"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
No intervalo entre saudações o PCP podia dedicar algum tempo num quadradinho de página no Avante! para nos explicar a diferença entre as chapeladas eleitorais de Nicolas Maduro do "socialismo bolivariano para o século XXI" e as de Salazar e Caetano no fascismo do Estado Novo, por exemplo. E também por exemplo a diferença entre a supressão de direitos, liberdades e garantias, a censura da imprensa, e encerramento de jornais, televisões e rádios, as "conversas em família" do líder revolucionário Maduro uma noite por semana na televisão, a perseguição à oposição e os presos políticos do "socialismo bolivariano para o século XXI", a tortura praticada pelas milícias, polícias e forças militares em total impunidade, o poder judicial submetido ao poder político, e a ditadura fascista do Estado Novo de Salazar e Caetano de que os comunistas e o PCP foram as principais vítimas.
Isto do Interior e da desertificação do Interior e da discriminação positiva e blah blah blah é tudo muito bonito, sim senhor, e nem sequer vamos falar das medidas tomadas e das políticas implementadas em quase 50 anos de democracia por quem teve e tem e vai continuar a ter responsabilidades governativas e que levaram a que as pessoas fugissem a sete pés do interior do país para o litoral ou para a emigração - encerramento de escolas, tribunais, hospitais, postos de saúde, repartições públicas, postos dos correios, agências bancárias e o coise, e não se dando por contentes, os mesmos das tais políticas, cortam agora as vagas nas universidades e politécnicos do litoral para as abrir no tal dito interior, onde as vagas nunca são na totalidade preenchidas e onde cursos há que nem sequer chegam a abrir, para dificultar ainda mais o acesso das classes baixas e médias ao ensino superior, porque uma coisa é uma família de Setúbal ou de Sesimbra ou de Almada, por exemplo, ter um filho ou dois a estudar numa universidade ou politécnico no distrito, ou até mesmo em Lisboa, outra coisa completamente diferente é a mesma família ter a descendência a tirar o curso em Beja ou na Guarda ou em Portalegre ou na Covilhã, com a acção social miserável que temos e com o preço das rendas e alimentação e transportes, porque as propinas a roupa e as sebentas não entram agora aqui, e despesas com a saúde não há-de ser nada se Deus quiser.
Era só o que faltava um numerus clausus instituído por um Governo do Partido Socialista apoiado pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda. A direita não faria melhor e Nuno Crato até se deve estar a roer de inveja por nunca se ter lembrado de tal coisa. O filho do doutor é doutor e o filho do pedreiro é pedreiro e vai mas é trabalhar malandro, manda qujem pode obedece quem deve. Tudo está bem quando acaba bem.
Francisco Assis que, faz hoje exactamente 8 anos, já era mais velho que Mário Soares e que, três anos passados, se aproximava a passos largos do título "Matusalém da Política", aquele que nunca percebeu que o seu partido era o PSD, aparece a defender uma coligação de Governo com o CDS da luta contra o Rendimento Mínimo Garantido, com o CDS do fim do salário mínimo e da progressividade do sistema fiscal, com o CDS da redução, no valor e no tempo, do subsídio de desemprego, com o CDS da retirada de competências às funções sociais do Estado e entrega aos privados e à Igreja Católica, com o CDS contra a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, com o CDS contra a educação sexual nas escolas, com o CDS contra a procriação medicamente assistida, com o CDS contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, com o CDS da ameaça do envio do diploma da co-adopção para o Tribunal Constitucional, com o CDS... vem agora, com os bolsos das calças e do blazer cheios de bolas de naftalina, afiançar que "a 'Geringonça' é como os iogurtes, tem um prazo e validade", o que, não deixando de ser uma lapaliçada, dito por ele soa a euforia wishful thinking do "ó tempo volta para trás".
"O amor à camisola" e "jogar com amor à camisola" é o mais ouvido nos dias que correm da boca de adeptos e sócios do Sporting, em telefonemas para fóruns e programas de opinião pública nas rádios e televisões, e em entrevistas de rua, ao acaso, a anónimos sportinguistas. É este precisamente o drama do Sporting. No séc. XXI da futebol indústria, dos clubes empresa, dos milhões em receitas televisivas, publicitárias, direitos de imagem, merchandising, dos CEO's especializados em futebol a transitarem entre clubes, as vezes com rivalidades de morte entre si, para exercerem a profissão para a qual são pagos, do jogador super star global, profissionais irracionalmente pagos, cobiçados por outros emblemas e que geram recita e mais-valia com as transferências. "O amor à camisola". Amor à camisola era em 1926, na equipa do Vitória Futebol Clube de Setúbal onde jogou o meu avô [terceiro em pé a contar da esquerda]. Estamos em 2018.
"it’s a turbulent time for many people across the world, but in one fell swoop, a design can still inspire hope. this powerful installation, the bulletproof ‘pride shield’, symbolizes hope and tangibly reminds the world that together, we can stop violence"
"Sentido de responsabilidade". A culpa da comunicação social. Eu. A culpa do sobrinho do BESA, do BES, de Angola, do dinheiro do contribuinte ali empatado, não é a marca ideal para prestigiar o Sporting. O Sporting antes de mim. A culpa do Ricciardi, primo do outro, do Ricardo Salgado, não sei se estão a ver, consegue andar aí pelos ontervalos da chuva. A minha família. Os cartilheiros do Benfica. A corrupção no Benfica. A comunicação social ao serviço do Benfica. Eu. A comunicação social, compreendo, atacada na assembleia em Alvalade, querem vingança, mas se puserem a mão na consciência percebem porque é que foram atacados. Não nos deixam trabalhar em prol do Sporting. A minha vida privada e o Sporting e a minha família e eu. Chamei a atenção do Patrício, que até tem uma camisola no museu do clube, e dos outros atletas, que não se insulta nem responde torto a um membro da claque. A minha ex-mulher fugiu com a minha filha mais nova por culpa da comunicação social. O Rogério Alves e o Renato Sampaio. O Presidente da República que andou comigo ao colo e o presidente da Assembleia da República. Eu. O Sporting. O Sporting antes de mim e o Sporting depois de mim. Nunca disse aos membros da claque para não insultarem a atacarem jogadores, pelo menos do próprio clube. Os actos indiundos [sic]. Eu. O Sporting e a minha família e eu e o Sporting e a minha família. O Miguel Sousa Tavares que me quer ver morto á nascença na primeira página do Expresso e o Sol que me põe a dar ordens para o ataque a Alcochete quando estava com a minha mulher a lutar pelo nascimento da minha filha, aquela que mandei anunciar nos ecrãs de Alvalade antes de um jogo de futebol. O Jaime Marta Soares, dinossauro autarca, diz-me uma coisa e faz outra, coitado nem desliga o telemóvel para dormir. Eu e a minha família e eu e a minha família. Bardamerda para quem não é do Sporting! "Sentido de responsabilidade".
Nunca, mas nunca diz, ou sequer levemente admite, que as coisas são merecedoras dos actos praticados, só justifica, subtilmente, os acontecimentos com as coisas que levaram aos actos, sempre alheias à sua pessoa, sem qualquer causa-efeito.
O curioso, ou sinónimo de patologia grave, é a constante mistura dos planos familiar, profissional e clubístico para justificar cada acção ou como vitimização.