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DER TERRORIST

"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.

O Papa nas "margens" da Europa

por josé simões, em 28.11.06
No Vaticano nada é feito por acaso.
Dito de outro modo, e apesar de o poder parecer, não é bem a mesma coisa; não há lugar para improvisos.
Todas as decisões são tomadas com um frio calculismo de jogador de xadrez; anda-se sempre muitas jogadas à frente.
 
Assim foi com a eleição do Papa polaco – João Paulo II – no contexto da Guerra Fria, que conjuntamente com Lech Wallesa e o Solidariedade teve tanta ou mais importância que Ronald Reagan para o desfecho que todos conhecemos.
 
Pacificada a Europa a Leste, porque a Rússia apesar de tudo e na óptica do Vaticano é cristã, e com as perspectivas de uma futura adesão da Turquia à Comunidade Europeia, só para os anjinhos (perdoe-se-me a heresia!) o desfecho da sucessão de Karol Woytilla poderia ser outro que não a eleição de Joshep Ratzinger.
 
Para o Vaticano o mundo é, e continuará a ser por muitos e muitos anos Eurocêntrico. Foi a partir do então coração da Europa que se deu a expansão da Fé, e se fundou e estruturou a Igreja como hoje a conhecemos, malgrado todos os cismas, reformas e contra-reformas. Também foi por mão da Igreja que a Europa, e por extensão, toda a civilização Ocidental, é em grande parte como a hoje a vemos.
 (Espaço temporal que mediou a queda do Império Romano do Ocidente e baixa Idade Média com a Igreja como factor aglutinador das populações e dos futuros estados.)
 
Bento XVI vai encontrar-se com o Patriarca Bartolomeu I, e só quem viver noutro planeta ou não pesque nada de nada, poderá ver aqui alguma similitude com o famoso abraço de João Paulo II ao Patriarca Atenágora dos ortodoxos russos.
Atenágora é o patriarca da religião “oficial” – entre comas, sublinhe-se mais uma vez – do Estado; Bartolomeu I é o patriarca de menos de 1% de crentes, cerca de 20 mil almas em números redondos, num mar de muçulmanos; só em Istambul vivem 13 milhões de pessoas…
 
Portanto, e voltando ao inicio do texto, esta visita de Bento XVI não é uma visita evangélica nem de marketing religioso; (Ratzinger não é um cruzado difusor da fé, é um ideólogo e guardião da mesma e por consequência da civilização Ocidental) isto apesar de para o comum dos turcos, o Papa ser o símbolo dum mundo que lhes é “estranho”, e a quem eles batem neste momento à porta.
Esta é uma visita de Joshep Ratzinger, aquele que enquanto cardeal se manifestava contra a entrada da Turquia no clube dos cristãos.
 
Quais as próximas jogadas? Teremos de aguardar para ver, ou lançar mão de terminologia cristã: Só Deus sabe…
Para já Ratzinger começa a marcar pontos, Erdogan voltou atrás, e se bem que só no aeroporto e só por 15 minutos, vai recebê-lo.