"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Para o pessoal “cá da terra” isto não é novidade; para os outros, e para os mais distraídos, convém ter uma especial atenção aos pormenores.
Um dos pormenores a ter em conta pelo seu mediatismo é, quando o Vitória joga; quando o Vitória se desloca fora do seu reduto, seja numa final da Taça, seja num qualquer jogo para o campeonato, e quando as televisões aparecem com os inevitáveis directos e entrevistas de circunstância aos adeptos, antes e depois do embate. Quem fala “pelo Setúbal”; num jogo tradicionalmente masculino? Mulheres. Ferrenhas q. b., de cara pintada, cachecol e bandeira, equipadas a rigor; espontâneas. Por contraste com os apoiantes dos outros clubes, maioritariamente homens, mais ou menos organizados em claques.
Pois é. A “força” do Vitória sempre foram as mulheres. A “alma” do clube e da cidade reside aí.
Atenção pois, ao publicado hoje no jornal cá da terra; o trissemanárioO Setubalense. Dois exemplos de mulheres. Adeptas ou não do Vitória, pouco importa. Importa – e muito – o empreendedorismo; o não virar a cara à luta; o nunca desistir. Dizem-me vocês: não exercem a sua actividade em Setúbal-cidade. Pois não. Mas exercem-na em Setúbal, como nós a entendemos aqui:
“Sou pescadora, agricultora, mãe, mulher… tudo por prazer”
“Não sei quantas somos, mas somos muitas, e fazemo-nos ao mar com os nossos maridos. O Rio é tudo para nós porque nos dá o sustento, e quando chegamos a terra ainda temos os filhos, a casa e a horta para tratar”. O relato, desassombrado, foi de Fátima Ricardo, pescadora da Carrasqueira, uma comunidade que movimenta muitos casais na pesca.
“Leonor Freitas está orgulhosa por ter arrecadado este prémio, que é o reconhecimento de todo o trabalho que tem sido desenvolvido nos últimos anos e que resulta de muito trabalho de equipa.”
“A história da Casa Ermelinda Freitas mostra que as mulheres foram sempre as grandes impulsionadoras deste projecto e isso está para continuar, pelas mãos da filha de Leonor Freitas.”
Acordei bem disposto e rapidamente fiquei chateado.
O Público publica hoje um excerto do meu post, supostamente sobre o projecto-lei do Bloco para o divórcio. Só que o busílis da questão é que o post não é sobre o projecto-lei, mas sobre o que escreveu Vasco Pulido Valente a propósito do projecto. Convenhamos que é substancialmente diferente…
É uma crítica à argumentação machista-paternalista-classista usada pelo senhor Vasco Guedes. Só que, ao ler o bocadinho fora do contexto publicado pelo Público, fiquei com a impressão que o Der Terrorist era contra o projecto-lei (ou foi só impressão minha?!).
Salva-se o facto de que agora haver um link para o blogue, e as pessoas sempre podem ler o resto; o que falta. Aquelas que se derem ao trabalho; que estiverem para aí viradas. Ficam a faltar as outras…
«O Mais Gasolina é um directório interactivo de postos de abastecimento de Portugal, com a localização de vários postos, o preço actualizado dos combustíveis e outras informações úteis aos automobilistas.»
“O domingo é um dia consagrado à família, quer os portugueses queiram quer não queiram. Claro que, graças ao projecto de lei do PS, os portugueses poderão agora dissolver a família sem culpa. Ficarão sem nada para fazer ao domingo à tarde.”
A continuação do texto que, hipocritamente, João Miranda não escreveu é: “Ficarão sem nada para fazer ao domingo à tarde, e, alegremente, irão passear até ao Hipermercado” De cuja abertura aos domingos João Miranda é um acérrimo defensor. Para aqui a família já não é chamada…
Ainda sou do tempo em que o PCP não era chinês nem maoísta. Isso era coisa dos éme érres, dos pê cês éme éles; do Durão Barroso e Pacheco Pereira, José Lamego e Maria José Morgado, do José Manuel Fernandes, e de um grande etc. que continua a pulular fresquinho pela vida política activa, aqui no rectângulo.
O maoísmo estava ao serviço da direita e da reacção – segundo o PC. No que à direita diz respeito, reconheço que não falharam muito…
Por isso faz-me grande confusão a novel costela maoísta da Soeiro Pereira Gomes. Quem diria que, ainda assim, Álvaro Cunhal era o melhor de todos eles?!
Eu, a falar sozinho: Ah a Albânia!.. O Farol do Socialismo na Europa!
