"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A genialidade da comunicação do Governo levou a que o cancelamento do 25 de Abril e transferência para o dia 1.º Maio tivesse como designação "São Bento em Família" sem que lhes ocorresse como subtítulo "Alegria no Trabalho". A questão que se coloca é se foi assim por ignorância da carga "em família" associada a qualquer coisa saída das traseiras da Assembleia da República ou se foi assim propositadamente pelo Governo do partido saído da União Nacional a encostar ao eleitorado do filho desavindo fundador do partido da taberna.
Assim de repente: o muro que é mau entre Gaza e Israel e na fronteira dos Estados Unidos com o México é o muro que era bom em Berlim, apesar de ter caído para o lado de cá;
a CGTP, a força sindical representativa dos trabalhadores e das suas reivindicações, o Solidariedade na Polónia, uma manipulação da CIA e do Vaticano;
os milhares nas ruas de Lisboa e do Porto em genuínos protestos contra a troika, contra a governação à direita, contra o que quer que seja, os milhares manipulados pelos 'amaricanos', pela União Europeia, e pela NATO nas ruas de Kyiv, Tiblissi, Erevan;
o imperialismo 'amaricano' no Vietname e na Coreia, a invasão de Granada, as ditaduras sul-americanas patrocinadas pelos Estados Unidos e as invasões da Hungria e da Checoslováquia que nunca aconteceram nem tampouco a do Afeganistão, tudo pedidos de ajuda de governos legítimos;
a justeza das eleições na Venezuela, na Bielorrússia, em Cuba, a fraude que é Zelensky na Ucrânia e Jaruzelski a fazer o que tinha de ser feito na Polónia em defesa dos trabalhadores.
"Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, podemos ter muitos defeitos, mas se há coisa que somos é coerentes". É a chamada coerência do caralho.
[Imagem: "According to the precepts of Ilyich" Soviet poster, 1980]
No dia do apagão, no velhinho rádio a pilhas, transistor, como lhe chamavam os velhinhos, ou na rádio do carro, a melhor emissão foi a da Antena 1. Sem publicidade, sem conversa da treta, sem enchimento de chouriços, sem "reportagens de rua" com conversas de merda a amplificar ainda mais a desinformação que circulava abundantemente, a substituir-se ao Governo, a fazer o que aquela excursão de incompetentes não soube fazer. Continuou no day after com a melhor televisão a ser a RTP 3. Enxuta, objectiva e directa. Entretanto nas sondagens quem se distinguiu pela incompetência e por andar sempre meia-dúzia de passos atrás dos acontecimentos, enquanto a desinformação circula abundantemente, aparece a liderar as intenções de voto, e com uma possível coligação, num namoro mal disfarçado, com a reunião-geral de alunos convertida em partido - Ilusão Liberal, que advoga a privatização do serviço público de rádio e televisão. Somos [são] burros e não querem aprender.
Tudo falhou, da internet à Protecção Civil. Safou-se quem tinha um velhinho rádio a pilhas e umas velas do chinês. Estudassem. Safou-se quem tinha no bairro uma loja do chinês ou uma lojeca de um árabe no lugar onde antes havia mercearias tugas. Estudassem. Só não falhou a propaganda. Propaganda contínua, perdão, um conselho de ministros contínuo para dizer nada e para os ministros terem acesso à net e à rede eléctrica a partir de S. Bento. Estudassem. "A culpa não foi nossa", Leitão Amaro. "A culpa não foi nossa", Luís Montenegro. "A culpa não foi deles", Marcelo não pareceu para dizer. Apareceu Montenegro em "trabalho de parto" na Alfredo da Costa. Mais propaganda. Estudassem. E ninguém lhe perguntou se tinha ido saber das mulheres que não deram entrada em Setúbal, Barreiro, Montijo, Almada, no Serviço Nacional de Saúde que está melhor que "há um ano atrás". Estudassem.
Agora imaginem os anos da pandemia conduzidos por este bando de incompetentes pantomineiros propagandistas...
No passado sábado entrei às 20 horas na urgência do S. Bernardo em Setúbal a acompanhar um familiar octogenário. Foi-lhe atribuída pulseira amarela, na "Triagem de Manchester" doente urgente, até 60 minutos de espera. Foi visto pelo médico às 5 da manhã, 9 - nove - 9 horas depois, saiu no domingo às dez da manhã. Diz Luís Montenegro, com aquele permanente sorriso cínico de quem está a gozar com toda a gente, que “há um ano atrás a Saúde estava pior do que está agora”. Tem razão Montenegro, um ano depois não há aberturas de telejornais com directos intermináveis na porta das urgências, com a prestimosa colaboração de familiares acompanhantes que andavam lá por dentro, de telemóvel na mão, a filmar à socapa para passar as imagens à televisão do Correio da Manha [sem til] ou aos sucedâneos Now e CNN Portugal. Um ano depois não há histerismo induzido. Um ano depois a última grávida que pariu numa ambulância ainda a Temido era ministra e, antes dessa, tinha sido no tempo do Correia de Campos. Um ano depois não há caos nas urgências, há "constrangimentos". Bem podiam os alegados jornalistas esmerar-se e perguntar a Luís Montenegro como é que a Saúde está em relação "há um ano ao lado" ou "há um ano à frente" porque em relação "há um ano atrás" só quem por lá passa sabe que o primeiro-ministro mente com quantos dentes tem na boca com a ajuda de quem trabalhou para o meter no cargo que ocupa.
Duas dezenas de cidadãos sem educação, com bandidos condenados e xalupas anti-vacinas à mistura, que se reclamam da ideologia do anão austríaco do bigodinho mas com aspecto de quem veio do Magreb, o que lhes dava uma viagem de comboio, de ida sem volta, para Dachau ou Treblinka, com uma manifestação não autorizada resolveram arruinar um dia de festa e alegria para centenas de milhar de famílias nas ruas de Lisboa.
"Uma manifestação não autorizada de militantes de extrema-direita [ou radicais de direita] encontrou uma contra-manifestação de antifascistas, as coisas descambaram e a polícia teve de intervir", foi assim que a generalidade das televisões se referiu ao caso.
Nas culpas a atribuir no cartório na ascensão da extrema-direita e do neo-nazismo há muita gente com a sua quota-parte, os anti-fascistas não são de certeza.
Luís Montenegro diz que partilhou valores universais no funeral do Papa. Tipo ser sonso e dissimulado, arranjar esquemas manhosos para ganhar a vidinha numa nebulosa entre poder político-partidário e empresas privadas, esquivar-se a dar respostas, mentir com quantos dentes tem na boca.
Marcelo, o parolo: fiquei ao lado deste, à frente daquele, atrás do outro. Marcelo, o chibo: pude ouvir a conversa entre Trump e o presidente da Eslovénia e falaram disto e falaram daquilo.
No final do habitual chorrilho de mentiras em alta gritaria o taberneiro disse que ele e o partido da taberna é que iam "cumprir Abril" sendo efusiva e longamente aplaudido de pé pela bancada do grupo de excursionistas que chefia para gáudio dos capitães de Abril presentes nas galerias.