"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Rui Rio, alegado líder do PSD, num evento que contou com a participação de Paulo Portas, ex-líder do CDS, das escutas que metiam um banqueiro a pagar o salário ao líder, ex-ministro que meteu o BES à força no consórcio dos submarinos, e de Cavaco Silva, o tal, aquele que para serem mais honestos que ele têm de nascer duas vezes, e que antes tinhas inventado a clique do BPN e do BPP, quer saber como foi possível um caso como o do Joe Berardo. Estas merdas não se inventam.
Quem continua a rir é Mário Crespo que durante mais de um ano promoveu o comendador, dia sim dia não no telejornal da televisão do militante n.º 1, SIC Notícias, a vender moral, rectidão, subida na vida a pulso, e objectivos patrióticos. O idiota útil no título não é o Crespo, até porque está no plural.
A prisão de Joe Berardo "é um dia triste para o mundo empresarial" diz o doutor sujeito que, aproveitando a experiência e o conhecimento adquirido no Estado enquanto jurista na Autoridade Tributária e Aduaneira, foi trabalhar para o privado como consultor fiscal na empresa de Caiado Guerreiro, especialista em fuga ao fisco e desviar fortunas para paraísos fiscais. Cada um com as suas preocupações.
Resistiram a suspeitas de corrupção e compadrio na liderança do partido; resistiram a dirigentes com simpatias declaradas pelo fascismo e saudosos do Estado Novo; resistiram a promiscuidades várias entre negócios, banca e política; resistiram a inflexões e reviravoltas plasticínicas [inventei agora, uma mistura de coluna vertebral de plasticina com cinismo] na linha política do partido; resistiram ao populismo xenófobo e racista do líder em campanha com o Correio da Manha [sem til] na mão; a tudo isto eles resistiram, só não resistiram às suspeitas de serem definitivamente arredados do poder com a morte do partido que se adivinha.
A imagem que se quer passar, muito cool e descontraído, sentado com os sapatos em cima de um banco de um jardim público da cidade que se propõe governar. Num qualquer país do norte da Europa, naquelas democracias com que enchem sempre a boca por comparação com o nosso "desgraçado atraso" e "falta de cultura democrática", esta fotografia era mortal para qualquer político, por cá é só mais do mesmo, a imagem da nossa baixa exigência cívica.
Invocar uma suposta luta e/ ou resistência ao comunismo para justificar posições totalitárias e/ ou contrárias aos direitos humanos é uma especialidade da direita já merecedora de uma Lei de Godwin. Dito de outra maneira, em português corrente, não um, um único filho da puta de direita que não justifique a sua pulsão totalitária com a luta contra o comunismo.