"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Quando o Procurador Souto Moura chegou a casa do juiz Rui Rangel acompanhado pelos inspectores da Polícia Judiciária tinha à sua espera jornalistas e o directo, em primeiríssima mão numa televisão, para a transmitissão urbi et orbi da execução de um mandato judicial, emitido por uma justiça que não está preparada para lidar com a violência doméstica mas que tem competências, de sobra, para investigar bilhetes de futebol e para pingar, metódica e sistematicamente, para a primeira página do jornal e para a abertura do telejornal dos media dos directos exclusivos das execuções de mandatos, notícias sobre o andamento dos processos até à data do julgamentos.
Diz a direita radical que Joana Marques Vidal foi a melhor Procuradora-geral da República de todos os tempos.
A verdade é que já lá vai meia semana e nem sombras de Hugos Soares ou de Duartes Marques ou de Leitões Amaros ou de Duartes Pachecos ou de Fernandos Negrões [do querido líder não é de esperar porque já lá vai e o Montenegro sabe muito para andar a expor a moleirinha ao sol] ou de Assunções Cristas ou de Nunos Magalhães ou de Nunos Melos ou de Joões Almeidas ou de cecíliasMeireles, cada um por si ou todos por atacado, todos os dias a todas as horas certas nas televisões e nas rádios, secundados por uma troupe de apóstolos, aios e escudeiros, legionários de plantão às "redes", de dedo em riste apontado ao desinvestimento socialista-geringonço na saúde, causa do surto de legionella num hospital privado, do bem-amado grupo Mello. E nem sequer nenhum encartado de jornalista se lembrou ainda de lhes perguntar a que se deve este súbito eclipse.
As jornadas parlamentares do CDS, em Setúbal, com Assunção Cristas, a falar mal dos sindicatos, António Saraiva, da CIP, a falar mal dos sindicatos, o moço de fretes da CIP, perdão, o secretário-geral da UGT, a falar mal dos sindicatos. "Há sabujos de raça nos sindicatosagitadores profissionais na Autoeuropa". Muito bom!
Não se pedia a Marcelo, Presidente, que fosse mergulhar no Açude de Abrantes, mas pelo menos uma selfie com os desgraçados que andam a catar espuma para os camiões cisternas. Pelo menos isso.
O ministro das Finanças que tirou Portugal do lixo das agências com o défice mais baixo da democracia promovido à presidência do Eurogrupo é afinal um badameco que se deixa corromper e que mete cunhas por dois bilhetes de futebol no camarote presidencial do estádio da Luz. Isto é para levar a sério?
Um dos grandes triunfos da direita radical, por via do controlo dos meios de comunicação social e da subserviência à sua agenda ideológica, é toda a gente, onde quer que seja, identificar automaticamente Mário Nogueira com o PCP, e Ana Rita Cavaco, bastonária da Ordem dos Enfermeiros, aparecer sempre como uma virgem impoluta e imune à política e aos partidos políticos.
E a comissária política do PSD na Ordem dos Enfermeiros vem mais uma vez à televisão, sem que em rodapé apareça "Conselheira Nacional do PSD", dizer que formamos enfermeiros para exportar, no Portugal onde Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro, mandou os enfermeiros emigrar e até fazia gáudio com o sucesso que eram as delegações do NHS em Lisboa, no Ritz, para levarem aviões cheios deles para Inglaterra. Não ter a puta da vergonha na cara é isto.
Ver os deputados Duarte Marques, do PSD, e Patrícia Fonseca, do CDS, da maioria parlamentar de suporte ao Governo da direita radical que entregou a pasta do ambiente à agricultura de Assunção Cristas do CDS, da eucaliptização por cima da biodiversidade, do ordenamento do território e da Reserva Agrícola Nacional, "isso depois logo se vê"; da maioria parlamentar de suporte ao Governo da direita radical que entregou a pasta do ambiente à economia de Pires de Lima do CDS, da celulose e da pasta de papel, em nome da recuperação, do crescimento económico e da criação de emprego – directo e indirecto, propagandeado primeiro, nunca contabilizado e confirmado depois; da bancada parlamentar de suporte ao Governo da direita radical que bloqueou todas as acções inspectivas ambientais em nome da racionalização de custos e meios e de cortar fatias de gordura ao Estado – o celebérrimo fazer mais com menos; Duarte Marques, do PSD, e Patrícia Fonseca, do CDS, agora na bancada parlamentar da oposição preocupados com a poluição no Tejo, das descargas das celuloses e de outras criações de riqueza avulso. Não ter a puta da vergonha na cara é isto.