"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Tempos houve em que era normal a escravatura, e depois outros tempos em que a escravatura só era aceitável nos trabalhos considerados menos dignos pelas e para as raças ditas superiores, e depois tempos em que era normal trabalhar até morrer, seguidos por tempos em que era normal trabalhar de sol a sol, todos os dias do ano, até aos tempos em que havia um horário de trabalho, um dia de descanso por semana e férias por conta de quem as metia, para os tempos de horários de trabalho de 35 horas semanais, com dois dias de folga por semana mais feriados e pontes e 25 dias de férias pagas, o tempo em que até já há um Índice Global da Escravatura que diz que Portugal, em dois anos, subiu "35 posições no ranking dos 167 países com maior índice de escravatura — passou de 157.º para 122.º", e que este aumento significativo se deve à mudança de método usado, afinação, para chegar às estimativas. E quando chegar o tempo em que a mudança do método usado, a afinação para chegar às estimativas, passar a considerar um salário digno, que permita a todos os cidadãos satisfazer todas necessidades básicas e ainda lhes sobrar algum para o lazer e aforrar para alguma eventualidade, quantos países é que acompanham Portugal na subida significativa no ranking da escravatura?
Hoje o tema era o alcoolismo entre os jovens. Um casal de actores representava. Ele, a cair de bêbado, queria levar o carro, ela, um bocadinho menos alcoolizada, opunha-se e até procurava ajuda entre os transeuntes. A ideia era testar a reacção do cidadão anónimo. Tudo entremeado com testemunhos de ex-alcoólicos. A dada altura surge "o consumo de álcool entre alunos de uma escola pública" porque, como é por todos sabido, os alunos das escolas privadas não tocam em pinga, é só light e sumos naturais e os afogados no Meco foram-no por hipnotismo. E assim Conceição Lino, na altura certa e na hora certa, que é a altura e a hora em que o país debate o uso de dinheiros públicos para financiar negócios privados na educação onde já há oferta pública, consegue manchar um serviço público de televisão prestado por um canal privado. E se fosse contigo?
[Imagem "Rue Mouffetard, Paris, 1954", Henri Cartier Bresson]
"Cá não há misturas, é tudo boa gente!", na boca dos infantes na manif do Portugal ultramontano, com o alto patrocínio da Igreja Católica e da direita radical. E toda a gente sabe a significado de "boa gente" na boca de muito boa gente. Cada macaco no seu galho. E toda a gente sabe o significado de "misturas" na boca da boa gente que não se mistura. Galdeiragem à parte. "Não somos escolas para meninos ricos nem para betinhos". Manda quem pode, obedece quem deve. O que eles dizem e o que eles omitem e o que eles fazem. E às vezes descuidam-se. Respeitinho é muito bonito. A merecer ralhete dos mestres, os meninos.
Em 22 519 caractreres de entrevista aproveita-se isto e é com isto que vamos ter de contar:
Assume desde já que não vai sentir-se derrotado se perder, e que não vê razões para se ir embora se não correr bem. “Fazer pior do que em 2013 em termos de score é muito difícil”, deixa escapar, lembrando as 106 câmaras (20 das quais em coligação com CDS) que os sociais-democratas tiveram nas autárquicas de há três anos, contra as 150 socialistas. É tudo, de resto, uma questão de perceção, e sobretudo de gestão de expectativas.
Escrevia Pacheco Pereira em 2008 a propósito do consulado de Luís Filipe de Menezes no PSD que para o tirar de lá tinha de ser à bomba "dado que em 2009 [ano de eleições] há dezenas de lugares apetecidos para distribuir e para cada lugar há cinco pessoas da 'situação' a quem este foi prometido e dez que acham que lá podem chegar no meio da guerra civil". Parecia então que Luís Filipe de Menezes tinha sido o pior pesadelo da história do PSD. Parecia. Porque agora, além dos lugares para distribuir nun hipotético regresso do PSD ao poder, por via de legislativas antecipadas pelo fracasso da 'Geringonça' e com uma mãozinha da Europa do Partido Popular Europeu, há também um 'predestinado', um homem que tem uma missão a cumprir, um desígnio na passagem pela vida terrena – resgatar Portugal da revolução comunista de Abril de 1974 e reescrever a História. Vai ser terrível.
1. Os contratos de associação em questão foram submetidos à fiscalização prévia do Tribunal de Contas (TC) em 2015.
2. Como é habitual, foi produzida uma informação técnica preparatória, pelos Serviços de Apoio do Tribunal, a qual não tem natureza vinculativa e não é notificada às partes.
3. O Tribunal de Contas considerou que os contratos em causa estavam de acordo com a legislação em vigor e que os encargos deles resultantes tinham o devido suporte financeiro, pelo que concedeu visto.
