"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
As culturas e as relações culturais não são compartimentos estanques. A cultura europeia deu origem à cultura norte-americana que regressou, mais enriquecida, ao "velho continente" com a II Guerra Mundial.
O problema dos franceses é outro, chama-se língua. Uma língua que, cada vez mais, só eles falam. Daí o proteccionismo. Daí o querer arrastar a Europa numa causa comum. Protecção para ver franceses a fazer filmes em francês iguaizinhos aos que os americanos, ingleses, espanhóis e brasileiros fazem nas respectivas línguas, protecção para ouvir franceses a fazer música cantada em francês igualzinha à que os americanos, ingleses, espanhóis e brasileiros fazem nas respectivas línguas.
Depois de dezenas de anos de estagnação PAC, Política Agrícola Comum, a PCC, Política Cultural Comum, com o último C a disfarçar um F de França.
A França que, no pós II Guerra Mundial, e ao contrário dos outros aliados, tentou repetir o guião de dos anos que se seguiram à I Guerra Mundial, exigindo, entre outras, o desmantelamento económico da Alemanha; o pagamento de indemnizações de guerra, incluindo o trabalho obrigatório de alemães em solo francês; a requisição e a retirada de produtos agrícolas, madeira e carvão do solo alemão; o confisco de maquinaria; a separação da região do Ruhr, do Sarre, e algumas áreas da Renânia, do Estado alemão e os seus recursos e produção colocados ao serviço e disposição da França; é desse Charles de Gaulle que, se tem conseguido impor a sua visão para a Europa e Alemanha, a Europa e a Alemanha tal e qual elas são nunca teriam existido, nunca teria vivido o maior período de paz e prosperidade de que há memória, é disto que que Angela Merkel fala?
É grave, muito grave, e só demonstra a falta de bases, de cultura, e de visão de quem a Alemanha, e a Europa, têm à frente dos seus destinos neste desgraçado inicio do séc. XXI ou, se formos muuuuuito maquiavélicos, dos reais objectivos por detrás da política da austeridade "purificadora" dos hunos, ou ainda, a versão bondosa, de que a frau era pequenina, não percebeu e, como diz o povo, em pequenino não conta. Qualquer das três hipóteses é trágica.
Mais do que uma simbólica assumpção da culpa, em nome dos franceses de que é presidente eleito - isso já havia sido feito por Jacques Chirac em 1995, o discurso de François Hollande deve ser visto como um exorcizar de fantasmas pelos socialistas franceses, na pessoa do ex-líder e ex-presidente, colaboracionista de Vichy, François Mitterrand.
Olhando para a História, para a história da França, para a história da Europa, e para a história da França, na Europa e no mundo, desde o tempo de Napoleão, também não era preciso pôr-se em bicos dos pés…
Logo após os assassinatos na escola judaica de Toulouse, quando o atirador era um elemento qualquer, de um qualquer grupelho de extrema-direita, a fazer tiro ao boneco em pretos e muçulmanos – soldados de França, e judeus – crianças, os grandes derrotados da eleições presidenciais que se aproximam iam ser Marine Le Pen e o Presidente Sarkozy, este último pela radicalização do discurso xenófobo anti-emigrante com o azimute [do árabe as-sumut] apontado ao precioso eleitorado da neo-fascista Frente Nacional.
Quando o atirador foi identificado como um fundamentalista islâmico, com passagem pelo Afeganistão e pelos campos de treino da al-Qaeda, o derrotado nas presidenciais francesas passou, enquanto o Diabo esfrega um olho, a ser o candidato dos socialistas franceses, François Hollande, aos olhos do eleitorado sem argumentos para contrariar os factos que parecem vir confirmar o discurso Le Pen/ Sarkozy.