"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Entre o ano de 2011 e o ano de 2014, anos da governação da direita radical - PSD/ CDS, suportada por Cavaco Silva, aconteceram coisas "estranhas" em Portugal...
Discrição, recato, fiabilidade, boca cerrada, três das qualidade exigidas a um banqueiro. Como António Domingues manchou a sua reputação por andar, ressabiado, com segredinhos de pé de orelha a António Lobo Xavier, administrador da sua entidade patronal - o BPI, Conselheiro de Estado nomeado por Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República.
Cavaco Silva que nunca desconfiou de Oliveira e Costa, Cavaco Silva que nunca desconfiou de Arlindo de Carvalho, Cavaco Silva que nunca desconfiou de Dias Loureiro, Cavaco Silva que nunca desconfiou da rentabilidade das acções da SLN não cotada em bolsa, Cavaco Silva que nunca desconfiou de Ricardo Salgado e, não só nunca desconfiou, como até aconselhou os portugueses a confiarem, pois bem, Cavaco Silva sempre desconfiou de José Sócrates, de tal forma que até achou por bem deixar a desconfiança plasmada em livro para a posteridade. Um desconfiado do caraças este Cavaco Silva.
Nos idos dos PIN - Projectos de Potencial Interesse Nacional, o saque à Reserva Ecológica Nacional e à Reserva Agrícola, o saque ao património nacional comum trazia sempre às costas a justificação dos postos de trabalho criados. Qualquer hotelzeco com mais de 3 estrelas, campo de golfe ou resort de luxo, construído onde anteriormente era proibido montar uma tenda de campismo selvagem, vinha sempre com milhares de postos de trabalho, directos ou indirectos, no horizonte. Nunca ninguém se lembrou de os confirmar, dez e mais anos que são passados, o impacto nas economias locais, a criação de riqueza para as populações.
Ontem ouvimos todos Pedro Marques, ministro do Planeamento e das Infraestruturas, anunciar perante uma sala cheia de gente, e ainda mais as televisões e as rádios, a criação de 20 - vinte - 20 mil postos de trabalho com as low cost no Montijo, sem que ninguém na sala esboçasse sequer um sorriso e sem que a comunicação social fizesse perguntas. Vinte mil por uma "pista de skate" na margem sul comparativamente com os mais de 70 mil de Heathrow, um dos maiores aeroportos da Europa e do mundo. Só faltou juntar o indicador e o polegar e proclamar Let's Make Distrito de Setúbal Great Again.
Que foi António Lobo Xavier quem mostrou ao Presidente da República os sms trocados entre o ministro Centeno e o banqueiro Domingues. António Lobo Xavier do conselho de administração de um banco privado concorrente do banco do Estado. Do banco privado BPI onde o Governo do Partido Socialista foi buscar o banqueiro Domingues para pôr na linha a Caixa Geral de Depósitos, em nome de quem andou por Bruxelas a negociar, na posse de informação privilegiada, em modo antes de o ser já era. Privado também o escritório de advogados onde o Governo do Partido Socialista foi encomendar um fato por medida para que o banqueiro privado escapasse ao controlo público. O público anónimo que via o banco do Estado recusar um crédito de uns milhares de euros para fazer obras na casa ou para abrir um pequeno negócio, mãos largas com milhões a fundo perdido para privados em negócios privados que o meteram no buraco em que se encontra, em 40 anos de administrações do "arco da governação", albergue de nomeações PS/ PSD/ CDS. Digam o que disserem as coisas são o que são e não há volta a dar-lhe, continuemos pois a discutir sms entre ministros e banqueiros e continuemos a enterrar ainda mais a Caixa Geral de Depósitos até ao ponto em que seja o contribuinte a pagar do seu próprio bolso a sua privatização.
Sem perceber porque é que as sondagens lhes continuam a ser adversas e no desespero de entalar o ministro das Finanças, o primeiro-ministro, o Governo, o Presidente da República [não necessariamente por esta ordem], e provocar a queda do Governo que desmontou o TINA [There Is No Alternative], alfa e ómega do Governo da direita radical durante quase cinco anos, a liderança do PSD insinua as semelhanças entre o Governo PS de António Costa, suportado pela esquerda no Parlamento, e o Governo PS minoritário de José Sócrates, já julgado e condenado nos jornais e televisões. Vale tudo.