Depois do maior ataque ao Estado social de que há memória em 40 anos de democracia, perpetrado em quatro anos de Governo da direita radical, depois de todos os retrocesso na saúde, na educação, na justiça, em direitos e garantias, o extremismo e o radicalismo, à direita, continua a ser "centro-direita":
A UGT quer que a representatividade que não lhe é reconhecida no meio laboral, que os trabalhadores que não tem sindicalizados lhe paguem uma quota mensal como forma de legitimar a luta da UGT, since 1978, na retirada de direitos e garantias, aos trabalhadores, na desvalorização da contratação colectiva, na assinatura de sucessivos códigos do trabalho com condições cada vez mais gravosas, para os trabalhadores, sempre em benefício da rigidez patronal, com a promessa de um amanhã que canta, e que canta sempre para a mais-valia dos patrões e dos accionistas.
Nos idos em que o comissário Nogueira metia 100 mil professores nas ruas [contas do jornal do militante n.º 1], da Avenida da Liberdade à Praça do Comércio, contra José Sócrates, Maria de Lurdes Rodrigues, a reestruturação do parque escolar e a avaliação dos professores – não necessariamente por esta ordem, o PSD metia os deputados na rotunda do Marquês do Pombal a aplaudir os profs, a mulher de António Costa lá no meio dos comunas – com honras de primeira página no Correio da Manha [sem til], contra José Sócrates, Maria de Lurdes Rodrigues, a reestruturação do parque escolar e a avaliação dos professores – não necessariamente por esta ordem, ambos em defesa da escola pública.
Depois José Sócrates foi-se embora, e com ele Maria de Lurdes Rodrigues, e com ambos o comissário Nogueira, que nunca mais ninguém deu pelo camarada em quatro anos de Governo da direita radical, e os profs, que deixaram de ser 100 mil – isso nem o Benfica campeão, quanto mais, foram mandados trabalhar para Angola, Brasil e outros destinos menos exóticos, e o maoísta Nuno Crato pôde levar a cabo, na paz dos anjos, o maior ataque à escola pública de que há memória desde que existe escola pública e sem direito a cartazes, apesar dos crimes de Estaline ao pé dos de Mao serem assim a modos como limpar o rabinho a crianças, mas isso também era exigir demasiado a palermas da jota laranja, atarefados entre universidades de Verão e o sentirem-se homenzinhos ao lado dos homens, no Parlamento onde têm assento por uma quota que cabe à agremiação, e também por nunca terem ouvido falar do chinês carniceiro aos mais velhos, que o partido está pejado de ex leitores do livrinho vermelho e não convém fazer muitas ondas e mexer na merda com uns pauzinhos e também porque agora a hora é de luta contra o estalinista Mário Nogueira – a soldo do PCP e com o Bloco de Esquerda à pendura, em defesa da escola pública, que não tem de ser obrigatoriamente assegurada pelo Estado mas através de um serviço público de escola assegurado pela iniciativa privada, que foi a volta que a direita radical deu para justificar o não haver dinheiro para nada nem para a saúde, as pensões, as reformas, os salários, mas sobrar à brava para colocar o Estado ao serviço de interesses privados através de rendas pagas pelo contribuinte e dar às escolas a possibilidade de escolherem os alunos que querem das famílias que querem.
E é por isso, pelo serviço público de escola e não pelas rendas asseguradas a interesses privados e a educação pública onde ela estava no dia 4 de Outubro de 1910 – nas mãos da Igreja católica, que o PSD vai mandar os deputados para a rua, contra o comissário Nogueira, contra o ministro da Educação Tiago Brandão Rodrigues, contra António Costa e contra a 'Geringonça' – por esta ordem, e, se calhar com um bocado de sorte, os colégios privados vão meter 100 mil, da 24 de Julho à Assembleia da República, aguardemos para ver o que é que o jornal do militante n.º 1 tem a dizer sobre isso.
Vamos lá a ver se nos entendemos: se a ideia de colar os feriados ao fim-de-semana é para ser discutida na "câmara alta" do Parlamento – a Concertação Social, significa que o Governo antes de tomar uma decisão quer ter em conta a opinião do sector privado e que a proposta é para para ser levada à mesa dos empresários e accionistas patrões, já que os trabalhadores colaboradores nunca são tidos nem achados na dita concertação, onde a UGT funciona como um apêndice do patronato e serve apenas para dar um selo de credibilidade às decisões. Portanto não faz o mínimo sentido levar uma proposta deste teor à mesa dos empresários e accionistas patrões do sector onde os trabalhadores colaboradores não recebem no início de cada ano um calendário com a distribuição dos feriados e respectivas possibilidades de "ponte", que não concedem "pontes" a ninguém nem que haja um novo milagre do Sol em Fátima, onde todas as "pontes" são negociadas com meses de antecedência, quando não mesmo na altura da marcação das férias e onde o dia de férias é usado, gasto para o efeito. Não se percebe o que é que o Governo pretende com esta proposta da treta... Parece mais do mesmo, truques de ilusionismo usados em quatro anos de Governo da direita radical.