"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Da última vez que se ouviu falar em Bunker Europeu lá para as bandas de França, foi o que se viu e o que a história regista. Então, as expulsões não foram por via aérea como agora se pretende (sinais dos tempos). Foram por caminho-de-ferro. Em vagões para o transporte de gado.
Pode ser que esteja a fazer uma análise catastrófica; mas esta estória não vai acabar em bem.
Para os mais distraídos destas coisas do pontapé na xixa, convém recordar que o termo futebol, vem do inglês football, ou seja, bola no pé. Esporadicamente com o tronco e a cabeça, e descontando as “mãos de Deus”. É que já não há pachorra para as análises idiotas que vão fazendo escola nas diversas “Quadraturas do Círculo” dedicadas ao pontapé na bola, e que proliferam em todos os canais à excepção do Panda e do Sexy & Hot.
Como Bruno Prata hoje no Público: “Os alemães tinham mais sete centímetros em média (…)” (sem link). Mas para que queriam os alemães os centímetros “a mais”; era a final do Europeu de Basquetebol?
Voltando ao Sexy & Hot. A haver no canal codificado uma “Quadratura do Círculo” dedicada à biqueirada no esférico; aí sim, os centímetros dos alemães podiam fazer a diferença…
Agora ridículo, ridículo, é, todas as Marias (Carolinas ou não) que são recebidas pelo homem-de-saias-e-sapatos-Prada; com o inevitável lenço a cobrir a cabeça; muito pias, de joelhos no beija-mão.
Onde é que estão os habituais, da sempre faca afiada quando toca às Turcas e mais os seus lenços? Se o homem-de-saias-e-sapatos-Prada ainda mandasse na Europa como em tempos que já lá vão, as mulheres por cá eram todas Turcas?
Todos temos a imagem do juiz-de-hollywood que no filme condena o réu com 10 dias de prisão e uma multa de mil dólares. O réu reclama e o juiz face à impertinência do julgado prega-lhe com mais um dia e mais 100 dólares. O desgraçado torna a abrir a boca e leva com outro dia e outros 100 dólares. Já lá vão 12 dias e mil e duzentos dólares. “No meu Tribunal mando eu!”; acompanhado por uma sonora martelada no tampo da secretária, com aqueles martelinhos de partir tenazes de sapateira, usados pelos juízes.
Por cá, uns alarves agridem o juiz dentro da sala (?) de audiências e o homem da capa preta decide retirar-se 10 dias, e mais um, e mais um, até haverem condições.
Partindo da célebre pergunta de Henry Kissinger durante a Guerra-Fria "When I want to talk to Europe, whom do I call?", David Marquand analisa o “Não” irlandês ao Tratado de Lisboa e as perspectivas para o futuro da União Europeia num mundo que se tornou “unipolar”:
“Be bold, Europe, or remain a fat, rich political pygmy
The great question for Europeans as it takes shape is brutally simple. Do we want our children and grandchildren to live in a world run by the Americans, Chinese, Indians and perhaps Russians, or are we prepared to make the qualitative leap towards the federalism that Kissinger's question implies, and become at least a quasi-superpower in our own right?”
Estava para ali a fazer um zapping e vou cair na RTP1, numa reportagem qualquer que abordava “o fenómeno” dos casamentos entre soldados portugueses integrados em missões de paz sob a égide da ONU, e autóctones dos países onde estavam destacados; na Bósnia, no Kosovo, ou em ambos, não tomei muita atenção ao pormenor. Assim como não tomei atenção ao nome do jornalista que assinava o trabalho.
E não tomei atenção por uma razão muito simples: é que me vai faltando a paciência para este tipo de reportagem-idiota; apresentada como se fosse assim um feito histórico a atirar para o sobre humano. Uma coisa assim “do outro mundo”.
Uma nação que enviou centena e meia de moinantes (*) a dar quatro voltas à Terra dentro de uma caravela (e mais não deram porque entretanto a Terra acabou), e que, dentro da caixa craniana, em vez de um cérebro levavam um caralho e foram fazendo filhos em todos os sítios onde aportavam, e, por via disso, inventaram e disseminaram há já 500 – quinhentos – 500 anos o mulato e o mestiço; numa nação que teve o casamento misto instituído por decreto no século XVI (Afonso de Albuquerque; vice-rei da Índia); grande feito ir ao Kosovo e vir de lá casado com uma loura que até tem um curso superior! Poupem-me!
Até parece que estamos a falar de um inglês que casou com uma indiana, ou de um alemão que deixou descendência no Ruanda ou no Burundi. Isso sim é que era motivo de reportagem!