Só há Liberdade a sério...
Ficámos todos, esta semana a saber que António Pires de Lima (APL), deputado da Nação - para os mais distraídos recordo - eleito pelo CDS/ PP, gosta de Sérgio Godinho.
Mais concretamente, da canção Liberdade. Aquela que canta assim:
"Só há Liberdade a sério
quando houver:
a Paz, o Pão, a Habitação,
Saúde, Educação
só há Liberdade a sério
quando houver
liberdade de mudar e decidir"
E gosta especificamente da última frase, "liberdade de mudar e decidir". Porquê? Segundo APL uma frase que "bem pode, hoje, ser reclamada pela direita".
Continua APL , " (...) A esquerda hoje, paradoxalmente, a maior inimiga do exercício da Liberdade em Portugal.". Confusos? "Porque aos portugueses , nomeadamente aos que não são ricos, está-lhes impedida a escolha da escola dos seus filhos, do médico de família, do planeamento da sua reforma".
Ora aqui é que "a porca torce o rabo".
A suposta liberdade reclamada por APL , para a escolha, da escola para os filhos, é uma maneira ardilosa de truncar a questão. O que aqui está em causa, é, antes pelo contrário, a liberdade das escolas em escolherem os seus alunos.
Específico, mais uma vez recorrendo a um exemplo que me é próximo, a cidade de Setúbal.
Algum pai em Setúbal quer matricular os seus filhos na escola da Bela Vista?
Posta a questão de outra forma; todos os alunos do Liceu moram na zona?
A resposta a ambas as questões é não.
O que aconteceria se houvesse a liberdade de escolha da parte dos pais e encarregados de educação, da escola para os seus filhos, era que haveria de tal forma uma afluência de inscrições no Liceu, que o Conselho Executivo se veria na obrigação de proceder a uma selecção de candidatos, e ou somos todos muito ingénuos e o Pai Natal existe, ou estamos mesmo a ver quem ficaria de fora na selecção...
Estão então todas as Bela Vistas deste país condenadas ao fracasso? a resposta também é não, mas aí entra outro tipo de intervenções e outro tipo de políticas que não vêm agora ao caso.
Liberdade de escolha do médico de família.
O dr. APL , é administrador de empresas, e deve ter a noção dos salários que paga aos seus colaboradores, como é moda agora dizer-se.
Num país em que o salário médio é de 700 e poucos euros, a única solução para a maioria das famílias, é mesmo e só, o médico de família. O deputado APL , deveria ter escrito liberdade de escolha entre o médico de família e o médico na clínica ou consultório privado, mas por motivos que me parecem óbvios, optou por não o fazer. Um dos motivos implicaria obrigatóriamente o aumento da média salarial, e a APL isso não deve interessar...
Rendas de casa, luz, água, alimentação, filhos na escola e, sabe Deus mais o quê, sobra aguma coisa para o planeamento da reforma?
O deputado APL , ou não vive neste país, ou quer atirar-nos areia para os olhos.
Ao contrário do que afirma, a esquerda não tem medo da liberdade, nem receio de dár ao povo o poder de decidir. Tem medo é do descalabro social que seria, se as suas propostas fossem tidas em consideração. Voltaríamos ao antes da Revolução, que como APL reconhece, tínhamos um Estado que nos envergonhava.
Em equipe que ganha não se mexe, é uma máxima do futebol. Há é que aperfeiçoar o sistema e adaptá-lo aos novos tempos, numa evolução na continuidade.
Termino citando APL : "A dignidade de uma Nação vê-se, sobretudo, na forma como trata os seus mais fracos: idosos, pobres, crianças, desfarvorecidos. Construímos um Estado Social de que não nos temos de envergonhar. (...) antes da Revolução não era assim.".