"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Juan Cruz Maiza Artola, “número três” na hierarquia da organização terrorista ETA, e responsável pelo aparelho de logística dos separatistas bascos, descoberto e preso por ter alugado uma casa a um polícia.
É raro encontrar um nome tão bem escolhido e que assenta que nem uma luva na pessoa: Juan Artola. Que grande Artola(s)!
Campanha publicitária promovida pela Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite: “O leite ajuda a crescer. Tem judo, tem manobras de skate, tem força que chegue para aquele grandalhão do 6.º B”.
Quando era puto, os grandalhões do 6.º B eram aqueles que bebiam leite, mas levavam nas orelhas do pessoal do Bairro Santos Nicolau e das Fontaínhas, que não bebia leite. Bebiam café de saco, com borras e tudo!
A GNR de Albufeira colocou grades de ferro em todas as janelas do posto de atendimento. “Guardam-se a si próprios” comentou o presidente da Câmara. “Quando os guardas se fecham numa casa com grades, que ideia de segurança podem transmitir aos restantes cidadãos?”, perguntou Xavier Xufre ex-presidente da autarquia.
E quando um padre manda instalar um pára-raios no telhado da igreja, como é o caso de Albufeira? Qual é a ideia que passa aos seus paroquianos?
O bispo de Aveiro vai, durante o mês de Agosto, organizar encontros pastorais nas praias e termas da diocese.
Muito antes dele, houve alguém na Igreja Católica que pregou para os peixes; com a escassez de pescado a afectar a costa portuguesa, temo que nem essa audiência D. António Marcelino vá ter. Também em tempos o PC teve a ideia peregrina de efectuar sessões de esclarecimento nas praias. Perante as perspectivas de linchamento dos oradores pelos banhistas, ou na melhor das hipóteses, o enforcamento no andaime da Bola de Nívea, depressa a ideia foi posta de parte.
Quem o diz é Eduardo Simões, director-geral da Associação Fonográfica Portuguesa (AFP), nas Alegações Finais no DN de hoje. E desenvolve: «Em conferências internacionais têm sido dados exemplos de financiamentos de terrorismo a partir da pirataria. Os casos mencionados foram, em conferências a que assisti, O IRA e, mais recentemente a Al-Qaeda. Nos ataques do 11 de Março, em Madrid, foi apreendida uma carrinha cheia de capas de CD pirata. (…)».
Acredita quem quer. Esta não engulo, e, confesso, estive quase tentado a dar a este senhor o troféu O Verdadeiro Artista.
A seguir ao 11 de Setembroem Nova Iorque, foram publicados vários relatórios com origem na Mossad e na CIA, que desmontavam as origens dos financiamentos ao terrorismo. Eram eles, por esta ordem: As colectas efectuadas nas mesquitas após as orações, o tráfico de droga e de armas, e, imagine-se (!) a especulação bolsista, depois apareciam financiamentos mais ou menos descarados provenientes de famílias árabes ricas.
Revolta-me a hipocrisia de pessoas como o director-geral da AFP, ao afirmarem que com a pirataria «Está em causa o modo de vida de artistas, músicos, actores, editores…», e revolta-me ainda mais a hipocrisia dos «artistas, músicos, actores» ao pactuarem com estas declarações. É mais que sabido que os artistas ganham uma ninharia, uma miséria, nicles, com os chamados royalties sobre as vendas dos seus trabalhos. A grande fatia do lucro vai parar às mãos das editoras e das lojas revendedoras – tipo FNAC’s. Onde os músicos ganham algum dinheiro é, com os direitos de autor recebidos das rádios e televisões de cada vez que a sua música ou o seu trabalho é apresentado, e dos espectáculos ao vivo.
Meus amigos; não sou consumidor de CD’s. Continuo a preferir o vinyl; e, vinyl como é sabido, não dá azo a piratarias. Mas uma coisa vos asseguro; uma certeza vos deixo: se o entendimento sobre “financiar o terrorismo” for contribuir para que as grandes editoras e revendedoras deixem de ter os lucros astronómicos que têm à custa do trabalho criativo de terceiros; eu vou começar a financiar. Vou começar a comprar CD’s piratas.
