"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Quase duas décadas passadas o ídolo da direita radical e ilusionista liberal do tugão repete o mantra que os apóstolos lusitos escreviam nos blogues - Blasfémias, O Insurgente, 31 da Armada, replicado do Tea Party de Ron Paul, Sarah Palin, Michele Bachmann, que elegiam, ambos, os de lá e os de cá, Al Gore como alvo preferencial, "desconstruído" pelo humor reaccionário do The People's Cube, e que serviria para abrir caminho à MAGA de Donald Trump e inspirar a réplica imbecil em terras de Vera Cruz :
Ayuso dice que la lucha contra el cambio climático favorece el comunismo y que la izquierda va "contra la evidencia científica"
António Costa e o Partido Socialista governaram como a direita queria:
não se pôs um travão ao aumento das rendas de casa por ser um ataque ao investimento privado na recuperação dos imóveis urbanos, depois de décadas ao abandono e à degradação, nem nas outras rendas, as das energéticas e das PPP rodoviárias, por exemplo, que o Estado tem de honrar os compromissos e não pode dizer que agora afinal não senhor, acabou-se a mama;
não se taxaram as empresas com maiores lucros, nem com lucros conjunturais devido à pandemia ou à invasão russa da Ucrânia, que isto não é a União Soviética, nem o socialismo, nem tampouco a Venezuela, e ainda corríamos o risco de deslocalizarem para a Taprobana onde o mercado é mais liberalizado e amigo do investimento;
teve um arremedo de baixa de imposto sobre combustíveis, rapidamente absorvido pela margem de lucro das gasolineiras, e depressa deixou de ser uma vitória do Ilusão Liberal reclamada em cartaz na rotunda, para cair no esquecimento ou do "mais vale estar calado que fazer figura de urso" a reivindicar coisas que até um puto da primária percebe o logro;
deu 60 paus de ajuda alimentar a cada família carenciada enquanto os espanhóis se esticaram até aos 200, mas também não é por aí, que dar dinheiro vivo a calaceiros e manhosos é incentivo à chulice de quem não quer trabalhar e fazer pela vida, como defende a direita, e se têm fomeca está cá o Banco Alimentar e o voluntário Marcelo, que até sai mais barato ao Estado que sai do bolso e do bom coração dos compatriotas que recusam a lei da selva do direito do mais forte à sobrevivência, princípio ético e moral do liberalismo;
e o pasquim que passou 5 anos a acusar o PS de governar a toque de caixa dos parceiros da esquerda geringonça, a apontar os males que isso trazia, trouxe ao país, e com reflexos nas décadas vindouras, agora chora porque afinal os socialistas não governaram como os comunas e os esquerdalhos queriam que governasse.
A Judiciaria já fazia uma investigação, com um daqueles nomes pomposos, imagem de marca, que costumam abrir telejornais, tipo "Operação Papel para Forrar o Balde do Lixo", sobre como é que jornais que não vendem, i e Sol, por exemplo, estão sempre nas bancas e no online ao minuto.
"Agenda Espanha": Os fascistas foram a Espanha dobrar a espinha a fazer vénias a um partido que tem na agenda não escrita uma Ibéria una sob a égide de Castela e com capital em Madrid. Dizem-se patriotas, os traidores.
Só quem já fez a travessia de barco Ceuta - Algeciras a circular livremente na fila de embarque reservada a cidadãos da União Europeia enquanto vai observando na fila ao lado os marroquinos que são tratados abaixo de cão pela Guardia Civil, encostados à parede, cassetete no pescoço, papéis observados à lupa, inquéritos minuciosos, implicações aleatórias só porque não se gosta da cara, é que percebe.
Só quem já fez de carro Perpignan - Málaga no primeiro dia de Agosto a ultrapassar uma caravana ininterrupta de milhares de carros comprados em 4.ª ou 5.ª mão aos franceses pelos marroquinos em migração de férias, com as viaturas apinhadas de família, mais os móveis e electrodomésticos que se levam para a terra em todo o espaço livre e numa construção em altura a desafiar a lei da gravidade, encimada pelo pneu sobresselente porque até esse espaço é necessário para armazenar os brindes do sucesso do seu trabalho em França que se levam aos parentes, é que percebe.
Só quem já viu as dezenas, arrisco centenas, da migração no primeiro dia de férias dos 40 e poucos graus de Agosto, parados na beira duma estrada espanhola porque o motor dos carros comprados no limite do abate deu o berro, à espera da assistência em viagem que nunca vai chegar porque é um marroquino ou porque o seguro não cobre e mesmo que cubra nunca vai aparecer porque é um marroquino, é que percebe.
Só quem já esteve numa área de serviço da Sierra Nevada numa fila com mais de 50 marroquinos à frente para pagar combustível e, sem dizer nada nem reclamar, vê o espanhol abrir uma caixa registadora, fazer sinal, passar à frente de toda a gente, pagar e a caixa fechar logo de seguida porque é uma caixa especial para europeus, inventou ele naquele momento condoído pela minha espera, é que percebe.
É a diferença entre ser português do sul e marroquino, na hierarquia de entre ser europeu do sul e europeu do norte da Europa, e por muita piada que tenham as piadas do regionalismo-futeboleiro.
Teachers teach classes to a students of the Felix Rodriguez de la Fuente school, as part of a project known as 'Aire Limpio' (Fresh Air) at the Playa de los Nietos (The Grandchildren's Beach), which aims to use better air quality for children during the coronavirus disease (COVID-19) pandemic, near Cartagena.