"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Terminaram os campeonatos de andebol, basquete, vólei, hóquei e futsal. O rally de Portugal não se realiza. O pontapé na bola vai continuar a partir do sítio onde tinha ficado parado. A seguir o The New York Times vai fazer uma correcção ao artigo e pedir desculpas aos leitores porque afinal não é o Benfica, o futebol em Portugal é que é um Estado dentro do Estado com o[s] Governo[s] refém[éns].
Adenda: Parece que tradicional cumprimento entre capitães de equipa e equipa de arbitragem antes do jogo não vai ser permitido por causa das boas regras de higiene preventiva e do distanciamento social. E as tradicionais molhadas nos livres e nos cantos e a carga de ombro e entrada de carrinho e o beber da mesma garrafa e despejar a água que sobra cabeça abaixo nas interrupções do jogo também? Alguém ainda leva a sério a palhaçada em que se transformou o futebol português
"Students eat their lunch on desks with plastic partitions as a preventive measure to curb the spread of the COVID-19 coronavirus at Dajia Elementary School in Taipei on April 29, 2020". Sam Yeah, AFP Photo.
O Partido Socialista, "pai" da direita em democracia, que aproveita todas as oportunidades para "morder" o PS e a democracia. Morreu o CDS que inventou o slogan do fundador do PS candidato presidencial. Quarenta e seis anos do 25 de Abril resumidos num óbito.
"Quem é que nunca teve problemas com o motor de arranque?"
O regresso de alguns comerciais às televisões dizem mais do estado da Nação em tempos de Covid-19 que horas a fio de comentadeiros com avença no prime time generalista e em contínuo no cabo.
"Aliás muitos vão dizendo, é pá eles se abrirem eu vou meter atestado" [minuto 02:14], diz com a maior das naturalidades o comissário Mário Nogueira. Professores que metem atestado sem estarem doentes era coisa que toda a gente já sabia, a novidade é ter sido dito com o maior dos desplantes na televisão para toda a gente ouvir, desde os que estão em casa em layoff, aos que se viram de um dia para o outro no desemprego ou com o negócio à beira da falência, até aos que para a semana começam já a trabalhar na fábrica, todos os dias com o coração nas mãos. Toda a gente ouviu excepto o bastonário da Ordem dos Médicos, sempre ligeiro a apontar o dedo às falhas do Serviço Nacional de Saúde. Médicos que passam atestado médico a pedido e a quem não está doente, vai na volta a culpa é do Governo e do ministério da Saúde. Como diz o outro, "isto é gozar com quem trabalha".
O que me deixa tranquilo nesta contaminação dos lares da terceira idade com Covid-19 é que até agora só os "colaboradores" foram contaminados, nas televisões não há notícias de trabalhadores nessa situação, menos mal.
Fui ao Lidl do Bairro do Liceu e estava a tocar Massive Attack nas colunas de som. À saída fiquei um bom bocado cá fora para ver se a seguir vinha Tricky mas era sorte a mais no mesmo dia no mesmo supermercado.
No regresso passei pelo Bairro do __________ e o barbeiro estava aberto a cortar o cabelo aos velhos. A vida é bela.
"São pessoas de profissões muito, muito diversas. Desde os motoristas de táxi ou de Uber, pessoas que trabalham em ginásios, fisioterapeutas, dentistas, trabalhadores de circos ambulantes, feirantes, cabeleireiras, manicures, pessoas das profissões ligadas ao turismo. E aquilo que temos hoje é um grande número de pessoas que, de repente, não têm qualquer rendimento ou remuneração". Diz a Isabel Jonet que nunca viu nada assim, com os exemplos dados de profissões ditas liberais, do recibo verde, do fugir à factura para fintar o fisco. Lembrem-se depois quando vos vierem dizer que "baixar os custos do trabalho foi a reforma que ficou por fazer" e que o mercado do trabalho deve ser liberalizado e desregulado, sem direitos, garantias e vínculo contratual, porque o Estado só atrapalha o elevador social e a livre escolha dos cidadãos mais as leis laborais e os sindicatos que são um entrave ao crescimento da economia e à criação de riqueza, na conta bancário do patrão e do accionista e do paraíso fiscal na Holanda.