"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Atormentado pelo gozo e pela culpa, o Presidente chega a ir a Fátima de 15 em 15 dias para rezar. As sondagens menos positivas voltam a mergulhá-lo na solidão [...].
Todas as manigâncias são possíveis, todas as intrigas e jogadas de bastidores são admissíveis, todas as mentiras e meias verdades são ética e moralmente aceitáveis, porque a seguir estamos perante Deus para o perdão, saímos como novos, voltamos às manigâncias, às intrigas e às jogadas de bastidores, às mentiras e às meias verdades, assim sucessivamente num eterno retorno. O Presidente beato católico, do recalcamento da culpa, que obedece à Igreja e responde a Deus, em vez de à Constituição e ao povo, de quem só quer massagens no ego. Temos o que merecemos.
[Na imagem a primeira página da revista do Expresso]
Um dos maiores financiadores do terrorismo mundial. Os homossexuais enforcados em gruas nas praças públicas. As mulheres perseguidas por serem mulheres. As ordens dadas à polícia para disparar à cara dos manifestantes por formar a cegarem uma vista. As penas de morte por simples artigos de opinião ou posts nas redes sociais. As penas de prisão acompanhadas por centenas de chicotadas. Os crimes de honra com absolvição do marido. Agora pençem.
Sai o Relatório de Segurança Interna a dar conta do aumento da criminalidade, com os principais indicadores a incidirem no tráfico de pessoas, auxílio à imigração ilegal, crimes de ódio e violência entre grupos, curiosamente o que a direita, alegadamente democrática, insiste em desvalorizar: a imigração ilegal fruto dos entraves colocados à entrada em quem procura trabalho legal; crimes de ódio e violência entre grupos, pelo normalizar de comportamentos inaceitáveis, em nome da liberdade de expressão, liberdade de associação, e do princípio "se os proibimos aqui, amanhã abrem na porta ao lado, portanto é deixa-los estar", e logo o inefável Moedas apareceu nas televisões a dizer não estar surpreendido com o relatório porque "já há dois anos atrás [como será há dois anos à frente ou há dois anos ao lado?] "dizia ao antigo ministro que havia maior criminalidade, que ele sentia na rua", o mesmo princípio de análise científica - "O Sentimento", que o levou a assegurar que as Jornadas Mundiais da Juventude tinham sido um sucesso estrondoso para a restauração lisboeta, e não o fiasco que foram, porque alguém que tinha hospedado em casa lhe contou que o Pinóquio nos Restauradores estava com fila à porta.
A facilidade com que Moedas aparece nas televisões, por si convocadas para perorar por tudo e mais alguma coisa, sem qualquer contraditório, nem uma única pergunta difícil da parte dos pés de microfone, como forma de esconder a incompetência com "o barulho das luzes", é na base do mesmo princípio de quem engordou e andou com Ventura ao colo e que agora procura um candidato mais fofinho.
Como dizem os pantomineiros da direita, donos da democracia e da liberdade, de expressão ou outra qualquer, estamos a caminhar para a venezuelização da Europa, em particular, e do ocidente, no geral.
O taberneiro foi em campanha até ao sítio do país com mais imigrantes por m2 falar mal dos imigrantes e encontrar a dona de uma lavandaria que vive de lavar roupa para os imigrantes, cheia de medo dos imigrantes que são o seu ganha pão e lhe dão qualidade de vida, "passam aqui e olham fixamente para a montra, onde é que já se viu? Agora vou ter de pintar os vidros de preto para ninguém ver saber que aqui há uma lavandaria. Isto estava muito melhor quando caminhava para ser um deserto de gente e de areia e eu me preparava para imigrar para Lisboa, agora isto é tudo deles, ocuparam as lojas, nem sequer pagam renda ao dono", ia dizer a senhora da querida lavandaria mas não teve oportunidade porque, de imediato, as televisões se viraram para o taberneiro que exige imigrantes a falarem português e a partilharem os nossos valores, tal e qual os imigrantes do deputado eleito pelo partido da taberna a que preside, e que na plantação de espargos de que é proprietário só emprega falantes de português, adoradores de Jesus Cristo, da Nossa Senhora de Fátima, da Irmã Lúcia, e tementes a Afonso de Albuquerque, que os mantinha na ordem e lhes fazia ver o que era bom para a tosse.
As prestações televisivas do Sebastião Maria são todas excelentes quando não geniais, as de Catarina Martins e Cotrim de Figueiredo são por causa da sua [deles] experiência política. Comentariado mais ideologicamente comprometido não deve haver em televisões nenhumas por essa Europa fora. Puta que pariu.
A Palestinian man and his children sit in a destroyed room following the targeting of a residential building by an Israeli air strike in Rafah in the southern Gaza Strip. Eyad Baba/ AFP