"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A teoria de que o casamento tem como objectivo a procriação...
Todos nós gostamos de ter uma família. Agora, como cada um constrói essa família e em que termos, isso é com cada um. (...).
É a favor da adopção por casais homossexuais?
A questão não pode ser colocada assim, estamos a enviesar tudo. Sou a favor da adopção por quem tiver as condições estabelecidas na lei para adoptar, e isso não tem nada a ver com a orientação sexual de cada um. A adopção tem a ver com ter condições ou não ter, do ponto de vista económico, de estabilidade, para proporcionar um desenvolvimento harmonioso às crianças.
Se a Igreja Católica estivesse realmente preocupada com a família e com a procriação e com o fim dos tempos como consequência do fim da raça humana, há já muito que o celibato tinha sido irradiado e o direito do seus sacerdotes a constituírem família como pessoas normais – dentro do padrão de normalidade do Vaticano – reconhecido. Sempre eram mais uns quantos a contribuir oficialmente par o bolo. Oficialmente, porque ainda hoje há aqueles padres que têm lá em casa uma governanta e os filhos dela ou uma prima afastada e os filhos dela.
O senador John McCain foi forçado a emitir um comunicado a esclarecer a sua posição sobre o casamento gay depois de a sua esposa Cindy e a sua filha Megan terem posado para cartazes duma campanha na Califórnia a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Num ponto a Igreja católica tem razão: «a iniciativa das noivas de Santo António tem sido desvirtuada nos últimos anos»; já não é organizada pelo jornal Diário Popular, já não é Presidente do Conselho António de Oliveira Salazar, já não é Cardeal Patriarca Dom Manuel Gonçalves Cerejeira e o «Deus, Pátria, Família» e «Devo à Providência a graça de ser pobre» é apenas (má) memória. Agora vir anunciar a retirada da iniciativa, no day-after à aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo, invocando mau estar entre os católicos e desvirtuamento da iniciativa, por incluir casamentos civis e até de pessoas de outras religiões…
Escrito pelo advogado de defesa e guardião da memória de Salazar que, entre outras, ilegalizou os partidos políticos, instituiu a polícia política e a censura; onde as mulheres necessitavam da autorização e da assinatura do marido para tudo e mais alguma coisa, os mortos votavam e os militares e polícias votavam de cruz e às escuras no partido único; isto é para levar a sério?
Acreditando que os deputados não vão “virar as costas” ao seu eleitorado, deixemos de lado o fait-divers e passemos à acção e a coisas bem mais importantes:
No meio de toda esta alucinação – terá o autor ido ao Lidl fazer o avio mensal? – a ideia de que hoje, «se um homem abandonar a família para fugir com a mulher de outro» deixa-me a matutar se a “mulher do outro” foi obrigada a fugir com o homem que deixou a família, se teria ela própria família, e no outro que ficou sem mulher…
É que quando “um homem” abandona «a família para fugir com a mulher de outro», a “mulher do outro” também abandona o “outro” e a família para fugir com “um homem” e é tudo feito de comum acordo, e então isto não é mais do que uma visão Bíblica e Vaticano-fundamentalista da Mulher como encarnação do Diabo e de todos os males do mundo.