal anúncio” é obra. É sim senhor.