No dia 19 de Julho insurgi-me aqui, contra os erros sistemáticos nos enunciados das provas de exame. É já uma tradição. E perguntava eu:
«Senhora ministra da Educação: uma vez que, e segundo o director do Gave , «este é um trabalho de equipa», com os péssimos resultados por todos conhecidos, não será de aplicar aqui a lei do despedimento colectivo com justa causa?»
Hoje fiquei agradavelmente surpreendido ao ler no Diário de Notícias que: «Os autores dos exames nacionais em que o Ministério assumiu a existência de erros (...) não voltarão a ser convidados a participar na elaboração de provas. A garantia foi dada ao DN pelo secretário de Estado a Educação, Valter Lemos, (...) "Com certeza (que quem cometeu esses erros) não será convidado, como é evidente", disse o secretário de Estado, (...)»
Nem tudo são más notícias na educação. No entanto manda a prudência, aguardemos pela próxima época de exames. Até lá, o benefício da dúvida para o ministério, pelas intenção em resolver a coisa.
Dois acontecimentos, duas notícias. Hoje. Exemplo dos dois condimentos, aparentemente opostos, mas essenciais à composição e construção desta espécie que dá pelo nome de Português. Depois de devidamente amassados e fermentados por quase 900 anos de história.
A primeira componente: O Zé Mula.
- A PJ e a ASAE numa operação conjunta encerram três sites portugueses que se dedicavam à partilha de conteúdos – filmes, músicas, jogos, programas, etc. – sem o correspondente pagamento de direitos de autor. Os sites davam pelos nomes de btuga, zetuga,zemula.
Lapidar! Podíamo-nos ficar só pelos nomes de baptismo dos sites e não era preciso dizer mais nada. O Tuga, espécie de troglodita “chico-esperto”, que invariavelmente se chama Zé “qualquer coisa” e é Mula, no sentido de manhoso e ardiloso, sempre com estratagemas a roçar a ilegalidade, para contornar a lei e dar a volta ao sistema.
A segunda componente: A Virgem Enganada.
- Uma portuguesa de 38 anos, imigrante na Escócia. Mal fala inglês e não pesca nada de informática. Durante três meses manteve relações sexuais forçadas com um escocês de 63 anos que se fazia passar por agente secreto. O 007 forjava e imprimia e-mails devidamente traduzidos para português, que entregava à vítima. Neles constava que agências governamentais de Portugal e do Reino Unido a tinham seleccionado para dar prazer ao espião e, caso não seguisse as ordens do Scotsman, ela, a sua família e os amigos seriam mortos. Se tentasse escapar o avião ou o meio de transporte usado explodiria. O caso começou esta semana a ser julgado no tribunal de Edimburgo.
O português: mais totó que anjinho. Não obstante nunca ter visto o mar, e nem sequer a língua pátria saber falar, mete-se à aventura por esse mundo fora à procura do El Dorado; aparece com frequência nos noticiários a queixar-se que trabalhou sem receber, ou que fez trabalho-escravo. Às vezes dá-se bem, outras nem por isso.
Quer um – O Zé Mula -, quer o outro – A Virgem Enganada -, despedem-se sempre do seu interlocutor com um “Até amanhã se Deus quiser!” e “Saudinha a todos é o que eu desejo!”.
Foi assim que chegámos à Índia. Foi assim que descobrimos o mundo. Foi assim que inventámos a globalização. Foi assim que nos tramámos. Ficámos nessa zona semi-obscura que, melhor que ninguém conseguimos definir, e que se denomina “lá”. Ficámos lá. No entretanto, os “outros” partiram para outra.
A Reader´s Digest promoveu um “teste mundial de honestidade”. Consistiu em deixar telemóveis, estrategicamente “perdidos”, em locais públicos de 32 cidades. Depois, o jornalista telefonava para o número e avaliava a reacção de quem o “achava”; Se o devolvia ou não. Lisboa ficou muito mal classificada. 28.º lugar em 32 metrópoles. Pior que “nós” só Amesterdão, Bucareste, Hong Kong e Kuala Lumpur.
