"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Marcelo Rebelo de Sousa, mais rápido que o INEM a chegar à queda de uma avioneta em cima do telhado de um hipermercado a dezenas de quilómetros de Cascais; Marcelo Rebelo de Sousa, mais rápido que a própria sombra a chegar ao descarrilamento de um eléctrico numa calçada de Lisboa; Marcelo Rebelo de Sousa, sempre disposto a meter o bedelho onde não é chamado, e onde os poderes presidenciais não são tidos nem achados, para condicionar a acção do Governo; Marcelo Rebelo de Sousa, que se baba todo e que fica com a cara toda babada para beijar tudo o que respira à face da terra e que lhe renda simpatia popular; Marcelo Rebelo de Sousa não comenta o "vai para a tua terra" de André Ventura e "desaconselha escaladas" porque "o radicalismo fomenta o radicalismo, a agressividade fomenta a agressividade". Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente que jurou cumprir e fazer cumprir a Constituição, diz ao deputado do Chega que pode dizer tudo o que lhe vai na real gana e diz aos restantes deputados, partidos políticos, cidadãos anónimos deste país que devem ouvir e calar e se calhar até dar a outra face, fazer o sinal da cruz e dizer "amém!".
O Iniciativa Liberal, cujo programa económico e social é igualzinho ao do Chega, se calhar até nas virgulas: acabar com a escola pública, acabar com o Serviço Nacional de Saúde, entregar a Segurança Social - pensões e reformas, a fundos privados, e que foi levado a cabo, com o "sucesso" que se conhece, pelos rapazes de Chicago no Chile do golpista-fascista Pinochet, introduz a "liberdade de expressão" na tomada de posição sobre o "vai para a tua terra" com que André Ventura despachou uma deputada eleita pelos cidadãos em eleições livres e democráticas.
Não se percebe bem a que propósito a "liberdade de expressão" aparece, aqui e neste contexto, ou se calhar até se percebe. Se a liberdade da deputada Joacine propor a devolução das obras de arte retiradas às ex colónias, retiradas, não compradas ou doadas, como, por exemplo, o Metropolitan Museum of Art de Nova York fez ao Egipto com as peças retiradas da tumba de Tutankhamon, ou como o Museu de Atlanta, também nos States, com a múmia de Ramsés I, nós, que passamos a vida a lastimar-nos do saque cultural e científico sofrido durantes as invasões francesas, se a liberdade de André Ventura mandar quem quiser para a terra que lhe der na real gana, tudo a brincar, pois claro e sem emoji, até ao dia em que uma maioria lhe permita fazer uma lei a sério, para depois andarmos todos a ganir, liberais incluídos, o poema do Martin Niemöller "Quando os nazis vieram buscar os comunistas, eu fiquei em silêncio; eu não era comunista" e o caralho.
Uma pessoa desequilibrada agride uma médica numa urgência psiquiátrica e o evento é apresentado no telejornal da RTP 1 como exemplo de agressão a profissionais de saúde num trabalho sobre as agressões no Serviço Nacional de Saúde [nos idos de Correia de Campos todos os dias nascia uma criança numa ambulância].
O que se espera da televisão pública é informação de qualidade e isenção que as televisões privadas não têm, subjugadas que estão à agenda da saúde privada [principal beneficiária da campanha cerrada de desinformação e ataque, em curso contra o SNS], pela dependência das receitas publicitárias, provenientes dos grupos económicos proprietários de hospitais privados, seguros de saúde, e com participação accionista nos media, quer pela orientação política e ideológica da redacção, nomeada pelo accionista, perante o qual responde através de resultados e objectivos pré estabelecidos pelo grupo, numa lógica de funcionamento em circuito fechado.
Na impossibilidade de depoimento presencial, com suporte vídeo e audio para posteriormente fazer chegar aos media tablóide e passar em repeat na televisão do Correio da Manha [sem til] até ao julgamento e condenação na praça pública no grande circo da justiça, apareceu a lista das perguntas "a que a RTP teve acesso" e "a que a SIC teve acesso". Segue-se o tradicional "o Ministério Pública suspeita".
Diz que o CDS do Chiquinho Chicão, retrógrado até aos anos 40 do século XX, se afasta da matriz dos "pais fundadores", Adelino Amaro da Costa & Freitas do Amaral, como se estivéssemos todos esquecidos do albergue que sempre foi dos sectores mais reaccionários da sociedade portuguesa, dos sem-vergonha que não se esconderam no PS e no PPD logo a seguir à revolução de Abril, dos ex-União Nacional, legionários, pides e restante bufaria, mais o caciquismo descente das Câmaras Municipais nomeadas pelo Estado Novo e o amém dos bispos, padres e padrecos católicos ultramontanos, nos sermões dominicais nas igrejas do interior a incentivar as perseguições aos comunistas e os assaltos às sedes dos partidos de esquerda, do terrorismo do ELP, do Maria da Fonte e do MDLP, e dos "meninos nazis" da canção do Zeca nos centros urbanos. O CDS do respeitinho é muito bonito, do cada macaco no seu galho e do manda quem pode, obedece quem deve, dos privilégios para a elite, dos 10 nomes no nome, da ausência de saúde pública, do ir à escola para aprender a assinar o recibo do ordenado no final do mês, da caridadezinha e do assistencialismo. Como se a não ter havido o 25 de Abril de 74, corte epistemológico, Freitas & Amaro não fossem a evolução do regime na continuidade. Os pais quê?
Um vulgar ladrãozeco e chantagista de empresas, enquanto largava cirurgicamente informação surripiada a um clube rival do seu, para sair nos media a conta-gotas, truncada, amputada a jeito e fora do contexto, e que apanhado com a boca na botija, para salvar a pele, se transformou em denunciante 'soprador no apito' em menos de um fósforo...
"With baseball caps and scarves covering their faces, only their serious eyes are visible as a dozen children stand to attention, rifles by their side.
In the heart of the violence-plagued Mexican state of Guerrero, learning to use weapons starts at an early age.
In the village of Ayahualtempa, at the foot of a wooded hill, the basketball court serves as a training ground for these youths, aged between five and 15."