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DER TERRORIST

"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.

|| “Nós, europeus”

por josé simões, em 24.04.09

 

Passou despercebido um pequeno texto de António Guerreiro, publicado no caderno Actual do Expresso, faz amanhã oito dias. Pelo menos não dei notícias de ter sido referido quer nos blogues, quer no Twitter, quer noutros meios de comunicação. E reza assim:

 

«E, de repente, Nietzsche é um convidado clandestino

 

O slogan de Vital Moreira – “Nós, europeus” – tem um autor intempestivo, secretamente convocado e retocado para uma festa que não é a sua: Friedrich Nietzsche. Foi ele quem escreveu, em “Para Além do Bem e do Mal”: “Nós, bons europeus, temos as nossas horas de nacionalismo, momentos em que nos deixamos mergulhar em velhos amores e seus estreitos horizontes.” Quem são os “bons europeus”? São os que recusam a “pequena Europa” burguesa e reaccionária, os que combatem a “infecção nacionalista”, os “herdeiros encarregados de obrigações milenares do espírito europeu”. Para o discurso político, é difícil integrar os “bons europeus”, tanto mais que, em Nietzsche, tal adjectivo não é conforme à moral cristã e platónica. Evocar o “Nós, europeus” é muito mais fácil; mas é preciso que não se descubra que quem assim falou teve também estas palavras para designar quase a mesma coisa: “Nós, os sábios” e “Nós, os imoralistas”. Nietzsche, como teórico da ideia europeia, só clandestinamente pode entrar na festa eleitoral que aí vem. Gente respeitável e pouco dada à loucura não convive facilmente com quem abraça cavalos numa praça de Turim.»