Faz agora precisamente um ano, acabava de estacionar o carro em Cartagena e piso um Nokia 6630. Olé! Adoro esta cidade! Pensei eu com um largo sorriso de orelha a orelha. Ainda nem sequer tinha fixado bem a cor do aparelho e não é que ele toca?! Atendi e era o dono. Acabei por deixar o dito cujo no Posto de Turismo junto à Muralha Púnica, não sem que antes o tenha atendido mais duas vezes, para tentar explicar a uma qualquer Dolores que não parava de me chamar “Cariño”, que eu não era o seu namorado, sim mas um turista que tinha achado o aparelho.
Se fosse hoje, e depois de ter lido esta notícia, não entregava o telemóvel. Juro que não entregava. Mais que não fosse só para chatear o Saramago!
O PS da luta pela liberdade, que José Sócrates invoca quando lhe convém, assina hoje no Público uma página inteirinha e mais um pedaço de outra. Para ler com atenção.
«Não posso ficar calado perante alguns casos ultimamente vindos a público. Casos pontuais, dir-se-á. Mas que têm em comum a delação e a confusão entre lealdade e subserviência. Casos pontuais que, entretanto, começam a repetir-se. Não por acaso ou coincidência. Mas porque há um clima propício a comportamentos com raízes profundas na nossa história, desde os esbirros do Santo Ofício até aos bufos da PIDE. Casos pontuais em si mesmo inquietantes. E em que é tão condenável a denúncia como a conivência perante ela.
Não vivemos em ditadura, nem sequer é legítimo falar de deriva autoritária. As instituições democráticas funcionam. Então porquê a sensação de que nem sempre convém dizer o que se pensa? Porquê o medo? De quem e de quê? Talvez os fantasmas estejam na própria sociedade e sejam fruto da inexistência de uma cultura de liberdade individual.
Sottomayor Cardia escreveu, ainda estudante, que “só é livre o homem que liberta”. Quem se cala perante a delação e o abuso está a inculcar medo. Está a mutilar a sua liberdade e a ameaçar a liberdade dos outros. Ora isso é o que nunca pode acontecer em democracia. E muito menos num partido como o PS, que sempre foi um partido de homens e mulheres livres, “o partido sem medo”, como era designado em 1975. Um partido que nasceu na luta contra a ditadura e que, depois do 25 de Abril, não permitiu que os perseguidos se transformassem em perseguidores, mostrando ao mundo que era possível passar de uma ditadura para a democracia sem cair noutra de sinal contrário.»
“O aborto não será, com certeza, a primeira decisão de uma mulher porque é contra-natura. A função das mulheres é, precisamente, a da procriação. Julgam que elas precisam de uma qualquer lei do Governo socialista para executarem decisões que têm de tomar na sua vida. Até à data qualquer mulher que tinha de tomar essa decisão não deixava de a tomar… tomava as suas providências e fazia-o lá fora.”
Rafaela Fernandes, deputada do PSD à Assembleia Regional da Madeira.
Habitualmente este é um tema que fica a cargo do meu vizinho aqui do lado. Uma vez que o posto se encontra encerrado para descanso do pessoal, aqui fica a notícia (mas só deta vez!): Já está nas bancas o número de Agosto da Wallpaper
É sabido que cada vez mais, os pais passam cada vez menos tempo com os filhos. É a chamada “vida profissional”, em contraponto à “vida familiar”, ou, em como é possível haver mais vida para além da vida; mas isso são contas de outro rosário… As consequências dos filhos crescerem desacompanhados e ao “Deus-dará” – abandono escolar, delinquência, drogas – são por demais conhecidas e já foram mais que esmiuçadas em tudo quanto é sítio, desde jornais a televisões, livros editados e uma legião de novas profissões que surgiram recentemente e que se encarregam de acompanhar pais e filhos; é o apoio familiar, com os psicólogos à cabeça. Outra forma de ganhar a vida, para além da vida; que também são contas de outro rosário.
