Noite, Mafias e outra criminalidade
por josé simões, em 29.08.07
E de repente, como que por artes mágicas, todos os partidos do leque parlamentar descobriram a criminalidade associada à noite, e, da esquerda à direita, de um extremo ao outro das bancadas em S. Bento, vêm todos ao terreiro exigir medidas para pôr cobro à situação.
Não estranho que à direita, pelas vozes de Agostinho Branquinho (Distrital do PSD/ Porto), Nuno Magalhães (CDS/ PP) ou Luís Filipe Menezes, se venha pedir o reforço das medidas de segurança que passa inevitavelmente por mais polícias na rua – de preferência um polícia para cada perigoso noctívago. É a receita habitual da direita: polícia, muita polícia, quanto mais polícia melhor. Estranho é que a esquerda, habitualmente mais desconfiada nestas coisas de polícias, alinhe pelo mesmo diapasão e, faça suas, as mesmas exigências e reivindicações que a direita-policial (vejam-se as declarações do presidente socialista da Câmara de Matosinhos, do vereador comunista na autarquia do Porto, Rui Sá, e até um “insuspeito” bloquista: Teixeira Lopes).
Estou frontalmente contra estas exigências. Repugna-me a ideia de um Estado policial. Não quero viver num País com um polícia em cada esquina como na Roménia de Ceucesco.
A solução para este tipo de problemas que começaram a ter mais visibilidade com o caso Mea Culpa em Amarante, não passa por colocar mais polícia na rua; os polícias já lá estão, à porta das discotecas e bares, no interior dos estabelecimentos, onde eles próprios exercem as funções de seguranças, em part-time e horários pós-laborais.
A solução para este tipo de problemas – falo com a autoridade adquirida em mais de 20 anos de actividade ligada à noite (dj) –, sejam eles no Porto, Setúbal, Lisboa, ou outra qualquer localidade de Portugal, chama-se Finanças, vulgo Fisco. Investigar como se fazem e desfazem sociedades e fortunas ligadas ao negócio da noite, cujo caso do recém assassinado proprietário da discoteca Chic é exemplar: Em meia-dúzia de anos – literalmente – de segurança a dono de um império que inclui até uma rádio! Depois os seguranças mais os tráficos de drogas vêm por acréscimo; são os chamados fait-divers, apesar de estarem intimamente ligados ao chamado “negócio da noite” e funcionarem em círculo fechado – um leva ao outro, e assim sucessivamente. Da mesma forma que não se começa a construir uma casa pelo telhado, que é parte integrante da casa; não se começa a investigar o negócio da noite pelos seguranças e pelos dillers, malgrado alguns terem sido o embrião dos outros.
Pelos vistos o “Ídolo” Paulo Macedo tem “pés-de-barro” e andou a dormir na forma e no conteúdo nalgumas áreas que eram sua responsabilidade.
Ao PSD fica-lhe mal, muito mal, vir assacar culpas ao actual executivo pelo clima de insegurança que se vive na noite – e neste particular do Porto –, quando já teve várias oportunidades de pôr ordem na coisa e nunca o fez nos sucessivos governos em que participou, quer sozinho, quer em coligação; uma delas de ouro, por via de um ex-líder e ex-primeiro-Ministro habituée nestas lides e que tinha / tem necessariamente o conhecimento de como as coisas se processam.
Mas os bares e as discos das elites são muito mais higiénicas e exclusivas, blindadas ao exterior. E enquanto o azar não bater à porta de um qualquer novo Stones, Bananas ou outro K qualquer, vai tudo ficar na “paz dos deuses”, até que noutra qualquer cidade portuguesa, outro Aurélio Palha por via da sua morte, fornecer mais “palha” para alimentar aos media e a indignação da classe política.