Das memórias dos outros
Vai um gajo a chegar a casa (agora por falar nisso, tenho de corrigir esta coisa de começar os post por “gajo”); como ia dizer, vai um gajo a chegar a casa e, ao sair do autocarro depara-se com para aí meia centena de vinilos, encostadinhos ao contentor do lixo, como se estivessem arrumados na sala, de encontro à parede, ou a uma coluna JBL das antigas, daquelas com quase metro e meio de altura. Capas bem estimadinhas.
“Eh pá… o q’ é isto?!”. E fica ali de cócoras, um sem abrigo da música, a vasculhar de encontro ao contentor; a passá-los um a um entre os dedos.
Polystar, Super Êxitos, Frank Purcel… “foda-se! quem é que compra estas merdas e ainda por cima as tinha tão bem estimadas?”… Top +, Richard Clayderman, colectâneas do Readear’s, Fauto Papetti… “Eh pá!!! Um Thriller!”; novinho em folha, acabadinho de sair da loja! Ainda cheira!
De cócoras. Embasbacado com o achado.
Passa-lhe uma velhota pelas costas e larga: “Ai menino! Não mexa nessas porcarias que isso já não se usa!”
“Já não se usa!”: mexer “nas porcarias”, o vinyl, ou o Michael Jackson?! Vai ser a dúvida que vai carregar até ao fim dos dias da sua vida, no dia em que adquiriu o seu primeiro Michael Jackson.
Que género de pessoa vai ao contentor despejar as suas memórias, e as deixa limpas arrumadas e alinhadas de modo a serem utilizadas por outros?
(Ele há gostos musicais que nem Edwin Gordon, por mais voltas que lhe dê, consegue explicar. Frank Purcel, Richard Clayderman, Michael Jackson. Foda-se!!!)