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DER TERRORIST

"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.

Ainda a festa do Avante! (Os cúmplices)

por josé simões, em 04.09.07

 

“A direita tradicional é céptica em relação à intervenção cultural. Irrita-se com os apoios públicos, mesmo que representem uma parte insignificante dos orçamentos. Desvaloriza a produção. Receia as clientelas. Impacienta-se com os intelectuais. Desconfia das instituições e dos critérios de escolha. Subestima o impacto galvanizador dos projectos. Incomoda-se com a face subversiva da arte. No máximo, a velha direita considera legítimo que o Estado trate da conservação do património histórico, desde que se mantenha prudentemente afastado de fenómeno contemporâneo. É este o ponto de partida. É curto. É defensivo. É antiquado. Pede uma reviravolta, a bem da vitalidade. E é sempre da vitalidade que vem a excelência, a afirmação, a obra. Se há passado para invocar é porque alguém atrás inovou. Uma sociedade que não pretende a vanguarda petrifica.”
 
Gonçalo Reis in A Excepção Cultural na revista Atlântico de Março de 2007.
 
Houve uma época em que a cultura em praticamente todas as suas vertentes era “coutada” da Esquerda. Da música à literatura, passando pelo teatro, cinema, pintura, escultura, etc., era difícil, se não mesmo impossível, encontrar um criador que se reivindicasse do espaço político à Direita. A Direita dava-se mal com a cultura. Os criadores, os artistas, os intelectuais, davam-se mal com a Direita, muito por culpa desta, por não ter sabido cavalgar a onda da Revolução e ter ficado “lá atrás”, agarrada a um certo passado, conotada – por mérito próprio – com a ditadura.
 
Foi a época pós-revolução de Abril (PREC), e das eleições autárquicas subsequentes, em que, olhando para o mapa eleitoral autárquico, de Santarém para Sul era uma imensa mancha Vermelha, salpicada por alguns bastiões Rosa; a Azul e a Laranja só mesmo algumas regiões a Norte e na quase totalidade das Ilhas.
 
Como é sabido, as autarquias eram – e continuam a ser – os maiores empregadores culturais deste país, seja ao nível da promoção de espectáculos, seja ao nível da cedência de equipamentos, ou da atribuição de subsídios.
Será esta uma possível explicação para que os criadores / intelectuais / músicos conotados com uma certa Esquerda, por norma mais radical e rebelde em relação à (s) disciplina (s) partidária (s), ou ideologicamente mais afastada do PC e próxima de grupelhos como a UDP e outros m-l’s (marxistas-leninistas-maoistas) da altura – onde se incluia Zeca Afonso e todo o seu círculo à época (Sérgio Godinho, Vitorino e o clã Salomé, Samuel, José Mário Branco, etc.) -, que mantiveram sempre uma relação de conflituosidade com o PC, sempre terem aceite participar na Festa do Avante! apesar de todos os apesares. É que afrontar com uma negativa, a festa do jornal do partido organizador-mor de espectáculos, por via das autarquias que controlava, implicava ir para a lista negra e ficar quase todo o ano no desemprego (que o diga José Mário Branco). Posso compreender esta tomada de posição na altura, mas não a aceito, como já tive oportunidade de explicar aqui.
 
Agora, passados que são 33 anos sobre o 25 de Abril, e em que o PC perdeu a enorme influência que detinha nas autarquias, que estas cumplicidades se mantenham (veja-se o cartaz da festa deste ano), é que dá que pensar…

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