"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
António Costa "admite tomar medidas contra a inflação", não vai tomar, admite. Assim como tinha admitido o fim dos vistos gold. Foi há tanto tempo que já ninguém se lembra, foi em Novembro passado. Temos o país constantemente paralisado por greves, dos médicos aos professores, passando pelo enfermeiros e técnicos de diagnóstico, aos transportes públicos, funcionários judiciais e administração pública, mas António Costa tem "acordo com a concertação social, na função pública, com a Associação Nacional de Municípios e tem dialogado na Assembleia da República". E repete isto uma vez atrás da outra, as vezes que forem necessárias, não convencendo ninguém e enganando-se a ele e aquele sindicato dos bancários também conhecido por UGT. António Costa anuncia um conselho de ministros todo ele "exclusivamente dedicado à política de habitação", quando todos nós, na nossa humilde ignorância, pensávamos que "política de habitação" era inerente à função de governar e que os conselhos de ministros eram aquelas coisas que aconteciam naturalmente, como processo de governação. Afinal "anunciam-se".
Propaganda, show off e fogo de artifício, como dizem os camaradas brasileiros, é nos trinques, governar é que está quieto. Talvez da próxima António Costa admita começar a governar. Ou anuncie um conselho de ministros todo ele exclusivamente dedicado à governação.
Children of Taliban members, dressed in military uniforms, hold weapons as they walk on a snow-covered street in Kabul, Afghanistan. Reuters/ Ali Khara
Foi praxis dos totalitarismo do séc. XX, o nazi e o soviético-estalinista, desumanizar o outro, o adversário político e o adversário dentro do próprio partido, no caso soviético, de forma a que depois já "inimigo" fosse aceitável a sua punição, o seu extermínio aos olhos da população. "Parasita", "Insecto", "Rastejante", "Verme", "Rato", "Vírus".
No dia 27 libertaram Auschwitz, no dia 28 o NKVD, antecessor do KGB, começava a enviar os guerrilheiros do Armia Krajowa para o Gulag em Kolimá, que só diferia de Auschwitz por não ter crematório, e de onde a esmagadora maioria nunca regressaria, antes de uma pausa na margem do Vístula, ordenada por Estaline ao Exército Vermelho, por forma a dar tempo aos nazis de fazerem a "limpeza" de Varsóvia, depois de dois meses de uma revolta liderada pela resistência. Há mais horrores que requerem mobilização de todos para que a história não se repita e para que a memória nunca se apague, que memória apagada é morrer duas vezes.
No dia em que o palco ruiu por causa do trabalho de investigação de um "anónimo" no Twitter, o senhor Silva, diz-se que quer ser Presidente da República, sai-se com as redes sociais estão a "enfraquecer instituições". O timing é tudo, como sói dizer.