"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Nem o sósia de Danny Kaye, que lidera a bancada parlamentar do PSD com muito menos piada e infinitamente pior actor, nem Telmo 'escudeiro-de-Paulo-Portas' Correia, nem o iirevogável vice-pantomineiro percebem que a reabilitação de José Sócrates não está/ não foi feita por António Costa nem pelo novo líder da bancada parlamentar do PS, Ferro Rodrigues, mas por 4 anos de governação PSD/ CDS-PP ou, se preferirem, de Pedro Passos Coelho/ Paulo Portas, debaixo da asa protectora de Cavaco Silva, conseguindo ainda de caminho a proeza de reabilitarem também Santana Lopes e fazerem dele um estadista de primeira água. Compreende-se assim a "assombração" que atormenta, é que a má fé, a incompetência e a mediocridade é tanta e tamanha... E ainda para mais depois de se terem unido para chamar a troika e corrigir o 'regabofe' socialista.
Que Cavaco Silva queira condecorar um seu dilecto dos anos áureos do cavaquismo, porque sim ou porque lhe apetece ou porque acha que deve condecorar ou o que lhe der na presidencial gana, é lá com ele e é uma das funções do Presidente da República, distribuir medalhas e comendas a eito. Agora que venha atirar areia para os olhos dos cidadãos e condecorar por "serviços de extraordinária relevância" para Portugal o mordomo de uma guerra inventada a 5 mil km de distância, que desestabilizou uma região inteira e cujas ondas de choque ainda hoje abalam o mundo; que tenha depois abandonado o Governo e o país, fugido para Bruxelas para ser yes man alemão na Comissão Europeia duma Europa debaixo da maior crise financeira dos últimos 80 anos e deixado como herança a Europa do Norte contra a Europa do Sul e do cada um por si e fé em Deus e ainda ser condecorado por "serviços de “extraordinária relevância" para a Europa, também já é gozar com o pagode.
O que é que isto interessa, a quem é que isto interessa? «Taxa de desemprego em Portugal desce para 13,6% em Setembro». E a criação de emprego [e que emprego e que salários?], a taxa de emprego aumentou para quanto? O Governo das malabarices tortura a estatística até ela dar os resultados pretendidos e engana-se a ele próprio com doses maciças de propaganda pensando que engana os cidadãos. Incluindo jornalistas "patetas" e "preguiçosos", o que é que isto interessa, a quem é que isto interessa?
E depois? Vão daqui para o México meia dúzia de engenheiros de confiança da Mota-Engil tomar conta da obra e dos nativos - baratos, a empregar na obra que vai usar matéria-prima nativa - barata, e receber uma pipa da massa, não em MXN peso mexicano - barato, mas em USD dólares amaricanos - caros e bons, para distribuir pelo patrão e pelos accionistas, cá.
E depois desta ginga-joga toda e de saldadas estas contas e pagas as mais-valias o que é que sobra para a economia nacional, quais são as melhorias que os nativos, baratos, cá, vão sentir na seu dia-a-dia, cá?
E a menos que sejamos membros do Governo e que após terminada a [co]missão de serviço em 2015 ingressemos nos quadros da Mota-Engil como doutores e engenheiros especialistas e qualificados, o que é que a gente ganha com isso? O que é que a gente tem a ver com a Mota-Engil ter ganho uma obra não-sei-quantas no México ou na Patagónia ou fim do mundo?
Não é só a irrelevância do vice-pantomineiro, a saltitar de aeroporto em aeroporto, em bicos dos pés nos telejornais à frente de embaixadas à roda do mundo e até aos cus de Judas, a vender o país por atacado. Não. É a total irrelevância do poder político, subjugado ao poder económico. Como se um multimilionário, um dos homens mais ricos do planeta, precisasse de uma delegação governamental para comprar ou vender o que quer que fosse, dentro e fora de portas. O dinheiro que se poupava ao contribuinte se estas fantochadas fossem mais sóbrias e menos circo ou que se nem sequer acontecessem.
Salvou-se quem interessava que salvasse o seu e Carlos Costa, Governador do Banco de Portugal, até ver, porque o primeiro-ministro e a ministra das Finanças, neste caso em concreto, se escondem atrás do Banco de Portugal e do seu Governador, que parece gostar do papel que lhe cabe, tem muito que explicar.
E Luís Filipe Filipe Vieira, não tem nada a dizer? Já lhe passou o afã da moralização do futebol? Deu por encerrada a cruzada contra a corrupção e a promiscuidade no pontapé-na-bola?