|| Como sou um homenzinho, responsável e cheio de "sentido de Estado"
Aqui estou eu disponível para contribuir para a redução das receitas fiscais do Estado, que terá de ser compensada por cortes nas funções sociais do Estado ou num aumento de impostos sobre o trabalho, que é como quem diz numa redução do rendimento efectivo dos cidadãos e, como ainda assim não vai chegar, porque o dinheiro não estica nem nasce do chão, eis o álibi perfeito para o Estado se demitir de algumas das suas funções, não há dinheiro não há palhaço, que serão asseguradas pelo sector privado, para quem puder pagar, quem não puder temos pena, que se aguente e que espere pela senhora Jonet e pela Igreja, e também porque, depois destas engenharias e arquitecturas económicas, ninguém se vai lembrar de perguntar porque é que apesar de tudo, e de todas as reformas e de todas as receitas fiscais oferecidas ao capital e de todos os aumentos de impostos ao trabalho, a economia não cresceu, nem o investimento veio em catadupa e aumentou o fosso entre os mais ricos e os mais pobres, porque quem está de barriga vazia, e com a corda na garganta, porque lhe sobra mês no final do ordenado, não tem especial apetência para fazer perguntas.
E nem sequer falamos/ falámos das pequenas e médias e micro empresas que, pelos vistos, no país do homenzinho cheio de "sentido de Estado" e muito preocupado com a captação de investimento, nem têm importância nenhuma nas reformas fiscais que se mostra disponível para debater com muita responsabilidade.
[Imagem "Three unidentified men making notes while working the floor at the Merchandise Mart", Stanley Kubrick, Chicago, 1949]