Qual foi a parte que eu não percebi?!
por josé simões, em 12.04.08
Com o título “Ângelo, o oráculo da tragédia social-democrata”, escreve Ângela Silva hoje no Expresso:
«Mas a convicção nos bastidores do partido é que Ângelo Correia antecipou o desastre que, a crer nas sondagens (a última, publicada no ‘Correio da Manhã’, dá 26% ao PSD), se avizinha. E não quererá ficar associado a ele sem, pelo menos, e caso se confirme, poder afirmar: “Eu avisei!”»
Vamos lá a ver se eu percebi.
Ângelo Correia é aquele senhor que foi ministro da Administração Interna de Pinto Balsemão, e que, a propósito duma Greve Geral, salvo erro a primeira que aconteceu no Portugal pós-25 de Abril – e recorrendo aos termos da jornalista do Expresso – “antecipou” um golpe de Estado, com base nuns pregos espalhados numa estrada não sei onde, e em meia-dúzia de armas encontradas num carro, que se viria depois a confirmar serem pertença de uns caçadores. Apareceu na televisão a “antecipar”; caiu no ridículo; ficou para o anedotário nacional, e meteu licença sabática, com manifestas vantagens para a saúde mental dos portugueses; até que Mário Crespo se lembrou de o ressuscitar como comentador.
Ângelo Coreia é aquele senhor que contra todas as vozes mais lúcidas e avisadas dentro e fora do PSD “antecipou” que Luís Filipe Menezes seria um líder excelente, capaz de levar o José Sócrates e o PS à derrota eleitoral em 2009.
Ângelo Correia é aquele senhor, que, segundo Ângela Silva, “não quererá ficar associado” o erro de casting que dá pelo nome de Luís Filipe Menezes.
Ângelo Correia, e falando português corrente, já está a fugir com o rabinho à seringa.
Ângelo Correia é ele próprio um erro de casting; o exemplo acabado de como é saber movimentar-se dentro da estrutura partidária, num partido de Governo; a única explicação plausível para ter chegado – politicamente – onde chegou.
Ângelo Correia não é "oráculo da tragédia social-democrata"; é mais Laio nas Fenícias de Eurípedes, que, com medo da maldição de Ares, abandona Édipo, filho seu e de Jocasta, na encosta do Monte Cíteron. Todos sabemos como isto acaba.
Quando aqui se escreveu:
“lá para 2009 o cadáver PSD aparecer à tona; depois do “born-to-kill-Menezes” se ter ido embora, vai haver muito trabalhinho para o CSI…”
O “CSI” pode começar precisamente por aqui. Por Ângelo Correia.
Adenda: como diz o outro: “Há muita fraca memória na política e nos políticos…”