Ontem o ministro do Trabalho e da Solidariedade, Vieira da Silva, afirmou «estar empenhado em promover o alargamento do horário de funcionamento dos infantários de modo a facilitar uma maior conciliação entre a vida profissional e familiar (…)» Diário de Notícias. Não sei, sinceramente, qual a ideia – e se é que tem alguma – de conciliação entre as “duas vidas” que vai na cabeça do ministro. Alargar o horário de funcionamento dos infantários pressupõe à partida que as crianças vão ficar mais tempo fora dos pais. E porquê a necessidade deste alargamento de horário? Porque os pais vão estar mais tempo a trabalhar. Do que na realidade se trata é de tirar vida familiar às famílias, para dar vida de trabalho às empresas. São coisas diferentes. Com esta medida, o que se está a dizer aos portugueses, é que podem ficar tranquilos a trabalhar, se preciso for até à noite, porque há um sítio onde podem deixar as suas crianças depositadas; porque na grande maioria dos casos, aquelas coisas que dão pelo nome de infantário e creche é disso mesmo que se tratam: depósitos de crianças. Se houvesse a vontade de conciliar a vida profissional com a vida familiar incentivavam-se as empresas a disponibilizar esses equipamentos, como aliás acontece no “país fetiche” do nosso Primeiro – a Dinamarca, para que os pais ficassem o mais tempo possível junto dos filhos.
Se houvesse a real intenção de conciliar a vida profissional com a vida familiar; se houvesse a real intenção de combater o abandono escolar, a delinquência juvenil, o consumo de drogas, etc., etc., etc., estas medidas estavam a ser promovidas e direccionadas para o momento em que as crianças entram no primeiro ciclo, que é a altura crítica da formação do individuo, e não para os infantários e creches. Assim não passa de mais um “momento-Chávez” na vida deste Governo.
É o que dá misturar num mesmo ministério Trabalho e Solidariedade.
«Salas preparadas para as tecnologias da informação, câmaras e cartões electrónicos à la Orwell. Tudo isto numa escola cada vez mais ‘off’ no que diz respeito à Educação. Agora procura-se alcançar progressos pedagógicos, depois de se ter criado uma geração de professores-entertainers.»
Y. Araújo, na secção SMS do Diário de Notícias, em que os leitores enviam mensagens por telemóvel.
Neste fim-de-semana que passou houve um acontecimento que veio relatado nos jornais, naqueles quadradinhos no canto inferior da página; aquelas notícias que quase ninguém lê. Dizia que em S. Pedro do Sul tinha decorrido um encontro organizado pela Confederação Nacional de Acção sobre Trabalho Infantil. O encontro juntou jovens entre os 12 e os 16 anos que condenaram a participação de crianças em novelas e séries de televisão e alertava para o incumprimento da legislação em vigor e consequente exploração dos jovens nessas situações.
Ontem no telejornal, aparece-me o nosso Primeiro acompanhado pela ministra da Educação em mais uma acção de campanha; como Pacheco Pereira diz: “o momento-Chávez” do dia. Era a apresentação – mais uma… – do programa “Escola – Plano Tecnológico da Educação”. Tudo corria sobre rodas até que essa espécie humana irritante que dá pelo nome de jornalista se lembrar de desatar a entrevistar as criancinhas. “Estou inscrito numa empresa que é a NBP. Telefonaram lá para casa e eu vim…” disse um dos entrevistados, “Quanto é que vens ganhar?” pergunta o jornalista, “30 euros” responde o puto.
Para começar não está mal. Mesmo nada mal. Já há alguém a ganhar umas coroas com o QERN e com o PTE. E não são os putos. Esses só ganharam 30 euritos. O senhor Nicolau Breyner da NBP por cada 30 que pagou, no mínimo o dobro ganhou, porque é assim que funcionam as empresas de trabalho temporário. Resta-nos a consolação de ao menos desta vez sabermos para que bolsos vão os milhões que a União nos “oferece”.
Poderíamos ser levados a pensar que ultimamente nada corre bem a Sócrates. Primeiro foram os figurantes vindos do Alandroal e Cabeceiras de Basto para a festa do António Costa. Agora os figurantes para a festa de Maria de Lurdes Rodrigues. Desenganem-se! Está encontrada a panaceia para o abandono escolar. 30 euros por cada dia na escola. Preparem-se para reabrir as escolas encerradas no interior do país por falta de alunos! A isto some-se os novos incentivos à natalidade e daqui por 20 anos seremos 30 milhões. No mínimo.
Adenda: Acho que me vou matricular num qualquer curso nocturno.