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DER TERRORIST

"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.

Violência policial ???

por josé simões, em 06.09.07

 

“A Cintura Urbana de Lisboa está madura o suficiente para que nela possa ocorrer o mesmo tipo de motins de Paris”
 
J. Wengorovius, Diário Económico em 05 de Setembro de 2007.
 
“Os adolescentes oriundos dos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP) envolvem-se mais em comportamentos de violência, consomem mais tabaco, haxixe e álcool e têm comportamentos sexuais com maior risco para a saúde do que os portugueses»
 
Conclusão do estudo Comportamentos de Saúde de Adolescentes Migrantes e o Efeito Protector da Relação com os Avós. Público em 06 de Setembro de 2007.
 
Correndo o risco de ser considerado politicamente incorrecto e de me vir cair meio mundo em cima deixo aqui uma questão / reflexão:
- Qual a relação entre este vídeo disponível no youtube há já mais de meio ano e só agora descoberto pelas televisões, e o estudo efectuado pelas investigadoras da Universidade Nova de Lisboa, Tânia Gaspar e Margarida Matos, publicado na Revista de Estudos Demográficos do Instituto Nacional de Estatística, e que teve como objecto de trabalho «as diferenças dos comportamentos entre adolescentes migrantes oriundos dos PALOP e os portugueses» que frequentam escolas públicas de Oeiras, Marvila, Amadora e Loures (Público)?
 
Sejamos claros; nem a Polícia é aquela besta inumana que o vídeo quer deixar transparecer, nem os jovens vítimas da presumível violência policial são os “anjinhos” inocentes, como é suposto concluir-se (e já lá vamos) após o visionamento das imagens.
 
Só quem nunca frequentou determinadas zonas da capital à noite – concretamente a zona da Expo como em principio será aquela onde o vídeo foi gravado – e nunca se encontrou cara-a-cara com gangs de jovens, maioritáriamente negros, oriundos da zona de Chelas, que se entretêm a destruir equipamentos públicos e privados (desde paragens de autocarros a contentores do lixo, passando por a vandalização gratuita de viaturas estacionadas na rua e grafitando paredes a eito), e que fazem da provocação e ameaça aos transeuntes o seu desporto favorito, é que embarca nesta lenga-lenga do racismo e da violência policial. Ao que se assiste no vídeo é a uma reacção por instinto da parte dos polícias, provocada pelo constante clima de tenção, fricções e provocações gangs-autoridade. Se a polícia deve reagir assim, respondo que não, mas essa é uma questão que nunca poderá ser dissociada do contexto sócio-cultural e dos antecedentes que atrás foram apresentados.
 
Estes grupos sempre munidos da arma dos tempos modernos, o telemóvel com câmara, que aliás é possível comprar-lhes a preços imbatíveis na Feira da Ladra aos sábados de madrugada, sabem bem ao que vão, e têm bem delineados os objectivos a atingir com a colocação destes vídeos na net, na esperança de mais cedo ou mais tarde caírem nalgum blogue ou nalguma televisão. A intenção é claramente provocar uma reacção instintiva de emoção na opinião pública. A mesma reacção que a polícia teve neste caso e nunca deveria ter tido.
 
Depois é o circuito habitual das organizações de combate ao racismo e à exclusão social, de apoio aos emigrantes, sempre ali à mão de semear e sempre dispostas a prestar apoio neste tipo de situações, sem a mínima preocupação em saber mais para além do que as imagens nos mostram. Agora que tanto se falou no eco terrorismo por via dos bandalhos encapuçados do Verde Eufémia e das suas ligações ao Bloco, seria também interessante dissecar a promiscuidade existente entre os militantes e simpatizantes bloquistas e os activistas destas organizações.
 
No entanto, – e muita atenção! -, o perigo real neste avolumar de casos e no clima de insegurança gerado na opinião pública não está aqui à vista de todos. O perigo nem sequer reside na habitual receita da Direita-policial, via CDS/ PP, que, quando surgem situações como esta logo requisitam a presença do ministro responsável pelas polícias no Parlamento para o habitual show-off, e aproveitam para exigir mais polícia nas ruas; quanta mais melhor, até atingir os índices da Roménia de Ceaucescu. O perigo reside em indivíduos como aquele senhor mal-encarado que não gosta de emigrantes e que foi notícia com o célebre cartaz no Marquês em Lisboa. A receita desse é pior. Muito pior.