Ainda o ranking das escolas
por josé simões, em 22.11.07
Quando aqui me dediquei a fazer o “exercício de sociologia barata” proposto por Rui Tavares restringi-me à última escola de todas por onde passei, aquela que frequentei do 10.º ao 12.º anos; a Escola Secundária de Bocage, na altura Liceu de Setúbal. Foi também a que mais me marcou, quer pelo nível de qualidade humana e pedagógica dos professores que na altura leccionavam, quer ao nível das vivências e relações estabelecidas com os colegas de turma, e noutro patamar, pelos projectos e actividades de intervenção cívica e associativa desenvolvidos com outros colegas de escola, colegas de outras turmas; aqueles que paravam no pátio do “meio”, conhecido como o pátio dos “alternativos”, por oposição ao pátio dos bétos – o de entrada (onde apesar de tudo fiz amizades que perduraram até hoje), e o pátio da maralha – o dos campos de jogos.
Inconscientemente (ou talvez não) esqueci-me da escola onde fiz o 8.º e 9.º anos; a Escola Secundária Sebastião da Gama, à época Escola Industrial e Comercial de Setúbal. Lembrei-me hoje da Comercial, quando na banca dos jornais vi este cromo estampado numa revista daquelas que no meu ranking pessoal estão catalogadas como “revistas manhosas”. Este traste, na altura da Comercial, ainda tinha nome de gente; dava pelo nome de António Ferrão; ainda ouvia e cantava música de gente; e… e era meu parceiro de secretária nas disciplinas de Biologia e Francês. Depois dei o salto para o Liceu e perdi-lhe o rasto até que um dia o tornei a ver no Festival da Canção, a interpretar uma canção manhosa, e daí para cá foi um ver se te avias; até Rei do Carnaval já foi!
Aparece agora na capa duma revista manhosa, com um ar de desgraçado, a queixar-se “não sei se o filho é meu”, e que “a Tina levou-me 100 mil euros e o carro”. Um autêntico Carnaval! Estou tentado a comprar a revista só para saber se no meio desta tragédia toda que se abateu sobre o filho do alfaiate que dava vida e cor ao Largo da Misericórdia, com os tecidos expostos à laia de pendão desde o 2.º andar até quase ao rés-do-chão, e que agora tem nome de detergente do Lidl, o que é que lhe dói mais: se o filho que não sabe se é seu, se o carro que foi andando por via da banhada da Tina, se os euros que a Tina vai gastando, ou se a tragédia no seu todo. (Atina Tina! ou a Tina atinou?)
Fui outra vez deitar o olho no ranking das escolas. A Comercial, infelizmente, está muito mal classificada. Dou comigo a pensar que esta coisa dos rankings e da sociologia barata talvez tenha razão de ser…
Post-Scriptum: Desconheço qual foi a escola que a Tina frequentou…