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"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder"
- Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.

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por josé simões, em 19.04.08

- PSD (3), por Adolfo Mesquita Nunes no A Arte da Fuga

- O aborto ortográfico: pontas soltas e roubos de catedral, por João Pedro Graça no Apdeites V2

- Vira o disco e toca o mesmo, por Ricardo S Carvalho no Esquerda Republicana

(Foto de Nicole Bengiveno via The New York Times)

4 comentários

De Isabel a 20.04.2008 às 16:22

Enquanto o termo actualização ortográfica (ou algo parecido) foi usado para harmonizar a escrita com a língua falada, nada foi contestado. A partir do momento em que se consultam as outras academias da língua portuguesa e se passa a usar o termo acordo, toda a gente entra num furor histérico e mal fundamentado . A língua escrita foi inventada (ao contrário da língua falada) para reflectir o mais fielmente a fala. Daí o português escrito ser considerada uma língua fonética, em oposição à confusão desactualizada que são o inglês e o francês, que se refugiaram em dogmas pseudo nacionalistas e conservadores. Finalmente, isto das polémicas é cíclico, não soubessemos que este acordo foi feito há mais de 18 anos e já nessa altura surgiu esta polémica. É só uma questão de copy-paste.
De josé simões a 20.04.2008 às 19:44

podiamos fazer um acordo ortográfico entre o Norte e o resto do país, para harmonizar a escrita com a fonética, o Bamos, a Baca, ou por exemplo ou Andoue passavam a valer; ou no alentejo o Zéi, o Lête, ou o Caféie tambéiem (se bem que o tambéiem já seja nortenho)...
De Isabel a 20.04.2008 às 23:20

Quando falamos de variantes regionais de uma mesma língua de do mesmo espaço político, há a necessidade de uma só grafia, pois tem que existir um padrão de orintação linguística. Mas quando falamos numa língua que é falada no Brasil como a única língua oficial e nos restantes países da CPLP como língua oficial usada no ensino, na elaboração de leis, etc., há que respeitar as variantes da língua. E para quem não percebe nada de fonologia, eu aposto que nunca ouviu ninguém a dizer baca com um b tão acentuado como o do burro. Até porque esse b fica na fronteira com o v e é utilizado pelo Galego, que é de onde a língua deriva. Se quisessemos ser puristas, talvez devessemos falar como eles!
O padrão de uma língua é estalecido pela influência política da região onde é falado. Calou ser o do eixo Lisboa-Coimbra. Isso não acontece, por exemplo, com o inglês. Aí, ao padrão, entretanto devalorizado, dá-se o nome de BBC English. Cresce e aprende.
De Isabel a 20.04.2008 às 23:36

Isto de falarmos de dialectos regionais de um mesmo espaço linguístico envolve sempre uma postura de superioridade daqueles que acham que falam um padrão da língua portuguesa que não existe. A língua chamada padrão é dominada por aqueles que fixam a escrita. Daí ser a única considerada, até porque há que haver unidade linguística dentro do mesmo território político. Mas desafio qualquer ignorante em fonologia a provar que o b em 'baca' é igual ao b de burro. Se formos ao fundo da questão, se calhar eles têm razão ao pronunciar a consoante assim pois ela existe no galego, de onde a língua portuguesa deriva. Mas é claro que os leigos nem pensam que uma variante linguística é convencionada como padrão graças à influência política que essa variante tem. Portanto, convencionou-se oficiosamente que o eixo Lisboa-Coimbra era o padrão da língua, apesar de haver algumas diferenças nos dois dialectos.
No inglês o padrão da língua foi definido, durante décadas, como o BBC English, só falado por uma faixa minúscula e priviligiada da sociedade britânica não forçosamente nativa de Londres. Para se trabalhar na empresa só se podia usar o padrão. Até que alguém se lembrou que estava a pagar taxa de televisão a uma companhia que discriminava linguisticamente a maioria esmagadora dos britânicos.
Quanto aos outros países, que nós nos orgulhamos tanto de ter colonizado linguísticamente, subsiste ainda a mentalidade de potência branca detentora dos direitos autoriais da língua. Pois!

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