"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Para alguns liberais de pacotilha o princípio do despesismo e da má gestão dos dinheiros públicos nas empresas públicas só se aplica na capital e zonas envolventes, dito de outra forma, o liberalismo acaba de Ílhavo para cima, para o caso, nas zonas de jurisdição das Associações de Futebol de Aveiro, Porto e Braga. O que os liberais de pacotilha nos deviam esclarecer era se, em caso de privatização, a empresa assegura a manutenção de um serviço com um prejuízo mensal de € 19.600. Aresposta é por todos conhecida: sim, desde que financiado pelo Estado.
Nos anos de ouro do “triunvirato Pintista” (Adriano, Lourenço & da Costa), quando a Federação Portuguesa de Futebol era joguete nas mãos das Associações Distritais de Aveiro, Porto e Braga por via do poder de voto adquirido na base de quantos mais clubes nos principais escalões do pontapé na bola, mais votos nas assembleias-gerais, e que foi a “base de trabalho” dos sucessivos alargamentos de divisão, de forma a que por cada clube da zona Norte que descesse – ou por cada clube da zona Sul que subisse – de divisão, pudessem entrar dois satélites do FC Porto, assim se construindo a tão propalada “hegemonia” no futebol, nunca destasbocas se ouviu uma palavra de indignação.
Se calhar é porque não havia blogues (nem Twitter) …
1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privadode qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.
Mas o que é que interessa o que diz a Constituição quando a pretexto da tolerância e do combate ao sectarismo se invoca um qualquer lobby gay como máscara para esconder uma verdadeira face discriminatória e homofóbica?
Donde sou levado a concluir que, nunca indo o«Estado Central»abdicar do seu poder de cobrar impostos e os redistribuir pelos diversos organismos (autarquias e regiões incluídas), será necessário a criação de mais um imposto, a pagar directamente pelas populações “alegremente” regionalizadas, à nova elite dirigente regional e mais a multidão de burocratas que inevitavelmente irá surgir…
(Foto do “empresário” Sam Giancana, roubada no Chicago Tribune)
Até eu, que de liberal só ao nível de costumes, nada ou quase nada na economia, sou um defensor do princípio do utilizador-pagador, por uma questão de justiça social; nomeadamente nas Scut.
Mas há liberais, com “éle” grande, daqueles mesmo, mas mesmo liberais, que arrumam o liberalismo na gaveta em favor do cumprimento de promessas por parte do Governo. Mesmo que essas promessas impliquem um custo de cerca de 300 milhões de euros ao erário público.
É o liberalismo em versão regionalista, onde são permitidas excepções: para o futebol; para as SCUT. Até ver, que a procissão ainda vai no adro.
Recorrendo a um termo ultimamente muito em voga: liberais de meia-tigela.
Ainda sofre o affair Boavista; um histórico do futebol português, com 105 anos de história e, segundo reza a lenda, responsável pela introdução da modalidade em Portugal; e sobre a série de artigos assinados por Carlos Abreu Amorim (CAA) no Correio da Manhã e depois republicados no Blasfémias, importa a meu ver recordar que:
- De 1978 a 1997 (19 anos) os sócios do Boavista FC elegeram sem interrupções o Major Valentim Loureiro como presidente do clube:
“Assim nasceu uma nova era denominada de Boavistão, liderada pelo Major Valentim Loureiro, que com a sua sagacidade e inteligência, transformou e criou as condições para a projecção actual do clube, por todos reconhecida.” (Negrito meu)
- de 1997 até 2008 (11 anos) os sócios do Boavista elegeram sem interrupções João Loureiro, filho do anterior presidente, naquela que foi considerada a primeira dinastia do futebol português:
“Sucedendo em 1997 ao pai, Major Valentim Loureiro, o actual presidente, Dr. João Loureiro, tem imprimido ao clube uma dinâmica traçada por objectivos muito precisos, assentes no investimento certo, nos equipamentos desportivos e na politica de gestão do futebol.” (Negrito meu)
- nem oMajor, primeiro, nem o filho, depois, tomaram o poder no Boavista por “golpe de Estado”. Foram eleitos em eleições democráticas e incontestadas; e estiveram, pai e filho, à frente do clube 30 – trinta – 30 anos (!!!), com o apoio incontestado dos sócios; nunca é demais sublinhar.
“Quem boa cama fizer, nela se vai deitar”…
Escreve CAA na caixa de comentários deste meu post:
“V. não percebeu nada. Eu não defendi o intervencionismo. Pelo contrário. A Câmara tem de ser um Governo local. E deve ser um factor de união de esforços dos cidadãos na defesa dos interesses locais. A CMP nada disse e nada fez. Alheou-se da questão. O que é profundamente errado.”
Caro CAA: antes pelo contrário; eu percebi e percebo muito bem! A Câmara nada disse e nada fez; e fez muito bem. Alheou-se da questão. O que é profundamente certo.
Promiscuidade entre o futebol e a política, e, principalmente, entre o futebol e o poder autárquico? É como os atentados terroristas no Iraque; de tão banal que já deixou de ser notícia.
Demasiado Estado na vida dos cidadãos? As reclamações já não são tantas como nos futebóis; dependendo mais da área político-ideológica onde nos situamos. Ou dependendo da interpretação que se tem de “Estado”. Se for o Governo, com sede em Lisboa, é uma coisa (abominável!); se for outra qualquer forma de “Governo”, por exemplo, o Governo de uma autarquia, e se essa autarquia for a da cidade do Porto, então aí o caso muda de figura.
As coisas que a gente aprende! Por exemplo: que a crise num clube de futebol profissional, que paga ordenados chorudos aos jogadores, numa cidade e numa região com um dos maiores índices de pobreza do país… é um problema da cidade! E mais grave: a Câmara nada faz para resolver o problema! (Link)
E os “maus” exemplos já vinham de trás. Vejam só o desplante da Câmara de Faro que nada fez pelo Farense! Ou a de Portimão que nada fez pelo Portimonense! Já ninguém “veste a camisola”! Ou a de Setúbal que durante anos a fio alimentou a “esponja Vitória” com dinheiro dos contribuintes e com terrenos municipais, que invariavelmente foram servir para mais urbanizações tipo “cagalhão”, que encheram as contas bancárias dos construtores civis amigos das direcções, e que desfiguraram completamente a cidade.
«'O que é que Rui Rio tem que ver com o assunto?'»; tem e muito. Não é parvo. Tem a perfeita consciência de que ganhou as eleições a Pinto da Costa erguendo esta bandeira.
As saudades que eu tenho de Fernando Gomes e Nuno Cardoso; ai, ai!
(Regionalização? Não, obrigado!)
Adenda: Já vai no III capítulo. Os anteriores podem ser lidos aqui.