"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Operação Furacão, factoring ES Bankest, Augusto Pinochet, Mensalão, Portucale. Comum a tudo isto - e a mais alguma coisa - há uma sigla, que não CDS, que marca sempre presença.
(Na imagem July 1956, Greenville, North Carolina, Marshall Joyner and family bowing heads in prayer before dinner, by Margaret Bourke-White, via Life photo archive)
Não sou cínico, e ao contrário do que muito boa gente anda para aí a exigir, acho que Manuela Ferreira Leite deve continuar por muitos e bons anos como líder do PSD. E Paulo Bento no Sporting.
Viver no país onde os cidadãos votam no candidato que lhes oferece bilhetes para um concerto de Tony Carreira. É mau – o candidato e o Tony; seja qual seja o candidato, seja qual seja o Tony.
Os cidadãos chamados a decidir, votaram e elegeram um Parlamento, dando sem margem para qualquer tipo de dúvidas, uma maioria inequívoca aos partidos de Esquerda. Eis pois uma interpretação maravilhosa dos resultados eleitorais e de como deverá ser a acção governativa do próximo executivo - governar à Direita:
O que seria do povo português sem a elite iluminada da classe empresarial! Suspenda-se a Democracia; acabe-se com as eleições, e passemos a pedir a opinião ao senhor Francisco Van Zeller e à corporação a que preside, sobre a melhor forma de governar Portugal.
Francisco Van Zeller devia parar para pensar sobre qual ou quais as razões que levam a que povo conceda votações tão expressivas a partidos à esquerda do PS. Mas isso talvez seja pedir demasiado a mente tão iluminada.
(Na imagem South Carolina, 1956, Margaret Bourke-White's photoessay via Life Magazine photo archive)
A velha máxima “comunismo é fomismo” metamorfoseou-se em “extremo-direitismo é fomismo”, com o PCP a trocar de posição no Parlamento com um CDS a cavalgar a maior crise económica desde a Grande Depressão, e a capitalizar nas urnas com um discurso a apelar aos instintos mais primários de um eleitorado assolado pelo desemprego, preocupado com o aumento da criminalidade, com medo do imigrante que lhe venha roubar o posto de trabalho e a habilmente redireccionado para olhar para baixo na escala social, para os beneficiários do Rendimento Social de Inserção.
Quem boa cama fizer nela se vai deitar e para bom entendedor meia palavra basta, e o pau pode vir e já não ir e deixarem de folgar as costas. Este resultado do CDS é mau sinal: é sinal que no eleitorado português começa a haver abertura para “experiências” mais radicais.
(Na imagem Great Depression, Dorothea Lange's Migrant Mother)
Da minha varanda observo, enquanto fumo um cigarro, os grupos de pessoas que passam em direcção à escola paravotar. Invariavelmente em família: marido e mulher, pais e filhos, com ou sem idade para votar. Os mais velhos, da geração dos meus pais, eles barbeados, de fato e gravata, elas de cabelo arranjado e de vestido impecavelmente engomado, quase a estrear. Os mais novos, barba de 3 dias e cabelos eriçados de gel, de calções, gangas e t-shirt, ténis e até mesmo chinelos.