É preciso ter pontaria
A capa da Time Magazine e a capa do The Guardian Weekly. É preciso ter pontaria.
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A capa da Time Magazine e a capa do The Guardian Weekly. É preciso ter pontaria.
Uma vez em Soissons, pequena cidade a norte de Paris, perguntei a um emigrante português porque é que recebia em casa o jornal da, à época, Frente Nacional, e votava na Marina se o partido tinha um discurso xenófobo e anti-emigração. Respondeu-me que eles, os portugueses, não eram emigrantes, emigrantes eram "os árabes e os pretos". Lembrei-me disto ao ler que o Attal apelou ao voto dos luso-descendentes contra o Rassemblement National que quer dividir os franceses por nacionalidades.
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Morre Fausto, um dos nomes maiores da música popular portuguesa de sempre, no panteão ao lado dos dois Zés, o Afonso e o Mário Branco, e no dia a seguir são estas as primeiras páginas dos três jornais generalistas que ainda restam nas bancas. Melhor que isto só a peregrinação de um Papa a Fátima. Merecemos tudo o que nos cai em cima.
Na convocatória para a cercadura ao Parlamento, a páginas tantas, o taberneiro diz "dia 4 às 15 horas" enquanto faz com a mão direita o gesto três dedos e um zero que, em linguagem gestual, todos já vimos no canto do ecrã a tradução, significa "dia 4 às 15 horas" e não o símbolo White Power dos supremacistas brancos e, por coincidência e só por coincidência, também o símbolo do Movimento Zero nas polícias, aqueles senhores e senhoras que nos grupos WhatsApp, Telegram e contas fechadas no Facebook se dedicam a insultar imigrantes e gente de outras cores, para, mais rápidos que a própria sombra, os ditos zeros responderem ao apelo do chefe e gritado presente. Nas televisões, rádios, jornais, que andaram com o senhor ao colo e o engordaram, ninguém deu por nada, mesmo depois de elevados à categoria "Inimigos do Povo". Espectáculo!
Com Fausto vi um dos melhores concertos da minha vida na apresentação de Por Este Rio Acima nos Claustros do Convento de Jesus em Setúbal, acompanhado pelo O Ó que Som Tem? do Rui Júnior, numa época em que não estava para aí virado, nem pouco mais ou menos, e andava por sítios como Forever Now dos Psychedelic Furs, A Kiss In a Dream House da Siouxsie, Sextet dos A Certain Ratio, Junkyard dos The Birthday Party, Pornography dos The Cure, Combat Rock dos The Clash, entre outros.
"Rosalinda, se tu fores à praia, se tu fores ver o mar", a primeira canção de protesto ecologista da música portuguesa porque "atrás dos tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir" e "uns vão bem e outros mal", em 1977 numa Madrugada dos Trapeiros que cada vez mais é o dia e a noite de cada vez mais gente nas ruas das grandes cidades portuguesas.
Fausto nasceu no Atlântico a bordo de um navio chamado Pátria numa viagem entre Lisboa e Luanda. "Por este rio acima" a expressão mais usada por Fernão Mendes Pinto na Peregrinação. Ainda dizem que um gajo não tem o destino traçado à nascença...