Divórcio; projectos-lei do PS e do Bloco? Uma questão de classes. Especificamente, “classe média próspera”. Beneficia o homem, porque em média ganha mais que a mulher. Os outros, os que sobram, idem idem, aspas, aspas. O mercado de trabalho favorece o homem e desfavorece a mulher. A mulher fica com os filhos. Machismo? Não. Mais uma questão de honra e moral; qual cavaleiro da Távola Redonda; qual Sir Thomas Malory e o Código dos Cavaleiros! Proteger e cuidar da Senhora até ao último sopro de vida.
Ele, Vasco Guedes, pode divorciar-se. Não uma; não duas; nem três; mas quatro vezes! Uma questão de classes. Ele e as ex-wifes pertencem a outra classe; alta / média-alta onde o homem já se libertou dessa coisa do “apoio à família”e da “protecção à Senhora”. A mulher ganha bem. Tão bem quanto o homem; e deve ter cérebro. (Tanto ou mais que o homem?). Sempre o homem…
Machismo? Não. Uma questão de classes. E dentro das classes o tal cavaleiro medieval que, se preocupa não só com a Senhora, mas também com a estabilidade das classes inferiores.
Adenda: Não deixa de ter a sua piada ver um divorciado – Pedro Santana Lopes – votar contra o projecto-lei do divórcio a pedido de um dos cônjuges. Não deixa de ter a sua piada, Luís Filipe Menezes – outro divorciado – mostrar reticências ao mesmo projecto-lei. Também uma questão de classes? Sempre há quem se livre destes incómodos e vá casar a Las Vegas. Outra vez as classes!
Quando para justificar o não-direito à autonomia do Tibete, se apresenta como argumento a possível desintegração daChina; se dá como exemplo o fim da União Soviética, e se escreve:
“União Soviética, destroçada também pela ingerência externa na convivência exemplar que soube construir, continua a ser um exemplo de como o imperialismo sabe ganhar com a desunião dos povos”
Nesta “convivência exemplar” e “união de povos” que era a União Soviética estamos a falar do quê? Do reinado de Estaline e das transferências e migrações forçadas de nações inteiras nos anos 30 e 40 do século XX?
A título de exemplo:
- 380 00 Polacos/judeus em 140/41
- 366 000 Alemães do Volga em 1941
- 366 000 Chechenos em 1944
- 200 000 Meskhets em 1944
- 183 000 Tártaros da Primeira 1944
- 134 000 Inguches em 1944
- 45 000 Finlandeses da região de S. Petesburgo 1942
Estamos a falar dos "entre 54 milhões e 65 milhões de pessoas (aproximadamente um quinto da população soviética num total de 285 milhões de pessoas) que viviam fora das respectivas entidades nacionais e administrativas"? (Link)
Ou estamos a recordar o Holodomor ou AGrande Fome na Ucrânia e região Kuban no Cáucaso do Norte; o processo de colectivização forçada que implicou a deportação de 2, 8 milhões de pessoas das quais 340 000 eram ucranianas?
Estamos a falar nos povoamentos forçados do Cazaquistão e Sibéria onde os cálculos apontam para 500 000 deportados mortos pelo trabalho extenuante, frio e fome?
Estamos a falar dos cerca de 400 000 camponeses enviados para os Gulag às ordens Menzhinsky, onde cerca de 30 000 foram executados sumariamente?
E podíamos continuar por aí fora. Fazer até um blogue só para a ex-União Soviética. Para o camarada Mao, o rei incontestável do genocídio e da repressão, um só blogue não chega; fica para outra ocasião.
Grande união de povos e de convivência exemplar era a União Soviética! Assim que puderam decidir por si, os povos, mandaram às malvas a União e a convivência e, foi cada um às suas. O mesmo se havia de repetir na terra do “inimigo de estimação de Estaline” – Tito; só que aqui a desunião e o fim da convivência exemplar foi, e continua a ser, muito mais dolorosa.
O que realmente importa é: os povos têm ou não o direito a autodeterminação e independência, seja em Timor; no Saara; no Tibete; no Kosovo; ou no País Basco? Ou as conveniências políticas dão direitos a uns, na mesma medida que os retiram a outros?
- “exorciza el resentimiento paternal con la fórmula del parricidio simbólico”
- “un tipo de personalidad patológica y peligrosa”
- “tiene una similar relación infantil con el poder y con el sexo femenino”
- “padece una sobrevaloración de la potencia fálica, que se resiente del síndrome de la exclusión, que recurre a la violencia de la palabra y que es un hiperactivo incorregible”