"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Desde que o senhor Jorge Nuno deu em falar com os mortos os Andrades nunca mais foram ninguém na vida. Agora é esperar por Ratzinger em Portugal e propor a beatificação de Pedroto para ver se as coisas entram nos eixos (lagarto, lagarto!).
Eu andava na escola primária no tempo em que a escola primária não tinha número nem agrupamento escolar, era a escola “do Sousa” porque “o” Sousa era o director e a escola “do Sousa” era a escola onde andavam os filhos dos pescadores do bairro das Fontainhas, só até à 3ª classe, vá lá até à 4ª, e depois iam alinhar nas traineiras que a vida custava a toda a gente. Com um bocadinho de sorte conseguiam ir trabalhar para a estiva que era menos perigoso dava mais dinheiro e acesso a garrafas de uísssquee e tabaco estrangeiro e outras coisas do contrabando. Andava na escola “do Sousa” que ficava no bairro das Fontainhas que já foi bairro de pescadores e que agora é bairro onde os “turistas” de Lisboa vão ao fim-de-semana comer peixe assado, parece uma reserva de índios mas eles acham very tipical e vão felizes para casa e nos ficamos felizes por os ver ir felizes, adiante… e morava no bairro Santos Nicolau, bairro de pescadores e rival do bairro das Fontainhas, daquelas rivalidades de meter porrada de três em pipa só por olhar para a mulher quando ela passava na rua. E no bairro Santos Nicolau, “colonizado” por pescadores oriundos da zona de Ovar, as mulheres, as varinas, enquanto os maridos andavam ao mar com os filhos, trabalhavam nas fábricas de conserva que existiam na ladeira das Fontainhas e ao início do bairro Santos, mesmo encostadas aos muros do cemitério de Nossa Senhora da Piedade.
Serve esta conversa da treta para tentar explicar que brincava com eles na rua e na escola e falava como eles e quando chegava a casa vinha a falar como eles, era humanamente impossível tal não acontecer, e era repreendido e corrigido pelos meus pais. Aqui ninguém carrega no erre nem ninguém troca o éne pelo dê. Não era por nada, mas quem falava assim era gozado e para gozações havia o Zé Maluco e o Engenheiro da Sapec e o Finuras, personagens típicas, e os discos do Raul Solnado. Era assim Setúbal por alturas do Conta-me Como Foi, uma aldeia um ‘cadinho mais pequena do que é agora.
Mas quem sabe nunca esquece, é como andar de bicicleta, e quer-me parecer que já teve do pé-ré e cagorra tá prraia marre. Nã asses mai bogas cu lume tá frraque.
(Na imagem o Engenheiro da Sapec, foto de Américo Ribeiro)
Da última vez que levaram poesia ao rock este descambou no rock sinfónico (blhagh) e foi o marasmo total. Esteve às portas da morte e lá tiverem de vir os bárbaros para tudo voltar à normalidade.
Há quem tenha a espada de D. Nuno Álvares de Santa Maria, a verdadeira, a “que salvou Portugal”, para venda. Da que “matou” Portugal nunca mais ninguém deu fé:
Reza a história que os cavaleiros Templários na sua labuta em espadeirar o “infiel” na Terra Santa, levavam à cabeça um pedaço da cruz onde Cristo tinha sido crucificado. W, outro famoso cruzado, ficou com a “espada” do elo mais fraco como recordação de um dia ter batido à falsa fé em alguém que não era do seu tamanho.
"Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo.
Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus.
Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos.
Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?
E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?
Sede vós pois perfeitos, como são perfeito o vosso Pai que está nos céus."
Mateus 5, 43-48
(Na imagem Berlim 1933, boicote às lojas de judeus organizado pelo partido Nazi "Alemães! Defenda-se! Não comprem em lojas de judeus!")
E agora um dilema comum a todas as ditaduras: mais vale um cadáver na mão do que um vivo a protestar; ou o cadáver de um homem pode ser mais perigoso que um homem vivo?