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DER TERRORIST

"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.

Noções de ética

por josé simões, em 19.01.07
No princípio desta semana, Rui Rio, salvo erro nas páginas do Diário de Noticias, queixava-se dos elevados índices de absentismo na Câmara do Porto; tudo justificado por atestado médico. Quase todos os atestados, passados sempre pelos mesmos médicos. Rui Rio fez uma espécie de Top Ten dos médicos e, à cabeça da lista, surgia um médico que durante o ano transacto conseguiu passar uma média de 2 (dois!) atestados por dia.
Também há dois anos que a Câmara por si presidida, havia feito uma exposição desta situação, no mínimo insólita, à Ordem dos Médicos; e até hoje nada…
 
Ontem, notícia de abertura do telejornal na RTP1, um relatório da Inspecção-Geral da Saúde (IGS) que identifica os médicos que mais receitas passaram.
Também com num Top Tem elaborado, a IGS coloca no topo (disco de platina), um médico de Santarém que passou por dia mais de 100 (cem!) receitas, logo seguido pelo disco de ouro, do centro de saúde de Oliveira do Bairro com 95 (noventa e cinco!).
 
Também no mesmo telejornal e a seguir à peça, Pedro Nunes bastonário da Ordem dizia que isto não queria dizer absolutamente nada, que há sempre a possibilidade não descartável de haverem falsificações de receitas, através dum scanner ou duma fotocopiadora.
 
O objectivo da inspecção seria avaliar a existência de uma relação entre as acções de formação de médicos pagas pela indústria farmacêutica – os famosos congressos – e a prescrição de medicamentos.
 
“Não se vislumbra qualquer ligação anómala entre o seu perfil prescricional e a presença em acções de formação para os quais tenham recebido patrocínios financeiros dos laboratórios”
 
Conclui o relatório, fazendo as delicias da Ordem dos Médicos que pela voz do seu bastonário:
 
“Tal conclusão demonstra a qualidade ética e a técnica dos médicos portugueses”
 
Errado. É precisamente o contrário. O que o relatório demonstra é a falta de ética e de profissionalismo dos médicos referenciados.
No caso da cidade do Porto, vitima de uma virose ou estirpe gripal que afecta única e exclusivamente os funcionários câmararios; no caso dos centros de saúde do Top Ten, e o de Aveiro especificamente que só em 2005 conseguiu ter uma média de 4500 euros por dia em medicamentos, comparticipados pelo Estado.
 
Assim como para o Bastonário da Ordem também seja absolutamente natural, ético e profissional, um congresso de médicos na Patagónia (?!?), pago por um laboratório farmacêutico aos médicos que mais prescreveram medicamentos da marca, como noticiava em primeira página o Tal & Qual em Novembro do ano passado.