A introdução e adopção da nova bilhética nos transportes públicos, ao contrário do que o Governo parece acreditar e nos quer fazer crer, não se deveu ao desejo de sermos muuuuuito modernos e avançados como o resto da Europa. Não.
Os novos títulos de transporte, e recorrendo só ao exemplo da Área Metropolitana de Lisboa, com o Lisboa Viva em substituição do passe com vinheta autocolante e o Viva Viagens em substituição do bilhete pré-comprado, vendido individualmente ou em carteiras com x unidades e validado a bordo no obliterador, permitem precisamente combater… a fraude, por serem carregados electronicamente e por serem descarregados também por essa via. No caso do passe tradicional, o problema da vinheta fotocopiada e colada no cartão com foto e plastificado deixou de existir, no caso do pré-comprado, o problema do bilhete "picado" ad eternum desapareceu, assim como a fotocópia caseira em cartolina.
Além disso o novo sistema de títulos de transporte, e isto é, a meu ver, o mais interessante, é uma excelente ferreamenta de gestão já que possibilita seguir em tempo quase real o fluxo de passageiros por linha, por carreira, por paragens e por hora, reflectindo-se este acompanhamento em ganhos de produtividade para as empresas e melhor serviço para o utente, e permitir saber, por exemplo, que a carreira x a tais horas sistematicamente vai sobrelotada e é necessário um desdobramento [reforçar com outro autocarro ou um de lotação superior], ou que a carreira y a horas tantas vai sistematicamente vazia, ou quase, e há que proceder a uma alteração da sua frequência [por exemplo, de 15 em 15 minutos para meia em meia hora], ou substituir a viatura por outra de lotação inferior [mini bus], com ganhos ao nível do consumo por km, de conforto para o passageiro, de mobilidade, de facilidade de condução, e mais amiga do ambiente, só a título de exemplo.
E a isto chama-se ajustamento, a empresa a prestar o serviço em função da procura e não, como diz o Governo [?], ou a jornalista [?] a reproduzir textualmente, e sem raciocinar nem fazer o trabalho de casa, a nota de imprensa distribuída pelo Governo, a procura a ser penalizada por via do ajustamento na oferta.
As pessoas vêem-se no desemprego e não têm necessidade de usar o transporte público porque o dinheiro não estica e não precisam de ir a lado nenhum procurar emprego que não existe. As pessoas continuam empregadas ou a viver duma pensão de reforma e vêem o rendimento disponível substancialmente reduzido pela carga fiscal e pelos aumentos dos bens de primeira necessidade, renda da casa, água e luz, e tudo o mais. As pessoas continuam empregadas ou a viver duma pensão de reforma e vêem o preço dos transportes públicos sofrer um aumento brutal na exacta proporção à redução das comparticipações. As pessoas deixam de usar o transporte público para deslocações curtas ou arranjam alternativas mais económicas porque o dinheiro continua a não esticar.
Não há volta a dar-lhe nem maquilhagem governativa que embeleze o quadro negro e a única fraude aqui é o próprio Governo.
[Imagem "New York Subway, 1970" by Jay King]